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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

60 e poucos anos

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publicado em 09/03/2025 ás 20h28

A moça de Wando existe e mora pertinho da avenida Ruy Carneiro. Ela é linda e mandou um vídeo de Fábio Junior cantando com Roberto Carlos, a música que fala dos vinte e poucos anos. Era sábado de carnaval e eu estava sozinho com meus 60 e poucos anos. “Eu sou capaz de ir, vou muito mais além, do que você imagina”, destaca a letra.

Eu não sou rebelde porque o mundo quis assim  e se alguém impôs um limite à música, música nenhuma, – até as sertanejas, que são adoradas por milhares, as sofrências e as canções gerais de Minas – a MPB, a Bossa Nova, os Blues e  Rock and roll. Os batidões são paradas dos inferninhos, mas como eu prometi a moça, me viro do avesso só pra beijar e me enrolar nos seus cabelos.

O que não me assustou foi a excitação com a canção de Fábio Junior, que nos embalou noutros anos, nos vinte e poucos anos e nunca houve ordem ou desordem amorosa nesse sentido, embora a vida seja uma eterna rotina.

Nesse sentido, e para o bem geral do Procon do Amor, alguém diga a ela que entre esses moços, pobres moços, eu não estou: “Tem gente ainda me esperando pra contar, as novidades que eu já canso de saber”. Eu sou do tempo do pavão em cima do telhado.

Há seres do clã do demo, outros do Divino – a moça é um deles, que tem jeito imperioso, mandona, bate o pé, mas não compra briga –  lembra a menina do anel de lua e estrela.  Coisas da vida, choque de opiniões, mas essa moça está diferente, já não me conhece mais…

Trancados ou escancarados na memória dos meus vinte e poucos, sem repetir os mesmos lugares, onde encontrávamos a toalha molhada, aquela gargalhada, até debaixo dos caracóis de seus cabelos, uma história para não contar hoje, nos meus 60 e poucos anos.

A moça de Wando não me espera mais amanhã, nem na manhã, tão bonita manhã, de Antônio Maria, quando a presença do velho é o novo, o desconhecido, jamais batido, endoidecido e que não deixa de surtir em nós o efeito, já feito, no mundo que já não nos prende a nada. Talvez, love me tender, love me sweet, mas eu não aprendi falar inglês para lhe dizer I love you. Só não sei onde está minha calça Lee.

Calma moça, docemente as nossas letras iniciais ainda não foram colocadas na Castanhola, talvez amanhã de amanhã quando a gente acordar e eu te dizer que a felicidade vai desabar sobre os homens. Mas aí não sou eu, é o Tom Zé.

Calma moça, nossos destinos foram traçados na maternidade Cândida Vargas  e é  não só uma “paixão cruel, desenfreada, te trago mil rosas roubadas, pra desculpar minhas mentiras, minhas mancadas”.

Não ousaria dizer mais nada a moça que me mandou o vídeo, de modo a não perder o fio desse liame imaginário, porque não há outra coisa melhor de recear, nem pôr termo às coisas misturadas, os gostos iguais, os perfumes, as observações e conversas intermináveis.

Moça, o tempo nunca envelhece, corpo e alma estão na mesma oração, desde os Cíclames do Líbano. Lembra?

Kapetadas

1 – Quanta besteira, quanta burrice, quanta ignorância, quanta falta de conhecimento (tava aqui lendo meus próprios textos)

2 – Calorzinho da bexiga bom pra dar uns gelos.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB