“Garoto” é homenageado por Cristovão Bastos, Romero Lubambo e Mauro Senise

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Fotos: Nana Moares

O trio está de volta. O piano acústico de Cristovão Bastos, os saxofones e flautas de Mauro Senise e o violão de Romero Lubambo trazem de volta a obra do inesgotável, melódico, harmônico e rítmico do mestre do violão brasileiro, Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto.

É um álbum precioso, uma homenagem ao grande mestre do violão, o paulistano Aníbal Augusto Sardinha, nome de pia do compositor conhecido por Garoto (1915/1955). O disco foi lançado em formato físico e digital pela gravadora Biscoito Fino e já está disponível nas plataformas.

O álbum “Lembrando Garoto” , no qual o trio carioca interpreta 11 sucessos de Garoto que há muitas gerações é uma referência nacional do choro e de outros ritmos como o jazz, que encantou públicos dentro e fora do país e integrou nos Estados Unidos da América o conjunto de Carmem Miranda.

Os músicos conversaram com o MaisPB e trazem histórias incríveis sobre a obra de Garoto que marcou história música brasileira

Mauro Senise

MaisPB – Que disco bonito – “Duas Contas”, que abre o álbum, parece um filme, uma cena longe, uma canção triste. Vamos começar por aqui?

Mauro Senise – Um clássico do Garoto, talvez uma das mais conhecidas dele. Recebeu aqui um lindíssimo arranjo do Cristovão. Linda introdução só com piano e flauta e a entrada do Romero com o violão fazendo o tema. Depois cada um de nós fez um improviso em tonalidades diferentes, criando um clima bem delicado.

MaisPB – Como veio a ideia de homenagear Garoto? Ficou muita coisa de fora?

Mauro Senise – Minha mulher, a produtora Ana Luisa Marinho, que tem sempre ótimas ideias, foi que nos incentivou a gravar esse CD. Naturalmente, como meus outros projetos em que homenageio grandes compositores, como Edu Lobo, Sueli Costa e Dolores Duran, Johnny Alf, Gilberto Gil, Noel Rosa e Paulinho da Viola (este em parceria com Cristovão), sempre vão ficar alguns temas de fora…

MaisPB – ´Infernal´ é outra canção triste, mas bem construída e tem um ar minimalista – estou certo?

Mauro Senise – Infernal começa mais à vontade, depois segue em estilo de Choro, mais ritmada, e eu a considero mais pra cima.

MaisPB – Essa é a segunda vez que vocês gravam juntos – você, Cristovão Bastos e Romero Lubambo?

Mauro Senise – Não, é a primeira vez que gravamos juntos. Com Romero tenho 2 discos em duo e um em trio com Edu Lobo. Com Cristovão tenho um CD em duo, o Choro Negro, dedicado à obra do Paulinho da Viola.

MaisPB – Qual a importância da obra de Garoto para música brasileira?

Mauro Senise – Aníbal Sardinha, o Garoto, é considerado um dos precursores da Bossa Nova. E um inovador, pra muitos o inventor do moderno violão brasileiro.

MaisPB – Tão bonita a melodia Gente Humilde em que Chico e Vinícius de Moraes deram retoques, né?

Mauro Senise – É, linda melodia, com letra posterior feita pelo Vinicius com Chico. Vale ressaltar o lindo arranjo do Romero, que reharmoniza com muito bom gosto essa belíssima composição do Garoto. Tenho certeza de que o resultado agradaria ao próprio Garoto.

Cristovão Bastos

MaisPB – Vamos começar pela canção Lembrando Garoto, como foi construída, foi feita especial para esse disco?

Cristovão – Eu posso dizer que essa canção nasceu exatamente por causa desse disco. Quando o álbum ainda estava na concepção, eu encontrei com Mauro Senise e a gente passando as músicas, pintou um começo de ideia na minha cabeça, e eu fui muito rápido, trabalhei nela. Como o formato era de música instrumental, normalmente sempre tem uma coisa de improvisar, eu fiz um choro com a primeira parte grande, e deixei só essa parte, os dois gostaram muito, tanto o Romero como o Mauro. Depois que a gente gravou esse choro, eu acrescentei mais uns trechos e ele virou uma peça para violão. Foi muito bom ter feito essa música, que ela ganhou uma vida além do álbum.

MaisPB – Qual a canção de Garoto de sua predileção?

