João Pessoa, 23 de fevereiro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Em condições outras, a felicidade de Hermann Hesse, não seria certamente a sobrevivência que arrasta a (des)culpa, de Seu Ninguém. Ninguém é comum, talvez, uma ilusão imóvel ou uma experiência imersiva.
Face à degradante crise mundial, e não chamaria de crise outra vez, certamente humanitária, mas não existe essa possibilidade de como se fosse um romance, uma forma explicação para escapar e dessa vez esticando o olhar com pena daqueles que ficaram para trás. Não sei. Eu não sou assim.
Sábado passado, o professor Milton Marques enviou um texto dele publicado no Ambiente de Leitura Carlos Romero, sobre a canção “Dolores Sierra”, interpretada por Wilson Batista, cuja letra nos leva para tempos remotos e que permanece na memória do homem, que é feito uma guerra e toda guerra é a mesma guerra e o homem é o mesmo em qualquer lugar. Seria um inerte?
A canção fala da vida e morte de Dolores Sierra, uma mulher que vendia o corpo, aliás, o bolero Dolores Sierra de 1956, de autoria de Wilson Batista (foto) e Jorge de Castro. Dolores é um nome com sobrenome. Isso importa?
Andei à procura de uma definição para a natureza dessa canção, que revele e não afugente, tentando justificar a continuação desse rolo, na entrega desse ofício desmesurado, mas a vida presta. Dolores que o diga!
A Dolores da canção, uma ficção (e deve ter existido), mas Dolores é uma arma de precisão que permite ser multiplicada, mas ela não conheceu “Nega Luzia”, (de Paulinho da Viola) “Era de madrugada, todos dormiam, o silêncio foi quebrado, por um grito de socorro, a nega recebeu um Nero queria botar fogo no morro”.
Os homens nunca serão Exupéry, porque o tempo não suaviza as barbáries, nem nada consegue mudá-lo.
Uma pausa – Numa sociedade que não parece abalada ou aparentemente, que sabe como ninguém escarafunchar e abrir feridas históricas, provocadas por ela mesma, mas quando o assunto é Dolores, eles esfolam, matam, sem noção da realidade. É isso que está aí. Tá assustado, tá? Tá assustado?
Os horrores dos dias, motociclistas assaltados, atropelados e mortos e a má fé de qualquer espera sem fim. Que desgoverno! Vivemos tempos de governos ultrapassados que são chamados em público de ladrões. Nada mudou.
O bando limita-se a construir simulacros, mas simulacros não coloca o pão na mesa e serve-se de efeitos de espelhos para gerar uma sensação de hipocrisia. Necas. Não sabem da missa um trancelim.
Ali, no meio da rua um inferno inteiro se movimenta e um pássaro enfiado numa gaiola sobrevive – e não é o pássaro de Machado de Assis, nem é o Carcará de João do Vale, que há 60 anos deu vida a voz da cantora Maria Bethânia, sequer “una paloma triste, muy de mañana le va a cantar” ou obrigado a cumprir um ritual de sobrevivência. Cuidado, o Carcará pega, mata e come!
O Brasil realmente desceu a ladeira. E o pior é que as queixas lhe saem num trinado desagradável ao ouvido dos penicos gerais. Esquece
Voltando a Dolores Sierra, em condições outras, eu aposto no taco de Paulinho da Viola, na voz de Wilson Batista: “eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim”
Kapetadas
1 – Se há algo que o Brasil domina com maestria é a arte do eufemismo. Cartas para o Responsório.
2 – Meditando aqui se devo aprender a meditar
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REAJUSTE - 21/02/2025