João Pessoa, 19 de janeiro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Meu pai escutava dizer que o nosso sobrenome Pinheiro tinha uma conexão com as famílias judias, que fugiram para o Brasil e usavam Pinheiro, Pera, Carvalho, entre outras fontes da natureza, como um disfarce, certamente, um escudo diante do nazismo, que se espalhou pelo mundo.
A vereadora Creusa Pires, ao discursar na Câmara de Vereadores em 1996, quando recebi o título de cidadão pessoense de sua autoria, falou apenas 7 palavras – “João Pessoa ganhou hoje mais um Pinheiro”. Aquilo dela dizer mais um Pinheiro, se referindo a árvore, me encheu do orvalho, nasci de novo, pelo amor incondicional por essa cidade, onde estou há 50 anos.
Pinheiros, bairro de São Paulo, onde morei cerca de 300 dias (na casa da jornalista Selma Tuareg) tanto por suas origens indígenas quanto portuguesas, cidade cosmopolita – o bairro é tão bonito, mas São Paulo já disse Caetano Veloso, é o como o mundo todo.
Pinheiro é gênero masculino, é o nome que carrego. Se o espaço da coluna fosse pequeno, eu encerraria aqui meu texto, mas preciso esticar o tema mesmo sem saber mais o que dizer.
O fato de o Bairro Pinheiros ter sido povoado pela chegada dos jesuítas aquele lugar que se chamaria cidade de São Paulo, um grupo indígena já estava lá, por volta de 1560, às margens do Rio Grande – que posteriormente ficou conhecido como Rio Pinheiros. Isso eu não sabia, mas cabe aqui.
O Largo de Pinheiros, nada tem a ver comigo, mesmo eu tendo morado naquele apartamento da esquina da Avenida Monsenhor Tabosa, mas se eu tivesse ficado em São Paulo, feito o mestrado lá, como pretendia, eu seria um Pinheiro qualquer, na grande São Paulo.
Depois de Pinheiro, vem o complemento Vasconcelos, mas eu nunca usei esse sobrenome, não foi necessário, a não ser quando cantei o Hino Nacional para receber a carteira de reservista, que me dispensou do serviço militar. Realmente eu não teria aguentado servir ao exército, não combina comigo.
A partir daqui não conta, é o recomeço do homem velho, mas não tenho a longevidade da árvore. Quando recebi o título de cidadão pessoense, falei um monte de coisas e terminei com a assertiva, de que quando alguém me encontrasse na rua, anos e anos depois, diria: lá vai o velho Kubitschek Pinheiro. Está chegando a hora, mas já me chamam de K, somente. Lá vai o velho K
50 anos numa cidade que tem poucos Pinheiro, acumulando emoções, dores e tristezas e alguns reflexos que me fogem – eu posso até dizer do amor que tive, não tive, que não foi imortal, jamais, posto que é o chamariz, mas nada é infinito, nem aqui, nem além, sequer o eterno, mas se tiver novidade, me chama, me chama.
Hoje o Pinheiro que sou se põe a abusar da imaginação, embora eu já tenho vivido mais da metade, se é que a outra metade de mim, enfim, sei lá, sou mil vezes das delicadezas absurdas, que impregnaram minha cabeça.
Ah! Um dia entrevistei o compositor e escritor Paulo César Pinheiro (foto), que não dá entrevista a Seu Ninguém – foi o amigo Dori Caymmi, que fez a ponte.
O que importa? Leio versos como se fossem meus para ocupar a boca, o tempo, sem roer as unhas e bem mais, na queda dos vazios vários, quando ninguém sabe o que fazer com a ausência da vida. Mas é isso, ser Pinheiro me basta.
Kapetadas
1 – Será que a natureza vai nos fazer voltar ao nomadismo? A ver.
2 -Tem mais brasileiro desaparecido na Europa do que receita de brigadeiro no Instagram. Tá foda.
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