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Paraibano da Capital. Tocador de violão e saxofone, tenta dominar o contrabaixo e mantém, por pura teimosia, longa convivência com a percussão, pandeiro, zabumba e triângulo. Escritor, jornalista e magistrado da área criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba.

A mãe de Cidão

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publicado em 02/12/2024 ás 16h16
atualizado em 02/12/2024 ás 16h17

Certas canções fazem muito sucesso, mesmo quando sua letra é mal entendida pelos ouvintes. Não sei como o poeta se sente ao saber que, aquela letra que deu tanto trabalho escrever, envolvendo tanto sentimento, passa a ser cantada com palavras não escritas. Não se fala aqui das paródias, sempre detestáveis e de péssimo gosto. Tampouco, fala-se das letras de duplo sentido. Sem problemas aí, afinal, se o autor compôs com o duplo sentindo, não pode reclamar depois. Não há como esquecer o  genial Genival Lacerda, (foto) com a antiquíssima: “Ele ta de olho é na butique dela” , e , mais recentemente, “Menina me dê o seu UAIFAI (WI FI)”.  Messias Holanda, vez em quando, também se esmerava: “Ô lapa de minhoca, eita que minhocão” .

A questão é , exatamente , a substituição de palavras, por outras não imaginadas pelo compositor. Existem casos clássicos. Cláudio Zoli é sempre afrontado: “Na madrugada a vitrola rolando um blues, TROCANDO DE BIQUINI sem parar”. Ora, quem iria ficar trocando de biquíni sem parar, em plena madrugada? A letra diz que a vitrola está TOCANDO BB KING .

Djavan não deve ter gostado quando todo mundo cantou “AMARELO deserto e seus temores, vida que vai na sela dessas dores” , quando na verdade escreveu: “AMAR É UM deserto…” . Oceano é sucesso até hoje, e o povo continua a amarelar o deserto.

Nem Roberto Carlos escapou dessa provação.

Em 1976 , o rei lançou mais um grande sucesso: Os seus botões. A letra é um suave poema dedicado à intimidade de casal. “Os lençóis macios, amantes se dão, travesseiros soltos, roupas pelo chão.” Provavelmente o monarca jamais pensou que sua  letra poderia ser  mal interpretada por algum ouvinte. Mas foi. Na mesma época, na defesa do Botafogo, reinava um quarto-zagueiro espetacular: CIDÃO , 1,90 de altura por 1 m de largura, verdadeiro paredão de ébano. Craque. Dominava a entrada da área, não deixava passar nem pensamento. Famoso, dominava a crônica esportiva local.

No caminho cotidiano para o colégio, sempre passava em frente da casa de uma senhora humilde, e a via lavando roupas e cantando os sucessos da parada. Tão logo foi lançada “Os seus botões” ela integrou a nova música ao repertório, e soltava a voz: “Os lençóis macios, A MÃE DE CIDÃO, travesseiros soltos…”  Nunca criei coragem para  indagar-lhe  o que a genitora de Cidão estaria fazendo ali.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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