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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Busque, bosque, sonho

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publicado em 07/01/2025 ás 07h00
atualizado em 07/01/2025 ás 08h35

Voltei ao Bosque dos Sonhos, na Ponta do Cabo Branco, onde o sol chega mais cedo – 40 anos depois. Aquela vista imensa bonita do Farol e a barreira cada vez mais destruída, tantas vezes retratada nos quadros do artista Hermano José. Paguei 12 reais para entrar no bosque.

Logo percebi que quando se perde algo, algo começa. Mas por onde começar? Tem tanta gente subindo e descendo a ladeira do bosque, que mais parece aquela romaria dos homens “deixando culpas no caminho” de encontro a Jesus na cruz, do poema de Drummond.

Foi exatamente isso, o início de alguma coisa perdida.

Quase todas as pessoas acompanhadas, cães, meninos de braço, idosos e jovens. Talvez seja por isso que muitas pessoas não conseguem viver sozinhas, porque onde elas estão, precisam de companhia.

O que eu havia perdido ali?

Quando tinha 25 anos, o escritor Jorge Luís Borges escreveu sobre Buenos Aires, sobre uma Buenos Aires que não existia mais, mas como se fosse a Buenos Aires de sua época. Poxa, mas ele tinha 25 anos…

Eu devia ter uns 25 anos, acho que 27 e meu pai já não existia – o tempo que ele viveu, a cidade, sua rede de pescar, seu bosque. Talvez por isso, eu sempre penso no tempo de antes de eu nascer.

A poesia desarma a gente.

Tudo sobre o que Borges escreveu no presente, de maneira muito nítida e precisa, tudo havia morrido há anos – o que me faz pensar nas relações entre perder e se imaginar. Imaginar é algo impressionante.

Entre o acontecimento e o momento em que se ganha e se perde,  existe agonia da vida. Isso eu já sei.

Muito barulho no Bosque dos Sonhos – de sertanejo ao funk.

O bosque não existe mais. Não sabemos escrever sobre o que vai acontecer. Acho que ninguém, é sempre o que já foi, o que perdemos.

O Bosque dos Sonhos é só imaginação. Não sei se voltarei lá outra vez.

A experiência da perda de um lugar sempre nos leva a um estado imaginativo, para tapar o buraco, para modificar, transformar o que se perdeu do sonho no bosque, que pertenceu durante anos a Paulo Miranda, o homem que desbravou o Cabo Branco.

É isso, tudo se transformou.

Kapetadas

1 – Ao sonhar acordado, você escolhe seus sonhos; ao sonhar dormindo, os sonhos escolhem você.

2 – Previsão do tempo: não vai dar tempo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB