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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Somos todos de Macondo

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publicado em 22/12/2024 ás 08h28
atualizado em 22/12/2024 ás 11h05

O melhor da série ´Cem Anos de Solidão´ (Netflix), da obra de Gabriel Garcia Marquez, é que cada um se identifique com seu personagem. Estamos todos lá em Macondo e somos chineses. E quando não somos, é porque acreditamos em tudo, mas somos chineses.  Na Língua Bantu, Macondo quer dizer banana.

Refastelados no veludo e no inferno, divididos em muitos personagens, funcionamos igual a família Buendía, como peças de dominó que, ligando-se entre si, se desdobram em formulações trágicas e surreais. Uma boa dica é visitar o bar do Catarino no centro de Macondo, onde rolam farras homéricas e gozos.

É isso o que somos e é exatamente o que o escritor Gabriel Garcia Marquez mostra na pacata vida das famílias que moram em Macondo. Lá, só os animais não falam, mas segundo a mãe de Úrsula, se ela se casasse com o primo José Arcadio Buendía e casou, os filhos nasceriam iguanas ou com rabo de porcos. Breu com cola.

Não somos nem mais, nem menos sabidos que a população de Macondo –  os externos da família Buendía, Melquíades, Pilar Ternera, Rebeca, Petra Cotes, Pietro Crespi, Maurício Babilônia, Fernanda del Carpio e Santa Sofía de la Piedad, são um show à parte. Somos todos Aurelianos Buendía.

Cá nos trópicos temos Santinos, Rafafás, Padre Albenyr,  Agá Bobô, Alexandre do Sindicato, Dinho Papa Léguas,  Márcio da Eletropolo, Severino da Prestação, Sargento Wellington Cobra, Toinho do Sopão e Tony Show, aliás, tome show! E tem a familia Caveira, Zé Caveira Caveira Seca Sovaco e Dona Caveira Peruca.

Somos sim, mal vistos na fita, elegemos representantes que roubam e matam, mas fazemos cenas de chiliques desde sempre a toda espera pelo futuro, aconchegados no luxo e na miséria –  do calor bacorinha a mão boba e não se engane, o inferno é aqui.

Fantástico o cigano Melquiades que ao visitar Macondo com inventos e mercadorias de diversos lugares do mundo, escreve os pergaminhos que preveem a história da família Buendía, traduzidos por Aureliano Babilônia, mas por culpa de Melquíades, José Arcadio Buendía enlouquece e é amarrado numa árvore.

Só não tem remédio em Macondo e a única personagem com esse nome (Remédios) é morta envenenada – por aqui temos remédios em abundância para dormir, acordar, não brochar e morrer.

Somos todos severinos, granfinos e adoidados, somos papangus, lombrigas, raparigas de soldados e somos tarados, somos do fim mundo. Somos Zefas e Titocas, somos penicos e panelas. Somos apenas maior um pouquinho que Macondo.

O livro ultrapassa o tempo contido na série e desperta coisas incríveis, casamentos inusitados, que se desenroscam em velhas questões banais, até primitivas, afastadas da razão ou metafísica. Está tudo está em Macondo e tudo é espelho de nós.

Candeeiros, coronéis, cadáveres e lorotas. Para exagerar excessivamente a imitação da vida, ninguém tem câncer em Macondo, mas tem cartomante, cigarrinhos e os capitães de areia disfarçados de Jorge Amado, em plena guerra. Lá, o gozo fala pelos cotovelos que vai de encontro com a temperatura, a mulher macia, a cama quente, o desejo de cada um.

O prazer da personagem Rebecca em comer terra, é uma cena que desorganiza o indiferente da sopa de pedras que ainda hoje é servida na miséria brasileira e os aurelianos se multiplicam. Somos todos de Mocando, não tem saída

Kapetadas

1 – Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos para a cela VIP com ar-condicionado da Vila Militar.

2 – Meu vizinho Ulisses, o que cria um Urubu teve uma boa ideia. Está usando capacete de moto dentro de casa para se proteger de quedas

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