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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

Viagem inesquecível

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publicado em 15/02/2025 ás 15h44

Na viagem de férias, em família, nossa nora Ericka foi a organizadora da programação. Fizemos a opção de conhecer Mendoza, cidade do interior da Argentina, localizada na parte centro-norte daquele país, em uma região de contrafortes e altas planícies, no lado leste dos Andes. De acordo com o censo de 2010 tem uma população de 1.055.679 hab, a quarta maior área metropolitana atingindo 2.086.000 da área total, dados de 2015. Dista de Buenos Aires 1.042 km. A região ao redor da Grande Mendoza é a maior produtora de azeite e vinho da América Latina.

O período de verão na Argentina, e especificamente em Mendoza, vai de dezembro a março, com a temperatura que oscila entre 20ºC e 40ºC. Na região chove muito pouco mas é no verão que tem pancadas de chuvas fortes. Todavia, são fortuitas e isoladas. A companhia de turismo recomendou passeios e experiências ao ar livre e  esportes para jovens.

Nosso roteiro foi construído pela Wolcen Viagens, chamado de “Programação para Brasileiros”. Éramos quatro pessoas adultas e duas crianças. Saímos de João Pessoa e fizemos conexão em São Paulo, direto para Mendoza, chegando às 12:00 horas. Lá nos aguardava um Transfer Van, com motorista e guias Daniel e Antonella, que iam nos assistir todo o tempo que permanecêssemos em Mendoza. Seguimos para o nosso hotel no campo “La morada Lodge” situado no Valle de Uco, que fica a 80k do centro da cidade. Região de vinícolas localizadada ao longo do Rio Tunuyán. É uma das principais regiões de vinícolas de toda Argentina. O Valle do Uco fica situado ao norte do citado rio.  Tupungato e San Carlos são departamentos da Província que se destacam, por fabricarem os melhores vinhos por conta da elevada altitude, onde possui vinhas plantadas a 1200 metros acima do nível do mar, mundialmente conhecidas pela produção das uvas Malbec, merioque, pinot noir, semillon e torrontés. As vinícolas mantem restaurantes requintados servindo refeições harmoniosamente preparadas adequando com o vinho, o que faz a todos sentirem o bom gosto da alimentação.

Os dias em Mendoza foram divididos em dois momentos: primeiro, ficamos no hotel de campo La Morada Lodge, localizado na região da imensa cordilheira dos Andes situado no Valle do Uco, terra que é a melhor e mais fértil na produção da uva malbec. Região com a vista belíssima, permitindo aos hospedes desfrutar e conectar-se através dos sentidos a natureza do lugar. Apresenta no momento um desenvolvimento imobiliário sem precedentes. O céu, à noite, para nós, foi o mais bonito e estrelado que já vimos. Nos encantando como estivéssemos tendo uma visão mágica.  O hotel é construído em um descampado constituído de chalés de vários tamanhos, uns maiores para abrigar uma família e outros pequenos para hospedar só casais, que foi um dos nossos casos. Muito bom, confortável, com sala de estar e pequena cozinha, banheiro e quarto de casal bastante amplo, com piscina privativa.

Durante a estadia nesse hotel de campo foram programadas visitas às vinícolas. A primeira que visitamos foi a Bodega Norton, que possui cinco vinhedos distribuídos por terras que ficam no sopé da Cordilheira dos Andes, todos dentro de área considerada privilegiada, conhecida como Primeira Zona pela qualidade de suas uvas. Influência ainda, na qualidade, a idade das vinhas em torno de 30 anos. Fundada em 1895 pelo engenheiro britânico Edmund James Palmer Norton tem 129 anos de história muito bonita e longa, fazendo parte obrigatoriamente do enoturismo em Mendonza. O vinho Norton Reserva Malbec foi reconhecido em 2010, um dos Top 100 melhores vinhos do mundo. “O Segredo do Terroir: A alma dos Vinhos Norton”

Nessa vinícola, além de conhecermos todas as etapas da fabricação do vinho, éramos convidados a fazer a degustação dos seus vários tipos, recebendo verdadeira aula do enólogo sobre as diversas uvas, cada uma produz um vinho específico. Provamos os cinco mais importantes e tomamos conhecimento quais os tipos de comidas se adequavam. Nos demos conta de como é trabalhosa a produção do vinho. Uma ciência. Existem profissionais preparados para opinar sobre os vinhos: o enólogo, o enófilo e o sommelier.   O enólogo é um profissional altamente capacitado. No Brasil existem três Universidade que tem curso de formação especifica na área, a Universidade Federal do Pampa e os Institutos Federais do Rio Grande do Sul e de Pernambuco. A maioria dos profissionais que atuam na área são agrônomos com formação de cinco anos,  conhecimento de botânica, climatologia, processos de fermentação, tipos de uvas, e especificações sobre agropecuária, uso de solo e controle de pragas. Portanto, o enólogo acompanha todas as etapas da produção do vinho que vai desde o plantio, adubações, cultivo e produção.

