João Pessoa, 17 de dezembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Este tema tem sido pauta do noticiário da imprensa nacional e internacional. Esta é uma questão complexa e que divide opiniões, mas todos concordam que é necessário um melhor controle. Assim sendo, nas últimas semanas o referido assunto foi debatido no Congresso Nacional Brasileiro, já tendo inclusive passado pelas diversas comissões da Câmara dos Deputados, devendo agora a discussão ser estendida ao Senado Federal.
O uso dos aparelhos celulares nas salas de aula também tem feito parte dos debates nas reuniões internacionais, a exemplo dos Encontros de Educação do G20, acontecido recentemente na cidade de Fortaleza/CE, e Reunião Global de Educação, promovida pela ONU, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Segundo o relatório de Monitoramento Global da Educação (GEM, da sigla em inglês), o uso da tecnologia é muito desigual entre os países. Naqueles de renda alta, oito em cada dez adultos conseguem enviar um e-mail com um anexo, mas em países com renda média e ou baixa, como é o caso do Brasil, apenas três em cada dez adultos conseguem tal feito. E mais, segundo o diretor do referido relatório, Manos Antoninis, houve uma queda na aprendizagem dos estudantes em todo o mundo, desde o ano de 2010, e uma das razões disto, segundo o citado relator, é o uso da tecnologia.
O projeto de lei da Câmara dos Deputados, ora em discussão, além de proibir o uso dos aparelhos eletrônicos, também proíbe o simples porte de celular por alunos da educação infantil, segundo o legislador, como forma de proteger as crianças de até 10 anos de idade de possíveis abusos. Contudo, a proposta autoriza, por outro lado, o uso dos citados aparelhos em sala de aula para fins estritamente pedagógicos, em todos os anos da educação básica, e permite ainda o uso para fins de acessibilidade, inclusão e condições médicas.
Devo lembrar, que alguns estados e ou municípios brasileiros já restringem o uso dos aparelhos celulares nas salas de aula, e, certamente, na tentativa de unificar tais medidas, o Congresso Nacional busca agora a criação de uma norma nacional disciplinando o uso destes equipamentos em sala de aula.
É importante reforçar que o referido texto legal abre algumas exceções à proibição, entre estas, autoriza o uso em sala de aula pra fins pedagógicos e didáticos, conforme orientação do docente e dos sistemas de ensino, permite o uso dos citados aparelhos aos alunos com deficiência, mesmo na educação infantil, bem como a partir dos anos iniciais do ensino fundamental.
Sobre tal proibição, o professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, USP, acredita que tal regulamentação tem desafios específicos para cada etapa de escolarização, e que é muito mais fácil realizar tal proibição na educação infantil, e até mesmo nos primeiros anos do ensino fundamental, que nas etapas posteriores de escolarização. Mesmo defendendo que o melhor caminho para combater o uso indevido do celular em sala de aula é a conscientização, o referido docente admite que tal medida não está surtindo o efeito desejado. Segundo o professor Cara, “infelizmente tem pais e mães que acabam cedendo e dando celulares para crianças na educação infantil de 5 anos, 6 anos, o que é de fato um absurdo”.
Um estudo realizado pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, concluiu que o excesso de tecnologia leva a prejuízos na comunicação entre crianças e jovens, problemas no sono, atrasos no desenvolvimento cognitivo entre outros problemas.
O que se pode dizer sem medo de errar, é que a sociedade moderna não consegue mais viver sem a tecnologia, portanto, o que todos os indivíduos, jovens e ou adultos precisam aprender é a disciplinar-se a usar tal ferramenta de forma adequada e devida. O problema é: como nos educarmos a isto? Confesso, ainda não sei, mas vejamos mais algumas afirmações de correntes científicas a respeito deste tema para que cada um de nós possa alicerçar melhor sua opinião. Como já descrito, embora haja divergências, uma parcela de estudiosos afirma que a utilização das telas traz um prejuízo enorme ao aprendizado dos estudantes. Segundo estes pesquisadores, o ser humano tem três estratégias de memorização que foram desenvolvidas ao longo da história, quais sejam: a audição, a leitura e a escrita, sendo esta última bem mais recente. A escrita, quando ela é desenvolvida, é a que gera a maior capacidade de memorização, ficando a leitura em segundo lugar e a audição em último plano. E, segundo afirma o professor Daniel Cara, já citado, “As telas e a digitação coíbem todas elas. A escrita, para ter de fato uma memorização forte, ela tem que ser feita à mão. É assim que se desenvolve a maior capacidade de memorização. Então esse é um ponto. A utilização das tecnologias reduz a capacidade cognitiva das gerações. E, pela primeira vez, nós estamos verificando uma queda de capacidade cognitiva da atual geração”. Conclui o citado educador.
Enfim, a discussão está posta e pertence a toda a sociedade. Pais e mães precisam dar sua parcela de colaboração às escolas impondo limites aos seus filhos em relação ao uso indevido e demasiado das telas em geral, facilitando com isto a tarefa dos educadores escolares no disciplinamento do uso dos aparelhos celulares em sala de aula. Deve-se ter consciência que a função de educar é de pai e mãe, a escola é complemento. Caso o amor e os limites indispensáveis a uma boa educação não começarem na família dificilmente a escola sozinha terá sucesso nessa empreitada educativa.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
ACORDO - 30/01/2025