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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

Pensando na morte

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publicado em 18/01/2025 ás 07h00
atualizado em 18/01/2025 ás 08h10

Como todo mundo está careca de saber, uma cigana leu minha mão e profetizou que eu serei assassinado aos 120 anos por um marido transtornado, com 25 anos de idade, porque descobrirá meu romance com sua jovem e bela esposa de apenas 22 anos. Portanto, como não tenho com o que me preocupar pelos próximos 50 anos, decidi ajudar nas mortes dos amigos. Dos leitores não, porque seguirão vivos ao menos enquanto eu viver.

Vou iniciar com uma constatação. Só existem duas coisas com as quais devemos nos preocupar; se estamos bem ou doentes. Se estamos bem não temos porque nos preocupar e se estamos doentes, das duas uma; ou ficamos curados ou morreremos. Se ficamos curados não temos com que nos preocupar e se morrermos, das duas uma; ou iremos para o céu ou para o inferno. Por obvio, se formos para o céu não teremos qualquer preocupação. Já se formos para o inferno ficaremos tão ocupados cumprimentando velhos amigos e antigos políticos que não teremos tempo para qualquer preocupação.

Pensando em mortos e mortes, lembrei de uma história contada pelo amigo José Valdélio, conhecido nas mesas de biriba por Dedé Borreia. Contou-me aquele atleta das cartas que em sua terra, Itaporanga, há o costume de se beber o morto, ou seja, durante o velório os amigos tomam uma carraspana enorme relembrando fatos engraçados do defunto. Porém no velório de Seu Chico esqueceram de chamar Raimundo, amigão que morava num sitio distante. Pra que!!! Raimundo soube da desfeita e ficou mais raivoso ainda quando disseram que foi o velório mais animado dos últimos anos. Invadiu a casa dos enlutados parentes “na hora da janta” e gritou para todos que estavam ao redor da mesa: “- Cambada de ingratos. E eu que pensava que era amigo. Mas tem nada não; lá em casa ainda tem muita gente pra morrer e tomara que a primeira seja logo mãe, porque a cana vai dar no meio da canela e não vou chamar nenhum de vocês”.

Quanto a mim, sei que logo depois de morrer ninguém vai estar nem aí para minha ausência. Ora, se não lembram das grandes autoridades e dos milionários vão lembrar de um contador de histórias? E é aí que está a diferença entre eles e eu. Nas raras referencias que o povo faz aos políticos mortos citam uma ou duas obras e quanto aos milionários falecidos limitam-se a dizer da sua fortuna. Porém mesmo que não lembrem de mim com certeza repetirão as bobagens que escrevo e eu estarei em cada sorriso.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB