João Pessoa, 21 de março de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O que faz um lugar ficar famoso, procurado por turistas e pessoas querendo fixar residência? Trata-se de João Pessoa, a terceira cidade mais antiga do Brasil, “a cidade onde o sol nasce primeiro”. Fundada em 5 de agosto de 1585, localizada no Nordeste, com uma área de 1554.291,6 km², o que corresponde a 18% do território brasileiro. Umas das primeiras a ser ocupadas por colonizadores, lugar de muitos contrastes sociais, cuja cultura foi introduzida pelos povos indígenas e africanos. A região, como um todo, é rica em aspectos culturais, culinária, danças, artesanato, festas e belezas naturais, mas cada Estado possui suas especificidades que constituem identidades culturais únicas. Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, João Pessoa havia recebido o título de segunda capital mais verde do mundo. A região Nordeste conta com aproximadamente 56,1 milhões de habitantes, com densidade demográfica de 36,1 habitantes/km². É o Nordeste subdividido em 4 regiões: zona da mata, agreste, sertão e meio norte.
Fiz este preâmbulo para poder contextualizar a cidade de João Pessoa. Ela sempre aliou boa infraestrutura, menor custo de vida e espaço geográfico com a área de 211,5 km². Penso que é isso que faz a diferença. Dois fatos, recentemente, chamaram-me atenção; foram duas conversas que tive com dois choferes de taxi. O primeiro, em Roma, quando descobri que o motorista era paulista e falando nos disse que era aposentado e estava fazendo um tempo ali enquanto sua filha, que morava em Paris, professora, ia em breve aposentar-se e que o sonho dela era vir para João Pessoa. Havia estado aqui em suas férias e ficou encantada e apaixonada pela cidade. A propaganda foi tanta que ele, também, em suas férias, resolveu vir com a família e conhecer a capital paraibana. Gostaram demais. Estavam se preparando para daqui a um ano e meio estarem de volta a João Pessoa. O outro motorista encontrei na viagem que fiz a Argentina. No retorno indo para São Paulo, disse-me ter visitado João Pessoa e agora viria comprar um imóvel para, então, mudar-se com a família. Fiquei admirada e procurei saber o que ambos faziam tomar tais gestos. Disseram achar a cidade pacata, sem violência, alegre, acolhedora, o custo de vida barato, etc….
Estes dois acontecimentos me colocaram atenta e curiosa para justificar tais atitudes com tanta gente querendo vir morar em Joao Pessoa! Isto pude observar quando tomei um Uber e conversei sobre o tema. O fluxo de turistas está intenso e que pessoas de fora estão se mudando para aqui. Tantos brasileiros como estrangeiros. Contou o caso de um empresário alemão que comprou um apartamento aqui. Com esposa e filho vêm todo verão e ficam dois meses. A cada dois meses vêm a João Pessoa e o plano é morar definitivamente. Durante sua permanência aqui dirige para ele. No aeroporto de São Paulo, de volta da viagem a Mendonza, encontrei um casal de aposentados, que passa seis meses aqui e seis em São Paulo; adoram Joao Pessoa! No período em que se ausentam tem cedido o apartamento a amigos que também resolveram residir em João Pessoa, e estão em mudança. Irão morar no Cabo Branco, perto deles. Olhando ao redor em Praia Formosa observei que mora um casal de espanhóis; na praia de Ponta Mato, moram americanos e alemães- mas para direita existe casa de família Norte Americana que no jardim veem-se bandeiras dos Estados Unidos e do Brasil. Se você for na feira e ao mercado de Cabedelo, como também nos Supermercados locais e de Intermares vai perceber o quanto de estrangeiros, pelo biotipo, e brasileiros com sotaques diferentes, de outros estados, frequentando o local e isto acontece também em bares e restaurantes.
Diante do exposto, procurei estudar e conhecer o fenômeno da imigração na nossa cidade. Fui ver e constatar do que falei nas minhas conversas, mas nunca realmente não me dei conta e nem tinha esse olhar de João Pessoa como os outros observam. Talvez porque esteja acostumada com as especificidades dos atributos referidos por eles e o métier do dia a dia me impeça de ver, sentir ou passar despercebido.