O Sommelier trabalha com o vinho depois de pronto, sabe harmonizar vinhos com diversos tipos de comida sendo o profissional responsável pelos processos que dizem respeito ao consumo, atua em lojas especializadas, em bares e restaurantes, montam a carta de vinho, preocupam-se com o ato de servir. Para trabalhar na área, há que ter graduação em Gastronomia ou em Hotelaria. Esse profissional deve estar sempre se atualizando, conforme as inovações do mercado.

Enófilo é a pessoa que gosta de vinho e procura aprofundar-se do assunto. É o apreciador, aquele que conhece sua origem. Bebe com sabedoria.

Após a visita a Norton, fomos a Bodega Suzana Balbo Wines, nome de mulher argentina, fundadora da vinícola que leva o seu nome. Foi a primeira mulher enóloga do país, considerada como uma das responsáveis pelo desenvolvimento do vinho argentino. Almoçamos em seu restaurante, muito requintado, com um menu harmonizado de quatro passos, previamente escolhido na programação. Nessa vinícola, não fizemos degustação, mas em compensação os cinco vinhos que fizeram parte do almoço foram servidos com acompanhante Sommelier que ia explicando tudo sobre o vinho, sua produção e as especificidades de cada um. Conforme o menu escolhido por nós os vinhos eram diferentes. Para compartilhar, cada um de nós, pediu um menu diferente. O almoço iniciou às 14:40 prolongando-se até às 16:00. Os vinhos   da vinícola são comercializados em loja ao lado do restaurante.

No dia seguinte, fomos visitar outra vinícola Bodega Família Cassone, que é mantida por uma tradicional família apaixonada por vinhos e cujos vinhedos tem mais de cem anos. Hoje, usa de última tecnologia, localizada em Luján de Cuyo, reconhecida por utilizar a melhor fruta e engarrafamento em barricas francesas o que a faz conhecida internacionalmente. Prima, pela qualidade do produto, investindo fortemente em recursos humanos e nas relações comerciais. A experiência e a habilidade técnica, credencia a empresa  a produzir  coleção de vinhos finos, premiados anualmente.

Após esta visita fomos almoçar no restaurante da Vinícola Casa Vigil – El Enemigo: com menu de 3 passos harmonizado com vinhos “El Enemigo”. Restaurante muito chique em ambiente acolhedor. Durante o almoço, os vinhos eram servidos por um sommelier que ia explicando as especificidades próprias para cada alimento escolhido. A vinícola conta com uma loja de comercialização dos vinhos por ela fabricados e ainda expõe produtos do artesanato local, pois a fazenda é decorada com peças e   quadros dos artesãos e artistas locais. Fizemos algumas compras e retornamos ao nosso hotel, onde podemos jantar comidas regionais.

No terceiro dia, logo pela manhã, fizemos o Check Out no hotel La Morada porque, iriamos fazer um passeio que envolvia o dia todo. Saímos às 8 horas para conhecer a Cordilheira dos Andes. Seguimos pela Ruta Nacional 7, que é a mais importante rodovia que liga Buenos Aires a Santiago. Durante a viagem paramos duas vezes em lugar que tinha restaurante e lanchonetes, para irmos à toalete, tirar fotos ou comprar artesanato onde predominavam peças de pedra e de couro.  Isto em Potrerillos e depois seguimos para, Punte del Inca , Laguna de Horcones, Uspallata e Mirante do Aconcágua, a montanha mais alta dos hemisférios ocidental e sul. Nessa rodovia, trafegam viajantes que se aventuram em esportes como: montanhismo, caminhadas, cavalgadas, rafting e outros esportes durante o inverno. A viagem é belíssima pela vista da paisagem, sempre margeando as montanhas de alturas imensas e de colorações variadas – preto brilhoso parecendo impregnada de metal que reluzia ao sol bater. Outros montes de cor avermelhados, cor de telha que iam gradiente e esmaecendo as cores sobrepondo-se tom sobre tom, num quadro pintado pela natureza, ora a cor cinza, ora esverdeado, azulado, amarelado em vários tons num quadro exuberante que só um exímio pintor sabia fazê-lo, compondo a Cordilheira de beleza indescritível. A vegetação própria do deserto era constituída de montinhos de mato de forma rarefeita em que o maior não excedia a um metro.  A estrada é de mão dupla. Bem sinalizada. Em perfeito estado de conservação. Nela transitam veículos longos, tanto vindo do Chile como indo da Argentina. Estivemos perto do Aconcágua, a uma altura exuberante, com seu topo coberto de neve. Ao vermos aquelas montanhas tivemos a noção de quanto somos pequenos e como é grande a imensidade de Deus. Só Ele seria capaz de criar coisa tão linda e fenomenal.

