João Pessoa, 14 de dezembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Começar pelo fim é geralmente um bom começo. Talvez. É invulgar não publicar? Não sei. Vamos imaginar que a história que vou contar aqui daria uma péssima adaptação de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez (os exemplos multiplicam-se) e um mal necessário não vira uma boa história (os exemplos continuam a multiplicar-se)
Vamos imaginar que eu teria que escrever um conto. Mas “Conto não vende”, disse o editor ao recusar o original do livro de Dalton Trevisan, que nos deixou esta semana. Ainda sobre o primeiro episódio, invulgar é tudo que pode acontecer. E já aconteceu. Sim, já passamos de Macondo, mas nossa solidão tem mais de cem anos.
Tudo aconteceu na noite de 10 de outubro passado, no Cabo Branco, onde moro. Primeiro, o trecho da minha rua, onde fica nossa casa é contramão e, claro, nem eu posso entrar – tenho que vir pela Avenida Miguel Sátiro e pegar a Rua Paulino Pinto, voltando, no sentido Avenida Epitácio Pessoa – aí chego onde moro. Milhares de motoristas de carros, caminhões e motos, não respeitam isso.
Um (parêntese) Há mais 5 anos tem um carro estacionado com placa de Salvador KNG 5912, do lado direito da nossa casa, mas dona Semob ignora. As irmãs Xuxa e Xutita, que moram na minha rua e não são da família Buendia, fundadora de Macondo, de Cem Anos de Solidão, de Garcia Márquez, rezam noite e dia esperando por Ciobrando, um fulano qualquer, primo de Gregório de Matos, que venha buscar seu automóvel, enquanto estamos a celebrar qualquer coisa, no tradicional jantar da Epifania, onde arrasto meu tamanco.
Vamos direto ao assunto. Os motoqueiros infernais passam na contramão numa velocidade assustadora e, geralmente, são entregadores de iFood etc e alguns são cidadãos ilustres da Idade da Razão, mas Sartre não entra nessa história. E priu.
Pois bem, já era tarde noite quando escutei um estrondo e gritos, que já virou rotina – o motoqueiro vem, não ver o gelo baiano e se lasca no chão, na contramão. Lá vou eu chamar o Samu, que demora, mas chega.
Repito – um motoqueiro entra na Rua Paulino Pinto onde moro, escuto os gritos e vou lá ajudar. Antes, a nossa cadela Casca de Bala (sim, é o apelido dela, o nome de batismo é Jujuba ) – deu uma carreira pra rua, o rapaz da moto foi desviar do animal e tchibum no chão – dei toda assistência, chamei o Samu, mas a cena não morreu ali, nem o motoqueiro, ¡gracias!
A classe mais unida do mundo são os motoqueiros – de repente chegam centenas e ficavam perguntando: “Tudo bem aí, mano? Estamos contigo, viu” e o hu-mano ali levanta o polegar, estirado no asfalto.
Dois meses depois, o cara veio falar que eu tinha que pagar o prejuízo da moto, que tinha sido culpa da nossa cachorra. Foi logo pedindo um pix. Nessa hora olhei para a estátua da liberdade da Havan que tinha desabado.Putz!
A vida tem disso. Acionei a Oficina São Pedro, para resolver o problema causado pela cachorra.
A paz é reconfortante, isso é tudo o que é – os motoqueiros são terríveis, andam juntinho do meio fio, fazem piruetas entre os carros e se danam no corredor dos congestionamentos. Dizem que se a pessoa não paga, mesmo não tendo culpa, alguém vai ter pagar, só não se sabe quando.
A história poderia ter sido contada pelo fim, e se alguém se enterra nela, não sou eu. Paguei o pato.
Kapetadas
1 – A fé remove montanhas, mares, rios, árvores, animais e o Homem.
2 – Fingiu tanto ser o que não era que, no fim, esqueceu quem poderia ter sido. É foda, né?
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