José Nunes
Quando chegava dezembro, o mês das festas, íamos à capoeira buscar os galhos de árvore para mamãe montar a árvore do Natal, como fazíamos anualmente.
Ao alvorecer do novo ano, nossa residência era preparada com simplicidade. Todos os cômodos da casa eram caiados de branco.
Para lembrar a data do nascimento do Menino Jesus, a ornamentação consistia, basicamente, em uma árvore enfeitada com algodão e uma mesinha no canto da sala onde depositavam-se imagens de barro representando a Sagrada Família, com o Menino na manjedoura, alguns bois e carneirinhos.
O ambiente preparado, todos aguardavam a noite gloriosa para participar da missa campal em frente à Igreja, como acontecia todos os anos.
O pequeno espaço arrumado com esmero, cuja simplicidade trazia uma paisagem de alegria. A sala era iluminada pela lamparina de querosene colocada em um suporte de tábua fixado na parede, que deixava o ambiente melancólico.
Na festa de aniversário de Jesus, não tinha troca presentes ou peru assado, pouco se rezava, mas havia um Terço junto do presépio. Todavia, só em perceber o Menino Jesus, sua mãe Maria e José, junto aos animais com os três Reis Magos naquele recanto da sala, dava uma impressão de que coisas boas aconteceriam no ano que estava por vir.
O grande momento aguardado por nós, crianças ficando taludas, era a festa de final de ano na cidade. Oito dias de festas com direito a parque de diversão, roda-gigante, carrosséis, barracas e pavilhão coberto de palha de coqueiro. Na beira do pavilhão, assistíamos aos leilões de galinhas arrematadas para fartar a mesa do arrematante. Os cordões encarnado e azul disputavam para saber quem elegeria a Rainha da Festa.
Menino do mato, eu observava aquilo e achava interessante. Moças bem vestidas e sorridentes não saiam do meu pensamento.
Com certa antecedência da festa da Igreja, passava pelos sítios comitiva enviada pelo padre para arrecadar donativos para as quermesses, galinhas e frangos que seriam leiloados na festa da Igreja.
Na noite de Natal e na passagem de ano, toda a festa parava de funcionar às 11 horas para a missa campal. Pavilhão, carrosséis, banca de jogos tudo dava uma pausa. Ouvi e vi com esses olhos que a terra há de comer, que, certa vez, quando Padre Aluísio Catão, com paramentos para iniciar a celebração, em altar preparado em frente à igreja, insistia com voz potente na difusora para que os brinquedos parassem. “Vou dar cinco minutos, senão eu mesmo irei parar essa roda-gigante”.
Era uma época em que os padres tinham voz ativa.
Lembrei de uma cena da novela das 18 horas, Mar do Sertão, em que o padre Zezo, interpretado pelo paraibano Nanego Lira, agarra pelo colarinho o dono de uma bodega que explora seus fregueses, e obriga-o a devolver o dinheiro que surrupiou da fabricante de cocadas. Padre é para mostrar que a justiça deve ser feita.
Recordo, hoje, aqueles momentos nas cenas que Manoel Bandeira remonta em mim com seu Canto de Natal:
O nosso menino Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.
Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.
Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.
Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.
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