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Graduada em direito e pós graduada em direito criminal e família, membro da academia de letras e artes de Goiás, tenho uma paixão pela escrita Acredito no poder das palavras para transformar realidades e conectar pessoas

A poesia que não foi declamada

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publicado em 09/03/2025 ás 07h00
atualizado em 09/03/2025 ás 10h27
book with butterflies (Cbm painting)

Ela era pura poesia, um verso solto no ar, um gripo no ar, uma canção que ressoava emoções. Ele, por outro lado, era um enigma, incapaz de decifrar a beleza que ela irradiava. Um dia, movido pela ânsia de compreender seu mundo, ele decidiu traduzir suas palavras. Mas ao tentar moldar a essência dela em uma linguagem que ignorava, encontrou apenas o silêncio — o mesmo silêncio que sempre lhe oferecera enquanto ela o amava em um ritmo quase imperceptível. Tão bonito era e ela, a poesia.

Ela continuou a ser poesia, mesmo quando ele desistiu de ler seus versos. No fundo, ela sabia que aquele dia marcaria o início de um sofrimento silencioso, mas jamais abriria mão de sua essência. A poesia era sua vida; cada palavra escrita era um grito da alma livre e indomada. Era ali, nas linhas do papel, que ela encontrava abrigo e expressão para seus sentimentos mais profundos.

Enquanto isso, ele seguia seu caminho sem perceber que o amor se constrói nas pequenas coisas — gestos simples e olhares que falam mais do que mil palavras. A poesia dela tinha as respostas que ele nunca buscou; respostas que poderiam ter preenchido o vazio entre eles. Mas as almas deles estavam destinadas a viver distantes, como duas estrelas em constelações outras. Ele era o astro e ela a poesia.

Assim é a vida é uma coreografia de sentimentos e palavras que  não são ditas. Esbarram na garganta. Enquanto alguns conseguem sentir a melodia da poesia ao seu redor, outros permanecem alheios, incapazes de ler as entrelinhas do olhar. Ela continuou escrevendo sua história, mesmo sem a presença dele para apreciar. E assim seguirão, eternamente de costas — duas almas que não se encontraram no vasto universo que une as letras e os sentimentos.

A poesia dela continua brilhando mesmo que ele nunca aprenda a lê-la, porque algumas histórias são assim escritas para serem sentidas e não compreendidas; são versos soltos, alguns cruéis, outros afoitos e muitos cheios de amabilidades e esperam ser ouvidos por aqueles que dobraram a esquina.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB