João Pessoa, 14 de janeiro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
As armas de plástico com “balas” feitas de gel viraram modismo em quase todo o mundo e se tornaram uma febre nas periferias brasileiras. É comum ver adolescentes, adultos e até mesmo crianças portando estas falsas armas promovendo brincadeiras que simulam guerras e ou assaltos utilizando tais produtos, que em muito se assemelham a armas de fogo, como pistolas e fuzis.
A mídia em geral tem sido utilizada para promover uma grande propaganda destes equipamentos, inclusive com a participação de influenciadores digitais, que comumente utilizam o argumento que as brincadeiras com essas armas ajudam a tirar as crianças da frente da TV e demais aparelhos eletrônicos, levando-as a brincar nas praças públicas e ou outros ambientes abertos. Acrescentam ainda que tais equipamentos por dispararem balinhas de gel, não provocam ferimentos graves nos alvos. Mas, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia além de muitos outros especialistas discordam, e alertam que estas arminhas de plástico podem sim causar hematomas consideráveis e ou também perfurar o globo ocular, causar deslocamento de retina e até levar à perda total da visão, caso atinjam com gravidade os olhos de uma pessoa.
A legislação brasileira proíbe a venda dessas réplicas de armas de fogo para menores de 14 anos de idade, portanto, estas não são tecnicamente classificadas como brinquedos, mas estes equipamentos são facilmente encontrados na internet e também no comércio popular da grande maioria das cidades brasileiras.
A comercialização é feita baseada em um vácuo da legislação. Segundo a Lei 9.437, de 1997, que instituiu o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), é proibida a venda de simulacros que possam parecer armas de fogo reais. É por isso que o armamento de airsoft, por exemplo, precisa ter a ponta do cano laranja.
Os perigos dessa brincadeira vão além dos possíveis danos que as balinhas de gel podem provocar nas pessoas. A população brasileira está convivendo num país dominado pela violência e insegurança, em que já há uma circulação elevada de armas de fogo, e essas arminhas podem ser confundidas com armas reais, aumentando mais ainda a sensação de insegurança na população e os problemas para as autoridades da área da segurança pública.
Imaginemos que uma pessoa pratique um assalto com uma arma de gel. Em tese não seria crime porque a arma não tem potencial lesivo. Mas, o que deve ser levado em consideração, não é apenas isso, mas os possíveis e prováveis riscos que estes equipamentos podem acarretar a segurança pública, mesmo sendo instrumentos teoricamente não lesivos, pois como já descrito, a população brasileira vive sobressaltada, amedrontada, acuada e com medo, e um indivíduo já acossado pelo medo da violência endêmica no país, sendo abordado por outra pessoa com uma arma, mesmo que seja de gel, dificilmente terá condições de raciocinar na hora se aquela arma é ou não real.
Segundo a oftalmologista Camila Moraes, entre as principais lesões oftalmológicas que as bolinhas de gel podem causar estão: os sangramentos, deslocamento da retina, glaucoma secundário e perda de opacidade corneana, além da maior parte das uveítes (inflamação do tecido vascular interno do globo ocular).
É importante lembrar ainda, que além dos possíveis danos e consequências já citados, a venda indiscriminada destas armas falsas, atrelada à tolerância de muitas famílias e de grande parte da sociedade, poderá banalizar o uso destes objetos por crianças e adolescentes, contribuindo mais ainda para a expansão de uma cultura das armas. Nunca é demais lembrar: Arma não é brinquedo!
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ENTREVISTA - 13/01/2025