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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Cardinales bonitas

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publicado em 29/12/2024 ás 08h55

Eu sempre fui apaixonado por Claudia Cardinale, e não sei como uma foto dela foi parar na parede da nossa casa no sertão. Amanhecia e anoitecia e eu menino ficava olhando para aquela mulher, sem saber quem era, mas era Claudia Cardinale.

Meu pai não sabia da existência da atriz e minha mãe, nem se fala. O que faria uma fotografia de uma atriz famosa do tamanho daqueles pôsteres que vinham na Revista Capricho, aliás, bem maior – na sala da casa de uma família sertaneja? Na cidade, nem adiantaria perguntar, porque ninguém ia saber, mas era ela, a Claudia Cardinale, da canção de Caetano.

A imagem não saia do meu pensamento, como uma agonia, um estado de incandescência, inquietação, uma descoberta. Não é que isto não seja verdade, mas era verdade, meu olhar incansável a descrever a natureza de uma mulher distante, em preto e branco, a sua humanidade.

Nos verões de João Pessoa e Baia Formosa, encontrei Cardinales bonitas: nas noites alegóricas de Tambaú, Raquel Cordeiro, era uma chuva com sol. Julia Lacet, tão bonita, mas que teve vida mínima, e bem recente, Antônia Claudino, sertaneja que nem eu, com uma beleza que não carece de maquiagem, nem de se enfeitar – beleza pura. Uma cornucópia de mulheres belas passa pela vida da gente. Que tem tinha, tem, terá lugar na navegação da poesia.

Sabe aquela vontade, as casas do Sertão que mantinham as suas paredes coladas, e o voyeur K não conseguia sequer ver a nudez que naquele tempo ainda era castigada, mas o conforto era a fotografia de Claudia Cardinale na parede da sala.

 Cresci apaixonado por Cardilane, que no final dos anos 50 foi fotografada em Roma em uma imagem impressionante que capturou a energia no cenário atemporal da Cidade Eterna. Na época, Cardinale era uma estrela em ascensão, mas mal sabia ela que a dança espontânea em um telhado que mostra a fotografia, viria a simbolizar a origem, seu berço de menina humilde e bonita, sempre Cardinale.

É uma pena, mas a beleza não se eterniza. A fotografia que ilustramos a coluna, não é a que vi pela primeira vez, que ficou grudada na parede da nossa casa, que hoje virou um frigorifico fuleira, mas a que foi tirada em Roma, que foi posteriormente escolhida como imagem de capa do 70º Festival de Cinema de Cannes em 2017, servindo como uma homenagem à sua carreira e à beleza que ela incorporou em seus primeiros anos.

Claudia Cardinale nasceu em 1939 na Tunísia, tornou-se uma das atrizes mais amadas da Itália, conhecida por seus papéis em filmes como 8½ (1963) e O Leopardo (1963), uma lenda cinematográfica. A tal fotografia de 1959, de uma mulher despreocupada, mas pungente, é um só um lembrete de suas origens modestas e da ascensão ao estrelato que ela alcançaria.

Tem um filme mais recente onde Cardinale atua já como uma senhora. Assisti por causa dela. “Todos os caminhos levam a Roma” (2016) é o título no Brasil. Mas a estrela lá é Sarah Jessica Parker.

Tudo é substituído, como uma planta que mudamos de lugar.

Saindo da pandemia, em 2022 os sites italianos informaram que ela havia sido internada forçadamente. Naquele ano, com 84 anos, Cardinale negou as notícias publicadas pela imprensa de que teria sido “internada em uma casa de repouso contra sua vontade” disse que estava “bem de saúde” e vivendo com os filhos na França. Até hoje, com 86 anos, nunca mais vi sua imagem publicada nas plataformas.

Talvez eu tenha uma novidade, mas vou deixar para depois.

Kapetadas

1 – Fulano gera polêmica ao falar o que todo mundo pensa, mas não tem coragem de falar.

2 – Começou a temporada de dizer “esse ano vai ser diferente”. Sei.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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