Cristovão – Eu não consigo dizer assim minha música predileta do Garoto, porque elas são muito diferentes entre si. Uma música que eu sempre quis aprender durante muito tempo, foi ‘Tristezas de um violão’, que sempre me impressionou muito, inclusive cheguei a comprar uma vez a partitura para violão. E ‘Jorge do Fusa’ é outra que eu gosto muito. ‘Lamentos do morro’ é um samba que pra mim é um precursor dos sambas-exaltação. ‘Duas contas’ e ‘Gente humilde’ pra mim completam as canções de Garoto que mais me impressionam. Mas eu tenho um carinho muito especial por ‘Tristezas de um violão’

MaisPB – A faixa Benny Goodman no Choro é linda. Vamos falar dessa melodia?

Cristovão – ‘Benny Goodman no Choro’ é uma música muito interessante, o Garoto, ele fez um choro jazzístico, eu vou falar um choro jazzístico, porque não existe a expressão Jazzchorístico, que permite improvisos, mas ele mantém a linha do choro, se a gente o tocar pensando num tema americano, ele acaba funcionando, é uma ideia sensacional do Garoto. Os nossos solos ficaram numa linha boa entre o choro e o jazz. E é isso, é uma música muito especial, mostra a versatilidade do Garoto e também demonstra um respeito muito grande pelos músicos que ele conheceu quando esteve nos Estados Unidos.

MaisPB- E a arte da capa, ficou boa né?

Cristovão – Olha, a arte da capa, eu curti muito, tem uma referência assim no tipo de letra que tá escrito a palavra Garoto, que nos remete para uma coisa assim, dos anos 30, 40 por aí, e que eu acho muito importante até como homenagem. A estética ficou muito bonita.

MaisPB – O que teremos de novidade daqui pra frente…

Cristovão – O que teremos de novidade, é meio difícil de prever, a gente pode talvez falar mais de sonhos, de desejos, que consigamos apresentar esse trabalho muitas vezes, rodar bastante com ele, porque foi um encontro muito bonito, super musical, muito carinhoso, um respeito profundo pela obra do Garoto. Posso dizer, o resultado é muito bom, de um nível excelente. O que pode acontecer com isso? muita coisa, a obra está aí e provavelmente vai abrir muitos caminhos, é isso.

Romero Lubambo

MaisPB – Romero Lubambo e seu virtuoso violão abrilhantam esse disco em homenagem a Garoto. Como veio essa maravilha?

Romero Lubambo – Com uma família de músicos, desde muito jovem ouço minha mãe, meus tios tocarem música brasileira em casa. Comecei com samba e bossa mas rapidamente entrei no mundo do Jazz, rock e música pop. Uma mistura total. No caso do Garoto ouvia meu tio tocar várias das suas músicas e sem dúvida Garoto foi uma inspiração enorme para tudo o que veio depois dele em música Brasileira. Inclusive Bossa Nova. Fico feliz de ter tido essa oportunidade de fazer essa homenagem a ele especialmente com músicos e amigos tão fantásticos. Sorte !

MaisPB – A canção Jorge do Fusa – é uma coisa tão simples e o arranjo ficou muito bom, é uma melodia que almeja a voz, a letra. Estou certo?

Romero Lubambo – Para mim eu sempre ouvi Jorge do Fusa como música instrumental, ou seja, sem voz. Mais como música clássica. Aliás vejo a música do Garoto bem como música clássica com swing brasileiro.

MaisPB – Na sétima faixa vocês arrebentam, numa sutileza, um misto de amor. E quando o sax alto de Senise entra em cena e o piano de Cristovão Bastos, a música transcende. Vamos falar dessa canção?

Romero Lubambo – Essa canção é provavelmente a mais conhecida de Garoto. Gente Humilde! Adoro essa música desde pequeno. Pedi para fazer esse arranjo e vejo essa música assim: amor, delicadeza , e deixar a melodia falar por si. Essa eu ouvi com letra e cantada também. Mas nesse nosso caso instrumental. Muito linda sempre. E com Mauro e Cristóvão só podia ficar boa.

MaisPB -A canção Theme 1 é sua, não é? Vamos falar desse momento?

Romero Lubambo – Theme 1 é uma canção minha. Muito do jeito que Garoto me inspirou. Meio que música clássica com swing de samba …Mostrei para meus amigos e eles gostaram e quiseram gravar ! Gosto muito daquela harmonia em menor na primeira parte e maior na segunda. No geral estou muito feliz com esse nosso projeto. Acho importante que as pessoas tenham mais e mais oportunidades de conhecer a música do Garoto!!!!

Conheça o álbum “Lembrando Garoto” aqui

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