Não adianta cortar caminho, nem pensar que é tão simples como alugar uma casa – não,  a morte  não existe a prestação. A morte é a confirmação e nós seguimos iludidos, fingindo viver até o último suspiro.

Se eu escrever uma elegia a pensar na arte de Vital Faria, vai chegar alguém e dizer que eu não o admirava.

Vi o cortejo pelas ruas da cidade de Taperoá, a cantoria numa cena de cinema. Vital não estava mais ali, apenas a canção.

O cortejo seguiu os caminhos da padroeira Nossa Senhora da Conceição e Vital sabia que faria o caminho volta, mas nunca mais se abriria a janela, pra ver donzela, tão linda, tão bela.

Nunca tinha visto Vital Farias pelas ruas da cidade, ele e seu guia solitário –  o artista das canções que deram sentido abrir válvulas do coração. Incrível, ele dizer que ia comprar dois automóveis, um pra mim, outro pra ele, mas não cumpriu.

Ninguém vai arrancar o poster de Vital Farias da parede do seu quarto, porque apesar de cantar baladas românticas, tocar em corações, Vital não era um superstar.

Vital se livrou das feridas da vida e da Margarida, do aumento da gasolina, e foi arranjar outro de meio de vida longe, bem longe daqui.

Quando vi as cenas do cortejo, lembrei das milhares de vezes em que outros cortejos passaram na frente da nossa casa, no sertão. Alguns eram enterrados numa rede.

Vital passou. Outros passarão…

Kapetadas

1 – Eu  li que na infância, James Joyce perdeu os sentidos ao desmaiar no colégio. Continuou sem sentidos até morrer.

2 –  A grama do vizinho é mais verde, porque você não cuida da sua.

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