João Pessoa, 20 de janeiro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Sim, eu sei que nessa era contemporânea, a trajetória do ser humano se desenrola em um palco iluminado por holofotes que, ao invés de revelar, encobrem a verdadeira essência do ator da vida. O indivíduo, longe de ser o protagonista de sua história, transforma-se em um mero intérprete de papéis que lhe são impostos por um enredo coletivo, escrito nas entrelinhas da sociedade do espetáculo. As máscaras que usamos diariamente são elaboradas com precisão, cada uma delas projetada para agradar a um público invisível, mas sempre presente. Sim, eu sei que uma ilusão à toa é da canção de Johnny Alf.
A autenticidade, outrora celebrada como uma virtude essencial, agora se torna um anátema, quase como uma relíquia de um passado distante que não se encaixa nas exigências de um mundo que exalta a superficialidade. O eu genuíno, repleto de nuances e imperfeições, é frequentemente oculto sob a fina *película* das expectativas sociais e das convenções digitais. É mais fácil adotar uma persona cuidadosamente construída do que enfrentar as complexidades de nossa própria identidade.
Esse fenômeno não é apenas uma questão estética; ele toca as fibras mais profundas da ética humana. Quando a vida é reduzida à mera representação, o espaço para a expressão individual desaparece. O que resta é a conformidade, um eco distante do ideal iluminista que almejava a autonomia plena. A liberdade que nos é oferecida parece ser uma miragem: múltiplas opções de máscaras disponíveis estão de volta, aliás nunca sairam de nossas caras, mas todas levando ao mesmo destino sombrio: a alienação do eu.
Neste contexto, muitos optam por permanecer em casamentos fracassados, não por amor ou companheirismo verdadeiro, mas pela segurança dos bens materiais e pela pressão social. A ideia de manter uma aparência perfeita diante da sociedade se torna mais importante do que buscar a felicidade genuína. Esses relacionamentos se transformam em prisões emocionais onde o verdadeiro eu é sufocado. Assim, as pessoas deixam de viver plenamente suas vidas e se tornam reféns de dogmas criados pelo homem — sejam eles religiosos ou sociais — que ditam o que é considerado aceitável.
A inquietante pergunta permanece: existe ainda espaço para redescobrir nossa essência em um mundo que fez dela um fardo? Ou estaremos condenados a nos perder em nosso próprio reflexo, como Narciso, encantados pela superfície que apenas reflete aquilo que desejamos mostrar aos outros, enquanto o verdadeiro eu permanece oculto nas sombras?
Neste cenário distorcido, talvez seja hora de despojar-se das máscaras e buscar o resgate da autenticidade perdida. Afinal, somente ao abraçar nossas verdades mais profundas poderemos voltar a ser protagonistas da nossa própria história e aproveitar a vida como é, um presente de Deus, em toda sua plenitude.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
novo protesto - 16/01/2025