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Paraibano da Capital. Tocador de violão e saxofone, tenta dominar o contrabaixo e mantém, por pura teimosia, longa convivência com a percussão, pandeiro, zabumba e triângulo. Escritor, jornalista e magistrado da área criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba.

O INTELECTUAL E O MACACO

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publicado em 14/02/2025 ás 11h47

O professor Paiva é um paulistano de boa cepa , da mesma região de Monteiro Lobato, que aportou por aqui há décadas, para dirigir unidade de um dos maiores Cursinhos do Brasil. Veio e ficou, como tantos outros. Arriou bagagem , montou casa, e passou a exercer seu ofício por essas bandas. Exímio professor de Matemática, escrevia e desenhava os quadros negros mais bonitos que vi na vida, principalmente quando lecionava Álgebra. Verdadeiras obras de arte. Muitas vezes ministrei a aula subseqüente na turma de onde ele acabara de sair, e apagava constrangido o quadro negro, para rabiscar meus garranchos. Era coisa de chamar atenção.

Aposentado da sala de aula, o professor Paiva dedicou-se de corpo e alma à crônica. Escreve regularmente para os periódicos eletrônicos da nossa Capital. Confirmou que LUIZ AUGUSTO é nome de cronista mesmo, basta lembrar o CRISPIM, que iluminou as páginas dos jornais, então impressos, da Paraíba. Pois, Luiz Augusto Paiva da Mata , honrou a tradição, e tornou-se cronista do cotidiano, já com vários livros publicados.

Na década de 1980, ainda era possível manter animais silvestres em cativeiro. Ninguém se importava, não havia a consciência da crueldade, nem era considerado crime ambiental. Feliz da vida, Paiva recebe de bom grado, de outro lendário professor de Matemática, nada menos que um Macaco Prego (Sapajus nigritus). Foi um sucesso para a criançada (esqueci de comentar que o professor Paiva levou ao pé da letra o mandamento bíblico: crescei e multiplicai-vos, enchei a Terra … , teve muitos filhos, acho que na casa dos dois dígitos). O macaquinho, logo batizado de TICO pelos meninos, virou a diversão da família.

Uma bela manhã de domingo, estava o professor Paiva , em sumária sunga de banho, exibindo a respeitável pança , sorvendo discreto whiskinho , à beira da sua piscina. De repente, alguém o chama:

“Cavalheiro”

Olhou ao redor, procurando quem o tratava com tamanha distinção, e localizou uma cabeça grisalha por sobre o muro. Era o vizinho, renomado intelectual. Homem conhecido na Paraíba inteira, escritor, advogado de escol, jornalista, historiador, de bravura e valentia conhecida por todos. Famoso “pavio curto”.

“Cavalheiro”.

“Pois não”.

“É vosso um símio que adentrou minha residência, e está dilapidando meu patrimônio?”

Pego de surpresa, Paiva hesitou: “Como é que é?” Foi o que bastou para o intelectual.

“Como é que é , é o C***lho. A P**ra desse macaco que invadiu minha casa e está quebrando tudo, é seu? Se for, venha buscar”.

“Vou agorinha, me desculpe”, disse Paiva, já se preparando para tentar a proeza de pular o muro.

“O senhor não vai entrar aqui nu desse jeito, minha casa não é lupanar”.

Sem alternativa, ouvindo o barulho dos cristais sendo arremessados pelo indesejado visitante, o professor Paiva rapidamente vestiu bermuda e camiseta, e foi correndo resgatar o irmão primata, antes que o intelectual cumprisse a ameaça de abatê-lo a tiros. No dia seguinte, TICO foi habitar na Bica.

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