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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Desse jeito

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publicado em 09/02/2025 ás 08h22

Querendo sentir bater o coração fora do peito, mas ele está na cabeça, feito o tempo que bate na porta, avisando que amanhã será segunda-feira, dia de branco. Já estou velho, mas o coração não envelheceu.

 

Não quero ser lembrado como um homem sem coração, que passou pela vida e não viveu, mas um homem que sabe se reinventar – nunca para explicar a ausência de vida no tenro tempo da idade. Além do encanto, o desencanto, o desalinho, o coração leviano, de tudo que é externo a mim.

Meu pai estava certo, coração é terra que ninguém anda – às vezes, desanda. É o mais bonito órgão bombeando os meridianos de uma forma em círculos. Bate coração, bate!

Meu coração pareceu me ver ontem, fazendo a barba, retirando os pelos brancos a ajudar na aparência, a demasiada vontade de buscar o caminho que vai dar no sol. Um “coração partido”  vivendo e aprendendo a jogar. Ah! As canções…

Nenhuma magoa habita o coração de um homem já feito, mas o coração realmente tem razões que a própria razão desconhece – é o enunciado antigo, mas que tem uma força que afasta o infarto de todo santo dia.

Outro dia vi uma menina segurando na mão do pai, para passar na faixa de pedestre e aquilo era o tempo, não o tempo que se perde, mas o tempo que vai ocupar a memória – principalmente a memória –, como uma espécie de magnificar destinos. Não existe coisa mais bonita do que um pai segurando na mão de um filho: é como se segurasse o coração do rebento.

As mãos em performances repetidas formam o desenho do coração estampado nas postagens em redes sociais, nunca, as mãos dos aflitos. O abraço de sentir as batidas do coração do outro, é a sensação mais antiga parecida com o amor à primeira vista. Nos faz saber tocar a partir de dentro, para que outros órgãos sejam expressamente acariciados.

Lembrei da lamparina, do acender um lampião a gás – a lâmpada simbólica  sobre a vida dos corações acorrentados. “Libertas quae sera tamen” ,  –  a mais bela expressão estampada na bandeira de Minas Gerais.

Meu pai tinha um coração enorme, ajudava a muitas pessoas, fazia trabalhos de encanador, eletricista e pescava. O coração dele nunca parou no meu, somos réplicas, nesse tempo de “cortar coração”. O mundo desaba e eu sigo os sinais.

Mas porque estou falando sobre o coração, se o meu não foi feito para habitar morada de ninguém. Como disse a escritora Marina Colasanti, (que faleceu esses dias), o coração é músculo, nunca uma catedral

Nos batimentos, enquanto estou por aqui, cegamente posso sentir o instante da felicidade. Eu nem sei por que meu coração bate feliz, bem feliz quando escuto “Carinhoso” –  que  vem de Pixinguinha a João de Barro, “pousa em Djavans, Wilson Batista, Jorge Veiga, Carlos Lyra e o imenso Milton Nascimento”

Estou entre os corações cativados e calejados. Já amei demais, como se tivesse o dom da sabedoria. De uma forma silenciosa, vou seguindo o espaço da luz.

Bate coração, bate!

Kapetadas

1 – Virtuosos corações virtuais: O que, de fato, vocês têm feito pelo mundo além de apontar o dedo nas redes? Eu espero, do fundo do coração, que vocês justifiquem a moral que acham que têm, praticando no “off” o que exigem dos outros na velha Internet.

2 – Domingo é um sábado casado.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB