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Otacílio Batista Patriota, nasceu no dia 26 de setembro de 1923 e faleceu no dia 05 de agosto de 2003, era natural de Itapetim que à época pertencia a São José do Egito. Era filho de Raimundo Joaquim Patriota e de Severina Guedes Patriota. Otacílio participou de uma cantoria pela primeira vez em 1940, durante uma Festa de Reis em sua cidade natal. Daquele dia em diante, nunca mais abandonaria a vida de poeta popular e repentista.
Em mais de meio século de repente, participou de cantorias com celebridades como o Cego Aderaldo e tantos outros. Conquistou inúmeros festivais de cantadores realizados nos estados de Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraíba. Uma de suas músicas de grande sucesso “Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer sem Sentir Dor”, foi gravado por Zé Ramalho e pela cantora Amelinha. A canção foi incluída como tema do filme Lampião, o Rei do Cangaço. Publicou vários livros, dos quais: Poemas que o Povo Pede; Rir até Cair de Costa; Poemas e Canções e Antologia Ilustrada dos Cantadores. Otacílio ficou conhecido nacionalmente pelos versos impressionantes – sempre feitos de improviso – e pelas letras que compôs para vários intérpretes da MPB. Ele também ficou conhecido como “A Voz do Uirapuru” e fez dupla com nomes lendários da cantoria, como Pinto do Monteiro, Dimas Batista, Lourival Batista, seus irmãos, Diniz Vitorino, Oliveira de Panelas, Daudeth Bandeira, Pedro Bandeira, entre muitos outros.
Em 1946 a convite do escritor e teatrólogo Ariano Suassuna, cantou com seus irmãos no teatro de Santa Isabel, no Recife, abrindo caminho, nos altos meios, para os seus colegas. Em 1947, enfrentou o primeiro festival de cantadores, em Fortaleza, no Teatro José de Alencar, ao lado do famoso cego Aderaldo, promovido pelo saudoso poeta Rogaciano Leite. Durante três dias de debates, com mais de quarenta cantadores, alcançando o primeiro lugar, em 1948, no Recife, foi novamente classificado, no Teatro de Santa Isabel, com seus irmãos. No mesmo ano tirou, pela segunda vez, o primeiro lugar na cidade de Gravatá, Pernambuco, num festival composto por trinta e oito violeiros.
No ano de 1959, venceu pela terceira vez um congresso de cantadores, no Rio de Janeiro, patrocinado pelo Jornal do Brasil e dirigido pela condessa Pereira Carneiro, proprietária do jornal. Em 1969, saiu vencedor pela quarta vez, num festival de repentistas, Teatro do Parque, em Recife, promovido por Rubens Teixeira, poeta. Em 1971, pela quinta vez, venceu no festival de cantadores, na capital João Pessoa, Paraíba, no Teatro Santa Rosa, promovido pelo Governo do Estado.
Quando Otacílio faleceu em 2003, Lourinaldo Vitorino, poeta repentista lhe fez os seguintes versos:
Violas de Luta
As violas de luta soluçando
Dão adeus ao Bocage do repente,
Um fenômeno de arte, um expoente,
Que a cinco a seis décadas improvisando
Sua voz de trovão saiu rasgando
Modulando a palavra em cada nota
Pra cultura um nocaute, uma derrota,
Um desastre, uma perda, um golpe horrendo,
Enlutado o repente está perdendo
OTACÍLIO BATISTA PATRIOTA.
Bráulio Tavares, também fez versos para o genial Otacílio:
Numa Nuvem do céu que tem escrito
“Botequim da Poesia Brasileira”,
OTACÍLIO chegou, puxou cadeira,
E encostou na parede do Infinito.
Na plateia se ouvia palma e grito,
Vi até JESUS CRSITO assobiando,
OTACÍLIO, a viola ponteando,
Se juntou ao baião de LOURO e DIMAS,
Num dilúvio de glosas e de rimas…
A trindade no Céu está cantando.
No livro ‘a presença dos Cordelistas e Cantadores e Repentistas em São Paulo”, o escritor, jornalista e pesquisador Assis Ângelo, conta que Manoel Bandeira escreveu um poema “Saudações aos Cantadores”, depois de ouvir Otacílio Batista cantar durante um festival de violeiros, realizados no Rio de Janeiro. O poema foi publicado no Jornal do Brasil em 11 de dezembro de 1959 e posteriormente, no livro de Bandeira “Estrela da Vida Inteira”, de 1965.
Saudações aos Cantadores
Anteontem, minha gente,
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição,
Vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
Ouvi um tal de Ferreira,
Ouvi um tal de João.
Um a quem faltava um braço
Tocava c’uma só mão;
Mas como ele mesmo disse,
Cantando com perfeição,
Para cantar afinado,
Para cantar com paixão,
A força não está no braço,
Ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha,
Ou uma oitava em quadrão,
Quer a rima fossem ão,
Caíam rimas do céus,
Saltavam rimas no chão!
Tudo muito bem medido
No galope do sertão.
A Eneida estava boba,
O Cavalcanti bobão,
O Lúcio, o Renato Almeida,
Em fim toda comissão.
Saí dali convencido
Que não sou poeta, não;
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação
Como faz Dimas Batista
E O tacílio seu irmão;
Como faz qualquer violeiro,
Bom cantador do Sertão,
A todos os quais humilde
Mando minha saudação”.
Otacílio Batista, era o mais novo dos irmãos poetas, a chamada trindade da cantoria nordestina, composta por Louro e Dimas. Otacílio pode ser considerado uma lenda da cantoria Nordestina. Tive a honra de conhecer Otacílio em 1984, numa festa Universitária na minha cidade, Pombal. Depois desse dia em diante nunca mais deixei de admirá-lo e acompanhar suas cantoria. Grande figura humana e um extraordinário poeta, não concordo que ele era o mais fraco dos irmãos cantadores.
Otacílio Batista, “A Voz do Uirapuru”, merece as glórias dos poetas cantadores nordestinos. A poesia deve ser bela e encantar a alma e o espírito de quem a escuta ou ler. Viva Otacílio em toda sua plenitude poética.
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