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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Não deixem morrer os burros

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publicado em 28/12/2024 ás 07h00
atualizado em 28/12/2024 ás 08h05

Eu era menino e havia um homem que dizia que um burro é capaz de memorizar 40 palavras. Desde então, ser cabeça de burro deixaria de soar como ofensa, sentenciou, o pai dos burros.

Uma vez escrevi sobre o ´tolicionário´ e o jornalista Walter Galvão bateu palmas e adorou o neologismo.  Eu juro. Foi algo a sublinhar o popular com o recurso ao clássico.

Vai buscar ´O Burro de Ouro´, a sátira que Lúcio Apuleio escreveu no século II e na qual homem e burro se metamorfoseiam. “Precioso”, comentou, e não há tradução que valha ao tom.

Os burros do lado de lá, como Narciso no espelho. Não, não, Narciso não, os burros não gostam de mitologia e acham ´A Revolução dos Bichos´ novella by George Orwell (que fará cem ano em 2025) muito bobinha. Só entendem da fuga das galinhas de capoeira.

Um B  disse a outro B que leu  e não gostou de ´Guerra e Paz´,  de Tolstoi. Claro,  os Bs  adoram aparecer no Instagram.

A comparação não é original e está longe de ser forçada ainda que pareça presunçosa, mas os burros sabem que não são burros.

Presunção ou não, a mãe é a primeira a perceber e dizer em silencio que o  filho é burro, a mulher também diz com o marido é burro, que é como quem diz, sobrevivemos a 2024, mas ninguém sai vivo emocionalmente de 2025. Sei.

“Sou todo olvidos” – disse o amnésico.

Os burros não sabem nada do vazio, do tédio, da repetição, sequer sabem  entender não suportoar o silêncio na expressão, assim como não se surpreendem quando alguém anda pela rua discutindo sem ninguém ao seu lado. Os burros nãpo falam sozinhos.

Os burros são geniais. Não deixem que eles morram.

Kapetadas

1 – Um benefício adicional ao planeta a noite traz: bilhões de pessoas de boca calada.

2 – O infinito dá o que pensar. Porém a finitude dá muito mais.


Amansa-burro, do Ari Riboldi

Há três versões que explicam por que esse animal ficou com a pecha de pouco inteligente.

a) Em latim, “burrus” quer dizer vermelho, ruço, encarnado. Antigamente, os dicionários tinham capas vermelhas, o que pode ter levado à ideia de que a pessoa que recorresse a esse livro era curta de inteligência. O dicionário ficou conhecido, no meio popular, como amansa-burro e também pai dos burros. Puro preconceito, pois quem recorre ao dicionário quer aprofundar um tema, buscar novos significados, pesquisar mais detalhes, enfim saber mais;

b) conta uma história que uma moeda antiga tinha uma estampa de um rei não muito esperto e com uma enorme cabeça, semelhante à de um burro, o que teria levado à infeliz associação entre o bicho e a falta de inteligência;

c) a terceira versão está vinculada à lenda grega do rei Midas, que por tolice contrariou o deus Apolo, tendo por isso recebido, como castigo, enormes orelhas de burro.

Coitado do bicho! Levou a fama de forma injusta e cruel. Burros, jumentos, mulas, asnos, jegues e similares prestam relevantes serviços à civilização humana.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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