Saímos da região do Aconcágua para almoçarmos em restaurante localizado no “Glamping de Montaña – Domos Uspallata” de comida regional. O local, estava fora da rodovia oficial. Tínhamos que usar estrada de barro na extensão de uns 2 km. O restaurante era como uma barraca de formato meia bola-Domus Como estava chovendo almoçamos dentro do Domus. Ótimo o almoço, muito bem servido. No final da tarde pegamos a van para retornarmos à rodovia, mas para surpresa nossa a estrada que dava acesso ao Camping virou um rio caudaloso com enorme correnteza. Ficamos presos. Não tínhamos como evitar. A van era alta, mas diante da força d’agua seria derrubada. A água que víamos correndo era resultado da chuva e do degelo da montanha. Tudo tão rápido e de tamanha magnitude. Quando saiamos da região do Aconcágua vimos uma nuvem preta e caindo chuva no monte, mas não era tão próxima. Eu chamei atenção vendo aquelas nuvens escuras lá estava chovendo, podíamos observar, mas sem muita preocupação. Pois não pensávamos que iria chegar nessa situação em que nos encontrávamos. Voltamos para o Camping. Para sair dali só de helicóptero ou com tratores. Procuraram ver os tratores, mas os proprietários não estavam em casa. Tivemos que permanecer no camping. As cabanas que são chamadas de Domus quase todas estavam ocupadas com hóspedes. Essa condição de permanecermos ali nos deu oportunidade de conhecer o Camping como um todo. Ficamos embaixo de arvores que compunham a floresta onde se viam redes armadas, brinquedos e instrumentos para ginástica. As crianças ficaram brincando e nós sentados em grupos de poltronas debaixo das árvores. O gerente local nos mostrou um Domus que era o único desocupado. Constituía-se num quarto de casal muito confortável, dotado de um conjunto de poltronas, ar condicionado, televisão e banheiro. Se não tivéssemos como sair dali era única opção. Permanecemos na espera de uma resolução, que nos diziam a partir de 17:30 que a água começaria a baixar e aí ficamos esperando, foi quando foi às 19;00 h a guia veio nos avisar que a água havia baixado e ia fazer uma tentativa de sair do local. A van deveria ir margeando, porque a outra metade da estrada ainda continuava correr a água. E assim, fomos guiados por um motociclista que quando chegou a hora de atravessar o rio nos indicou o melhor caminho e foi dessa maneira, com muita peleja, subimos a ladeira embora pequena, criada pela correnteza, más com certa fundura, feita pela água. Conseguimos sair e retomar a rodovia oficial. Rezamos e demos graças a Deus. Chegamos em Mendonza às 21:30. Fomos direto ao Hotel Fuente Mayor que fica no centro da cidade.

No dia seguinte, tivemos o tempo livre para passearmos pela cidade. Visitamos algumas lojas de artesanato, adquirimos algumas lembranças e fomos almoçar no restaurante “Soberana” famoso e possuidor de estrela Michelin. Após, nos dirigimos à lojas especializadas em vinhos, e fazer compras de acordo com a cota permitida.

A viagem, por tudo que vimos e vivemos, torna-se inesquecível. Até o contra tempo porque passamos, foi muito importante para entendermos os fenômenos que eram contados sobre o desgelo e a enxurrada da água vinda das montanhas. Itapuan Filho, nora Ericka e os netos Luca e Gabriele, foram carinhosos e nos encantaram o tempo todo. Valeu! Uma coisa é você ouvir contar e outra é você viver.

Profª. Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP)

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