José Nunes
Quando Padre Gaspar Rafael e eu chegamos ao santuário mítico de Pirauá, formado por pedras e vegetação de caatinga, em um final de tarde luminosa e silenciosa, estávamos ansiosos para conhecer o lugar.
A partir de imagens fotográficas, vídeos e pela conversa com amigos, imaginávamos como seria este templo da Natureza, construído pelas mãos do Divino Criador.
Entramos na caatinga, na tarde com invisíveis pássaros nos saudando, o vento seco nos conduzindo pelo chão de pedregulho até o lugar sagrado. Ao redor das pedras, em diferentes formas e tamanhos, a vegetação nativa nos acolhia sorrindo.
A corrente de ar passava entre as pedras separadas por pequenas frinchas como arpejos nunca concebidos aos nossos ouvidos. O vento ajudava a sentir a fragrância das flores possíveis no final da Primavera. Uma indulgência plena à vida na cidade agitada.
Acompanhados pelo guia, um velho senhor da carapinha branca, conhecedor das trilhas e das pedras onde deveríamos pisar, estivemos em cada espaço e ouvíamos as histórias contadas a respeito da Pedra do Pico, conhecida como Pedra de Santo Antônio, onde pessoas revelam seus desejos de encontrar amor eterno.
A vegetação de baraúnas, aroeiras, cumarús, quixabas, embiratanhas, facheiros, cardeiros, xique-xiques, gravatás e outras plantas, soltam aromas para perfumar o lugar. Impossível esquecer da flor que se destacava entre a rudeza do chão, a revelar a exuberância de suas pétalas róseas.
A Pedra do Galo, a Pedra do Navio, a Pedra da Boca, a Pedra Pintada e outras, em menores dimensões, trazem à paisagem um ambiente mítico, elevando o clima emocional dos visitantes, quando se chega à altura dos 770 metros acima do nível do mar.
A visão dos córregos ao longo do Rio Paraíba extasia. Ali, a melancolia fenece diante das cores alimentadas pelas forças cósmicas. Ao pôr do sol, exalava no lugar um cheiro de mirra.
Olhamos as paisagens de pedras e a vegetação, como um poema místico ou uma pintura a inspirar espiritualidade, que ilumina nossa humanidade. Uma união de cores nos comove e emociona.
Não fomos atrás de rastros de civilização antiga, pinturas rupestres, fósseis e outros elementos pré-históricos, muito presentes na região, mas tão somente encontrar a força mítica das rochas de Pirauá.
Neste lugar as almas se comunicam com o Cosmos e conosco, em uma linguagem emocionante e silenciosa. Tudo aguça a sensibilidade para captar a essência misteriosa.
Contrito, junto as mãos em oração. Como um peregrino de pequenos percursos arisco a abandonar certos medos, para se tornar um buscador de lugares nos quais eu possa renascer no entardecer de minha vida.
Em paisagem semelhante, filósofos e místicos encontram a razão de seus comportamentos.
Entrar neste oratório natural é conviver nos encantos da natureza, revelados em cada planta que cresce entre as pequenas pedras, com suas cores diversas, por isso nos comovem.
Ao contemplar o lugar durante o entardecer, as luzes do Sol como abóbada luminosa, abraçando o horizonte, deu vontade de ficar ali, construir um eremitério e, acolhido pelos ventos uivantes e as nuvens que passeiam faceiras, reconstruir o tempo consumido pelas leviandades, que nos fazem escravos sem remuneração. Muitas vezes ficamos receosos de conhecer lugares quando a vida pede para sermos mais leves.
Ainda tomado pela emoção de contemplar aquele santuário natural, tento descrever as emoções proporcionadas pelas paisagens, emoções essas que veem das mãos de Deus, chamando para contemplar paraísos semelhantes.
Agradeço a amiga Sandra Vidal, bióloga que conhece a riqueza do meio-ambiente e a leveza das emoções da paisagem de Pirauá, pela indicação para visitar o lugar.
P.S.: Dedico esta crônica à professora Vera Coutinho.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB