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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Esses tais “amigos secretos”

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publicado em 31/01/2025 ás 07h11
atualizado em 31/01/2025 ás 07h12

Quando, pela primeira vez, participamos de um “amigo secreto”, foi um sufoco. Ainda estudávamos no sítio Saco e, sei lá por que, a professora levou para a sala de aula tamanha modernidade, totalmente inoportuna.

Mas, porque as novidades são convincentes por si mesmas, logo fomos, mesmo que reticentes, embrulhados na brincadeira. Como éramos três, três seriam os presentes a serem comprados, sabe-se lá como. Brincadeira chique da cidade não haveria de se satisfazer com a singeleza rural dos filhos de Neném de Pedro Leite.

Lembrando bem, minto, mas a sorte sempre sorri para aqueles de boa vontade. Bicho matreiro, atirou-se sobre nós e nos presentou: no sorteio dos nomes, eu tirei Bia, a minha irmã. Um presente a menos, menos uma preocupação para mãe que haveria de engendrar um jeito inteligente de sair daquela situação, mesmo que Bia fosse a sacrificada.

Depois da explicação dada por minha irmã mais velha, mãe, que nunca ouvira falar desse tal “amigo secreto”, até se animou, mas logo descobriu que a brincadeira das suas crianças não iria sair barato.

De qualquer forma, estava tudo certo. Ela compraria dois presentes dignos de serem ofertados pelos seus filhotes. O que eu deveria entregar à minha irmã, a gente daria um jeito. Embrulharíamos em um papel bonito algo qualquer. Lá em casa havia muitas formas quadradas da época em que papai fora sapateiro. Algo haveria de servir como disfarce.

Todos sabem que as mães são anjos disfarçados de gente. Em um sábado nublado e silencioso, ela, após separar um capão de sobrecu gordão e amarelo, vendeu o bicho na feira de Uiraúna. Condoeu-se de Bia. Comprou um creme dental e dois sabonetes. Ficaria com sua consciência em paz. Presentes de verdade para todo mundo. Relaxou.

Foi uma festa tão bonita. Bia ganhou seu creme dental. Tive pena de Flaviana e de mim mesmo. Quem nos sorteou, por vergonha, sequer compareceu à abertura dos presentes. Devem ter se perdido dentro das suas necessidades que, decerto, eram bem maiores do que as nossas.

@professorchicoleite

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