José Nunes
Foi em uma noite de silêncio no Bairro de Tambiá, já chegando à Lagoa do Parque Solon de Lucena, na casa onde eram revelados talentos das artes, que conheci o poeta Hildeberto Barbosa Filho, apresentados. Momento sublimar quando lançava seu primeiro livro de poemas, “A Geometria da Paixão”, sendo eu, acanhado e desconhecido poeta, levado pelas mãos de Gonzaga Rodrigues, vagava pelas iluminadas salas da Galeria Gamela, de Roseli Garcia.
Noite silenciosa porque vivíamos num tempo em que o silêncio era quebrado apenas pelo apito dos guardas noturnos. No silêncio de Tambiá dava para escutar o vento nas folhas dos jambeiros e oitis-da-praia. Nesse clima ameno, de um tempo em mutação cultural, Hildeberto nos bridava com sua geometria da paixão.
Foi meu primeiro contato com este poeta, cronista e estudioso da literatura, um apaixonado pelos livros e pela leitura, cuja admiração aumentava a cada obra literária dele que acrescia na minha biblioteca. Se não as tenho todas, porque são 69 volumes, dos quais 27 de poesia, todos sorriem entre Drumond, João Cabral, Bandeira, Ledo Ivo, Carlos Nejar, Manoel de Barros, Adélia Prado, Sérgio de Castro Pinto, Jomar Souto, Solha, Camões, Pessoa, Augusto, Virgílio, Tagore, Whitman, Jorge de Lima, Murilo Mendes…
O homem que pensa com as palavras é capaz de movimentar o mundo, fundamental é colocar em nossas vidas a poesia que nos encantam.
O poeta encontra o mundo, modela e anima-o. Felicidade chama felicidade.
O poeta que canta a felicidade, chama a felicidade para junto de si e dos que o leem. A poesia ajuda a crescer e renovar o ambiente onde o amor se estiola depressa.
Como foi agradável a leitura de “No Fim de Todas as Coisas”, o novo livro do confrade da Academia Paraibana de Letras, o professor e estudioso da literatura Hildeberto Barbosa Filho. São poemas que marcam os setenta anos de idade do poeta e cinquenta anos de poesia. Renovaram em mim a sensação de viver essa mesma idade, carregando a aragem fresca de Serraria e ele, saudoso, transportando a brisa norma de Aroeiras.
Hildeberto é daqueles que tem como propósito a leitura-vício, a busca do livro como lenitivo e massa para construção da escada da vida. A leitura como espécie de ópio que liberta da irrealidade para viver os sonhos que trazem alegria. Ele vai além da sadia leitura-prazer para a leitura como antídoto contra as dores do mundo, para a construção da beleza e dos próprios sentimentos.
Discordo de Valéry quando afirma que “o poema não se faz com emoções, mas com palavras”. Poesia se faz com emoção e palavras, sim. O poeta Hildeberto é artificie da palavra, que medita na sua solidão, vive a parte humana, carnal e sentimental com sua poesia, as vezes rasgando seu coração para falar do intimo da alma. Ele repousa na leitura para criar. Ócio criativo do espírito.
Acredito na poesia feita com emoção. O poema é projeção da emoção por meio das palavras.
Hildeberto uso o intelecto, de vasto conhecimento das palavras para expressar as emoções. Ele mistura a palavra e o sentimento em um suco emotivo que alimenta o prazer da leitura, por isso provoca uma emoção harmoniosa.
A leitura dos textos dos professores Chico Viana e Elizabeth Marinheiro, como introdução ao livro, nos conduzem ao território e ao cerne da poética de Hildeberto Barbosa Filho.
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