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Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Carta ao colunista

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publicado em 18/12/2024 ás 07h00
atualizado em 17/12/2024 ás 17h32

 

Senhor colunista,

sou assinante desse que é o mais antigo jornal do estado e leio sua coluna, “Letra Lúdica”, todos os domingos. Confesso que gosto do título, vendo, nele, certa abertura temática.

Se a palavra “letra” pode remeter, em especial, para o universo literário, em toda sua multifária configuração, o termo “lúdica”, penso, deve ser entendido como uma inclinação para certas atitudes nada ortodoxas nem convencionais dentro da gramática jornalística. Além de fazer, provavelmente, um leve apelo a credenciais estilísticas que fogem ao rigor da objetividade.

Ouso até uma possível classificação, se levo em conta a malha dos assuntos, as táticas expressivas, o ritmo tomado, aqui e ali, pela vertigem das aragens poéticas.

O senhor, ora se faz simples observador das coisas ordinárias e me desafia a penetrar nos reinos da rotina e nas pequeninas festas do dia a dia, trazendo para o mapa de sua escrita, fenômenos comuns que também são mágicos, a exemplo de uma imponderável nomenclatura de pássaros, um glossário dos aromas de verão, uma filologia dos espantos, uma minuciosa ciência dos sabores que preenchem o campo das flores, dos alimentos, das palavras.

Aqui é o cronista, colado à luminosidade dos objetos inúteis e, “com os olhos no chão”, atento à sabedoria, à beleza e à eloquência dos pormenores esquecidos. O cronista convicto de que a crônica, apesar do traço prático do tempo que a contamina, nada mais é que uma silenciosa aventura pelos latifúndios da linguagem. Uma espécie de espelho milagroso em que se refrata a realidade invisível das peripécias humanas. Sim, a crônica como o lugar do humano por excelência. A esquina inesperada para os grandes encontros. A toca imperceptível da melhor poesia.

Ora, o senhor viaja pela geografia seletiva da crítica literária e dialoga sistematicamente com seus pares, os de casa e os de fora, vivos e mortos, clássicos e modernos, românticos e realistas, maiores e menores, contumazes e bissextos, tradicionais e inventivos.

Sei que o espaço é curto para a gravidade da crítica literária, gênero ensaístico e reflexivo a exigir, quase sempre, um território mais vasto nas páginas do jornal. E, cada vez mais, os jornais fogem da crítica. Mesmo assim, comprimidos pela necessidade da síntese, análise, interpretação e julgamento se mesclam, em equilíbrio, na tessitura de suas observações, resenhas e comentários.

Gosto principalmente quando o senhor se debruça sobre os escritores da terra, exercitando o calor da capacidade receptiva, explorando a inteligência crítica, revolvendo os acervos históricos, contextualizando a trajetória de movimentos, grupos e gerações que se firmaram ao longo do tempo. Alguns nomes esquecidos vêm à tona, alguma instituição ganha dividendos nas ações culturais, certos livros e certos autores são colocados em destaque, particularmente pelo mérito literário e estético de suas obras.

O senhor parece fazer a crítica com o espírito próprio de quem quer conviver com o fenômeno literário em sua pujança artística, documental, educativa, humanitária. Sua abordagem carrega muito de compreensão e amor pela simbologia desse patrimônio virtual. Nela não cabe o ranço da mesquinharia, do desfavor, da agressão, do personalismo, da fraude retórica, da ironia ferina nem, muito menos, da apologia interesseira ou do falso elogio.

É bom que o senhor também faça outras incursões pelas linhas de sua “Letra Lúdica”. Traga breves comentários, prosa miúda, devaneios esparsos, pensamentos provisórios, aforismas e poemas. Principalmente, poemas.

Se a crônica funciona como o tempo de repouso dentro da ordem severa do pragmatismo jornalístico, quero crer que a poesia, a poesia que se converte na forma memorável do poema, funciona como oásis.

O poema, em preto e branco, no miolo do jornal, em meio a anúncios, notícias, artigos, serviços, entretenimentos, é, pelo menos para mim, amador de poemas, um refrigério, um bálsamo, um êxtase. Até porque o poema, me parece, pode ser compreendido como o mais eficaz e verdadeiro jornal da alma humana. De repente, uma notícia do infinito na dureza ordinária da vida.

Receba meus cumprimentos de leitor.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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