José Nunes
Em recente aula de Português, Bernardo, meu neto de dez anos, filho de Angélica, na sua infinita ternura, esnobou em sala de aula. Se esnobar é a palavra certa, nessa situação.
Quando a professora comentava sobre o livro Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, dirigindo-se aos alunos, disse: “Certamente os avôs de vocês já leram este livro”.
Bernardo, de mão levantada, afirmou: “Meu avô José Nunes e o meu bisavô Gonzaga Rodrigues, são escritores e publicaram livros, com certeza leram”.
Isso amolece meu coração quando a mãe me contou.
Sabendo disso, temos esperanças de que ele, assim como os demais netos, e desejo para todas as crianças, sejam apaixonados pelos livros, pelas artes, pela natureza.
Cabe a nós, avôs e pais, colocar livros nas mãos dos netos ou dos filhos. A colheita veremos no tempo oportuno.
No entardecer da vida, com o olhar no horizonte desanuviando para a grande noite, o avô recorda-se do neto a sua infância, as realizações realizadas e os sonhos projetados em décadas no amanhecer, quando nuvens derramavam neblinas que fizeram nascer a grama no jardim da vida.
O neto é o espólio recebido sem merecer. Brota da semente do filho, e desta, em replantio, germina novas vidas. Simples de explicar, profundo no sentir. Tendo-o nos braços, recolhemos sensações de diferentes etapas da biografia de afetos.
Vendo os netos vitoriosos, ascendendo a mais um degrau na sua formação educacional na escola, volto meus pensamentos para a estrada que haverá de seguir, a partir de cada passo dado, idealizando sonhos, mesmo na inocência da idade.
Os sonhos não serão somente deles, mesmo que cada um de nós sejamos integrantes desse projeto. Eles realizam seus sonhos, nós, seus avôs e pais, os acompanhamos exultantes de alegria.
Na vida, desde cedo, projetamos aquilo que imaginamos realizar nos sonhos, na conjugação de amizades que reunimos em torno da família.
Um sonho realizado no filho ou no neto que escalaram mais um degrau na caminhada em busca de uma profissão é parte de um projeto partilhado em família, com a participação de pais e avôs, mesmo que às vezes pensado sozinho.
O avô deseja, no fundo do coração, que o neto supere o pai nos seus planos, nos seus projetos profissionais. Porque pai e avôs têm o desejo excelso de que o filho (neto) esteja pronto para alçar voo bem maior que eles.
Vendo o filho ou a filha crescer, os avôs, assim como os pais, desejam que tenham em si um grande amor, este amor que lhe dá asas, e saiba suportar mais facilmente as dificuldades para alcançar seus sonhos.
Avô quer chão fértil para o roçado dos netos, mais fecundo do que teve o filho. Terra com águo espiritual onde obtenha colheita superabundante. Na abundância de bençãos possam avançar na construção de um mundo cada vez melhor onde plantem e cultivem sonhos. O homem vive para sonhar e, sonhando, a esperança ganha corpo.
No contato com o livro, nas artes e na natureza a esperança se realiza na estação oportuna da vida.
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