João Pessoa, 23 de dezembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Minha dezembrite

Comentários: 0
publicado em 23/12/2024 ás 07h00
atualizado em 22/12/2024 ás 19h45

Por estes dias, estava “zapeando” pelas minhas redes sociais e me deparei com um termo novo,  associado às festas de final de ano e utilizado especialmente pelos psicólogos e psicanalistas para definir sentimentos que acometem algumas pessoas nesta época específica do ano. “Dezembrite”. Você já ouviu falar? Se não, possivelmente, já sentiu. Também chamada de Síndrome do Fim do Ano, não é uma condição rara e acomete boa parte da população todos os anos.

Sintomas como a pressão na hora da escolha dos presentes, que envolve a angústia relacionada ao medo de não agradar ou ser inadequado; as comparações sociais refletidas nas melhores e maiores festas familiares, na melhor viagem de férias ou na ausência delas; os conflitos familiares que tornam incômodo o encontro com aquele parente desagradável; a solidão imposta ou escolhida; a sobrecarga financeira, enfim… Eu, você, todos nós, em algum momento, já sentimos o reflexo de algum ou vários desses sintomas no decorrer da vida adulta.

Tenho muitas recordações da minha infância. Memórias que me remetem a diversas datas específicas. Mas não guardo muitas memórias infantis relacionadas ao Natal. A maioria das recordações que trago,  atreladas à esta época do ano, foram forjadas na minha vida adulta, principalmente depois do nascimento do meu primeiro filho. Recordações de festas em família, de troca de presentes, de decoração de árvore de Natal… nada disso existiu antes para mim. Quando vieram, era tudo maravilhoso e simples. Eu tinha tudo de que precisava.

Mas, então, a bendita dezembrite resolveu aparecer. Pessoas se foram e, no lugar delas, surgiram sentimentos ou simplesmente lugares vazios no coração e na mesa da ceia de Natal. Tornou-se inevitável comparar as minhas celebrações com as daqueles que ainda podem usufruir da mesa repleta de entes queridos. Por outro lado, pequenas preocupações deixaram de fazer sentido. Já não me preocupo se não há presentes ou se a árvore está suficientemente iluminada. Tudo que me preocupa agora é manter acesa em meu coração a centelha da esperança de que, com luzes ou sem elas, com presentes ou sem eles, estarei de pé, bem e saudável para aqueles a quem amo e a quem ainda tenho.

Não cabe mais dezembrite. Não restam preocupações ou comparações materiais. Quero estar presente e quero os meus amados presentes, ao meu lado. Com fartura ou na escassez. Apenas juntos. Eu, eles e o aniversariante.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

Leia Também