João Pessoa, 16 de dezembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A vida de músico profissional é dura. Vendo assim, não tem quem diga, afinal, o músico está sempre fazendo as pessoas sentirem-se melhores. Ouvir música sendo feita ao vivo, para mim, continua fascinante. Nada substitui, nem os mais modernos recursos da informática, um músico e seu instrumento, no palco.
Infelizmente, nem todo mundo tem a compreensão que ali, naquele palco, está um profissional, que para ousar se apresentar, levou anos se qualificando para o mister . Gostar da apresentação, todo mundo gosta, mas, respeitar o profissional, nem todos se dão ao trabalho.
Já imaginou pedir a um médico, em evento social, que faça um exame físico ali mesmo? É rapidinho, num instante o paciente tira a camisa no meio da festa, o médico examina, faz o diagnóstico e prescreve a medicação, diante dos olhares complacentes dos demais convidados. Tal situação acontece de forma recorrente com o músico. Alguém sempre pede que toque “alguma coisa” , não importando que esteja ali como convidado. Contratar e pagar o cachê que é bom, nada.
Há também os convites com ônus embutido: “Você vai, leva o violão…” Ou seja, o convite para a festa é, na verdade, a contratação de um trabalho que não se pretende remunerar. E a coisa pode ficar pior. Há quem queira contratar de graça: “você pode comer e beber à vontade”. Para esse tipo de convite, há uma resposta ótima: “precisa não, lá em casa tem comida”.
O músico tem que ouvir perguntas como: “Mas, você trabalha com o que mesmo?” Ou seja, aquilo que ele faz, não é trabalho. “Música dá dinheiro?” Resposta: “Não , quem dá dinheiro é pai e mãe”. “Você não pode fazer mais barato?” Para o músico com décadas de trabalho, que vai levar o seu instrumento e o seu som, para tocar 4 horas, e cobrou módico cachê.
Mesmo quando contratado e pago, os infortúnios podem acontecer. As vezes alguém insiste para que toque uma música repetidas vezes, pois, aquela canção mexe com as emoções de quem pediu. E lá se vai o músico, repetindo 6, 7 vezes, agradando um e desagradando os demais.
Lembro de um grande músico, que fazia voz e violão lindamente, e hoje toca para os anjos no céu. Ele tinha bronca com “Divina Comédia Humana” , de Belchior. Mas, para sua infelicidade, alguém sempre pedia que tocasse e cantasse essa música. Ele, profissionalmente, tocava. Mas, se percebia a contrariedade. Um dia, diante de tanto desconforto, indaguei-lhe o motivo da má vontade com tão linda música. “Isso não é música de homem não”. Ué, por que? “Essa história de um aí analista me comeu, sai pra lá” . Segurando o riso, ainda argumentei: Mas , o compositor é homem, nordestino, cearense. “Quero saber disso não, não gosto dessas coi
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