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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

É preciso falar das flores

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publicado em 01/01/2025 ás 07h00
atualizado em 31/12/2024 ás 13h26
 
         José Nunes
O acadêmico, historiador e jornalista Rui Leitão publicou um livro necessário para lembrar de um período de atrocidades. Lembrar as tormentas patrocinadas pelos militares que governaram o País, durante vinte anos, deve estar na lembrança do brasileiro para sempre as repudiar. O livro “Eu vi a Ditadura Militar” é indispensável para a juventude conhecer estes momentos agoniantes e, consciente, lutar para que nunca mais voltar a acontecer tais truculências patrocinadas pelo poder público.
A leitura do livro ocorreu sob a lembrança do poeta Geraldo Vandré, quando seus versos e sua voz estrondaram pelos quatro cantos do País como grito de liberdade, em canção de alerta, para ninguém dizer que nunca deixou de falar das flores. O livro de Rui Leitão deixa essa impressão de lembrar das flores nos momentos de agonia.
         No seu trabalho, recheado de depoimentos que ajudam na compreensão das nefastas posições de nossos governantes no período de 1964 a 1985, o autor aborda episódios que chegaram ao conhecimento da sociedade. Os textos nasceram nas páginas dos jornais para ganhar vida perene em livro, devendo estar em biblioteca para consultas.
         Sem relegar os demais temas abordados, meu olhar para o conteúdo no livro, que reputo indispensável para circular nas universidades e centros de formação e de estudos, voltou-se para episódios que teve a participação da Igreja Católica. Não poderia ser diferente porque a Igreja sempre se pautou pela defesa dos direitos do pobre, sem fugir de sua linha de doutrinação evangélica, atuando em defesa da vida.
         Encontramos referências à Igreja em narrativas sobre episódios quando seu corpo episcopal e presbiteral atuou como protagonista.
         A começar pela abordagem sobre a Igreja e a ditadura militar, ele destaca a ameaça de prisão de Dom Antônio Fragoso, que atuava com entusiasmo contra a opressão à classe trabalhadora.
         Rui Leitão reserva espaço para falar de dois arcebispos – Dom José Maria Pires, da Paraíba e Dom Helder Câmara, de Recife e Olinda, que tiveram papel importante na defesa dos direitos das pessoas. Estes foram extraordinários protagonistas para manter acessa a chama da esperança.
         Homens esperançosos, José, Helder, Fragoso, Marcelo Carvalheira e outros ativistas religiosos, deram rosto à Igreja naquele momento, passando a ouvia o clamor dos pobres, sendo a voz dos oprimidos. Os jovens e sobretudo os que se prepararam para o sacerdócio, deveriam conhecer a ação evangelizadora destes padres que atuaram durante momentos de incertezas em nosso País, e sobretudo no Nordeste.
Aconteceram muitas tentativas de querer calar a Igreja, mas não retrocederam. O historiador Rui Leitão fala da bomba que explodiu no Cine Apolo XI, em Cajazeiras, que tinha como suposto alvo o bispo Dom Zacarias de Moura, que teve grande repercussão. A prisão do estudante Edvan Nunes da Silva (Cajá) mobilizou a sociedade e a Igreja, por meio da voz ativa de Dom Marcelo.
Outras passagens comentadas pelo autor são os conflitos pela posse de terra, sobretudo Alagamar, quando aconteceram episódios tensos entre a Igreja, que estava ao lado dos agricultores, e o governo. A Cantada pra Alagamar, de Waldemar José Solha e José Kaplan deu ressonância internacional aos conflitos dos sem-terra paraibanos.
         A luta das Ligas Camponesas é outro ponto abordado na obra em que a Igreja teve papel preponderante. A criação de sindicatos e instalação do Centro de Direitos Humanos na Arquidiocese da Paraíba foi algo formidável criado por Dom José. Também é importante destacar a pregação revolucionária de Dom José Maria Pires na mensagem da Páscoa de 1968 quando, entre outras coisas, afirmou que “a luta dos jovens é uma luta de Deus, porque é uma luta pela libertação dos homens”.
         Suas palavras foram um lenitivo para todos, e uma motivação ao ódio nos opressores.
         Termino a leitura com essa sensação: é preciso falar das flores.
 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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