João Pessoa, 19 de dezembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um dos temas mais alarmantes dos últimos tempos é o vício de meninas em pornografia, uma questão que levanta preocupações profundas sobre o desenvolvimento emocional, psicológico e comportamental das jovens ao acessar a internet.
Estudos mostram que o acesso a conteúdos pornográficos está cada vez mais fácil e recorrente entre crianças, inclusive meninas, que, anteriormente, não eram o público majoritário para esses materiais.
De acordo com um levantamento do Journal of Adolescent Health, o número de meninas que relatam exposição a conteúdos pornográficos antes dos 13 anos subiu consideravelmente na última década. Esse aumento está vinculado ao crescimento das redes sociais, plataformas de vídeo e conteúdos de fácil disseminação, que muitas vezes aparecem de forma acidental ou com baixa supervisão dos pais.
Gail Dines, socióloga e pesquisadora em pornografia, alerta que os danos psicológicos do consumo precoce de pornografia promove uma visão distorcida das relações sexuais e afetivas, além de reforçar padrões de comportamento prejudiciais para a construção de uma autoestima saudável.
A exposição a conteúdos pornográficos na infância pode gerar o que muitos pesquisadores denominam de “desvios comportamentais”, uma série de reações e atitudes influenciadas pelo tipo de conteúdo consumido.
Crianças e adolescentes que consomem pornografia desde cedo tendem a apresentar comportamentos mais agressivos, problemas de relacionamento e uma objetificação de si mesmas e de outras pessoas.
Esse consumo influencia diretamente a formação da autoimagem e da identidade sexual de meninas. Essa visão distorcida de si mesmas, com foco excessivo na aparência e no valor sexual, passa a ser confundido com aceitação e afeto.
Isso é especialmente preocupante porque meninas em fase de desenvolvimento estão construindo suas identidades e, ao assimilar ideias inadequadas sobre o próprio corpo e a própria sexualidade, podem comprometer a autoestima e o bem-estar a longo prazo.
Outro ponto importante é a relação entre consumo de pornografia e o aumento de comportamentos hiper-sexualizados. Meninas que consomem conteúdos adultos com frequência tendem a reproduzir atitudes e expectativas que não condizem com a fase de desenvolvimento infantil. Esses desvios comportamentais incluem desde tentativas de imitar o que foi visto até o desenvolvimento de atitudes de risco, como uma sexualização precoce de si mesmas, o que pode atrair situações de exploração e assédio.
O vício em pornografia durante a infância e adolescência está associado a problemas de saúde mental que podem se agravar com o passar dos anos. A exposição repetitiva a conteúdos explícitos estimula o cérebro a liberar grandes quantidades de dopamina, o neurotransmissor relacionado ao prazer.
Com o tempo, essa sobrecarga afeta o desenvolvimento do sistema de recompensas do cérebro, tornando difícil encontrar satisfação em atividades comuns e saudáveis, como hobbies ou interações sociais.
Segundo estudos do Centre for Mental Health Studies, crianças e adolescentes que consomem pornografia de forma compulsiva têm maiores taxas de ansiedade e depressão. Essa relação se deve, em parte, à sensação de culpa e vergonha associada ao comportamento, além das cobranças internas e da pressão para corresponder a padrões irreais de beleza e desempenho vistos nesses conteúdos.
Como a Sociedade e a Família Podem Ajudar?
É crucial que a sociedade, incluindo educadores, familiares e profissionais de saúde mental, compreendam os riscos do consumo de pornografia para meninas e tomem medidas para combater esse problema.
A falta de diálogos abertos sobre sexualidade e o controle ineficaz do que as crianças acessam na internet são fatores que contribuem para a exposição precoce e para o vício em conteúdos adultos.
A educação sobre o uso responsável da internet e dos dispositivos digitais é um ponto de partida.
Crianças e adolescentes devem ser ensinados a entender os perigos do consumo de pornografia, assim como devem ser orientados sobre temas de sexualidade de forma adequada para a idade.
Sempre falo aos pais você esta pronto para falar sobre pornografia com seu filho ou filha? Se a resposta for negativa ainda e muito cedo para dar uma tela na mão deles.
Dentro do lar, a supervisão do que é acessado na internet, aliada a um diálogo aberto, são medidas essenciais.
Estabelecer um ambiente onde as meninas se sintam seguras para discutir o que veem e questionar padrões é um dos caminhos mais eficazes para a construção de uma autoestima positiva e saudável.
O vício em pornografia entre meninas é um problema que deve ser enfrentado com seriedade e responsabilidade. Compreender os danos que o consumo precoce de pornografia causa no desenvolvimento das meninas é o primeiro passo para que a sociedade desenvolva estratégias de prevenção e educação que as protejam. Sem isso, o impacto do vício poderá gerar problemas psicológicos, sociais e emocionais, comprometendo o futuro e o bem-estar de uma geração.
Para mitigar esses efeitos, é essencial que família, escola e profissionais da saúde mental trabalhem em conjunto, promovendo o fortalecimento da saúde emocional e da autoestima das jovens.
Criar ambientes onde o dialogo é seguro sobre o uso consciente da internet pode ajudar meninas a crescerem livres de padrões nocivos, permitindo que se desenvolvam em sua totalidade e autonomia, sem se verem presas a uma realidade de consumo desnecessário e prejudicial.
Maria Augusta Ribeiro especialista em Netnografia e Comportamento Digital
@gutabelicosa
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
TURISMO - 19/12/2024