Fiquei curiosa e fui debruçar-me em conhecer melhor a nossa Paraíba. Lendo o texto de Ana Flavia Pilar no caderno de economia do “O Globo, ” de 16/03/2025, destaco: “ o Banco do Brasil estimou crescimento para o PIB da Paraíba de 6,9% no ano passado, bem acima da média nacional de 3,4%, apurada pelo IBGE. No censo de 2022, João Pessoa foi a cidade que mais cresceu: população metropolitana: 1.290.223. Constata-se ainda, um crescimento acelerado, isto comprova-se na alteração da paisagem onde aparecem arranha-céus e se vê construindo mais, no cotidiano, no trânsito a violência e os imóveis mais caros. Percebe-se, através do incentivo ao desenvolvimento do atual governo de João Azevedo, muitos projetos surgindo, como a ponte que vai unir Cabedelo a Lucena, com 2km de extensão, chamada Ponte do Futuro. A implantação de Polo Turístico Cabo Branco, atraindo empresários; rede hoteleira a ser instalada, converter-se-á no maior complexo de turismo do Nordeste; expansão das linhas aéreas, melhoria dos aeroportos e das rodovias, descortinando o progresso do Estado e em particular da cidade de João Pessoa. Está aí justificado esse fenômeno de ser tão procurada, cantada e decantada por todos que a visitam. Investiguei a razão desse encantamento e constatei possíveis motivos para tal: primeiro, situa-se geograficamente em lugar privilegiado, no extremo oriental das américas. Na Ponta do Seixas encontra-se instalado o Farol do Cabo Branco, sobre a falésia na praia do mesmo nome. Possui 19 metros de altura e seu alcance é de 27 milhas náuticas. É o ponto mais próximo da África. Devido ao contexto geológico oportuniza atrações naturais, e o próprio ambiente oferece às turistas praias paradisíacas dotadas de mirantes com vistas deslumbrantes, que proporcionam mergulhos com fotos subaquáticas, passeios em Buggy e catamarãs para vários lugares; Piscinas Naturais do Seixas. No litoral Norte temos o pôr do sol ao som do Bolero de Ravel, na Praia do Jacaré; a Praia Bela, na Costa do Conde – Litoral Sul. Ainda nesse município temos a Praia de Tambaba, que dista 30km da cidade de João Pessoa, conhecida como a primeira praia naturista do Brasil. Piscinas Naturais de Picãozinho, City Tour guiado em João Pessoa. Pequenas ilhas, como a de Areia Vermelha que é um banco de areia que se forma na maré baixa próximo à Praia de Camboinha, cercada por piscinas repletas de peixes. Durante o período que permanece descoberta, em média umas três horas em dependência da tábua da maré, converte-se em um parque aquático, pode ser utilizada por crianças pois o mar ao redor da ilha é de pouca profundidade com água cristalina, transparente, à disposição dos que querem divertir-se, pois lá instalam-se bares e restaurantes que servem frutos do mar e pratos variados de peixe. Neste contexto, pode-se citar empreendimentos que estão em fase de planejamento e outros já em ritmo de construção com investimento de valor considerável.
Outro aspecto que contribui para colocar João Pessoa, hoje, como um dos principais destinos turísticos do Nordeste: pesquisa realizada pela plataforma de viagens Booking.com destaca que João Pessoa deve se consolidar como a terceira cidade mais procurada por turistas de todo o mundo, em 2025. Chama atenção o seu patrimônio histórico cultural, a cidade velha com sua arquitetura barroca e arte nouveau. Destaco a igreja de São Francisco, do século XVI, com seus azulejos portugueses pintados no pátio e uma capela ornamentada com ouro. Possui Centro de Convenções dos mais modernos do Brasil, construção arrojada projetada pela arquiteta Isabel Caminha, com todos equipamentos necessários para realização de grandes espetáculos, com mais de 3000 assentos, sendo o Centro de Convenções elogiado pelos artistas que vem para se apresentar no Nordeste. A Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Arte, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer; a Fundação Espaço Cultural José Lins do Rêgo, –FUNESC projeto do arquiteto Sergio Bernardes; além de 33 museus em todo estado.
Acrescentem-se as festas juninas que acontecem no mês de junho na capital e no interior. Cada município tem suas peculiaridades e especiarias, na gastronomia, coreografias e danças etc. Nesse aspecto, sobressai a cidade de Campina Grande onde os festejos duram todo o mês. Devido à proximidade de João Pessoa – 126 quilômetros, e com estrada de excelente qualidade, faz-se o percurso em 1 hora e 30 minutos, recebe enorme fluxo de visitantes de todo o mundo. Adicionem-se a essas manifestações o cordel, a poesia popular, a capoeira, o maracatu e o coco de roda.
Quero enfatizar o artesanato da Paraíba, que se constitui em atração turística, pois o governo proporciona a cada ano dois salões de artesanato, cada um prestigiando uma tipologia e homenageando seus artesãos. Mega evento, no verão ocorre na cidade de João Pessoa e em junho na cidade de Campina Grande, coincidindo com a festa do maior São Joao do Mundo, proporcionada por aquela cidade. Converte-se em grande vitrine cultural das diversas regiões do Estado, representada por peças artesanais que são expostas por mais de 500 artesãos e artesãs, onde o visitante é capaz de identificar a cultura e o local onde são confeccionadas. O artesanato é incentivado por políticas públicas, em especial a local. A atividade envolve mais de oito mil artesãos cadastrados no PAP (Programa de Artesanato Paraibano). Funciona em todo o estado, com diversas tipologias, recebe apoio, consultoria e oficinais ministradas por renomados profissionais, estilistas e designers no ramo, como: Ronaldo Fraga, Renato Imbroisi, LiANA Bioisi, Armênia Rocha, etc. O artesanato paraibano está conhecido internacionalmente na Europa e América Latina, recebendo as suas artesãs premiações. Atividade que se torna atrativa ao setor econômico e cultural do país e do Estado. Organiza-se em Associações e Cooperativas de Artesãs, sendo referência para o mundo, como é caso da renda renascença que foi considerada patrimônio cultural imaterial da Paraíba, que abrange 3 mil rendeiras. A nossa cidade de João Pessoa se sobressai no mundo turístico por apresentar diversos atributos que já foram mencionados: pacata, sossegada e bucólica. Está famosa. Procurada por aqueles que gostam de lugares pouco explorados e que oferecem experiências genuínas e memoráveis, une a tradição à modernidade. Recebeu, em 2017, o título de cidade criativa pela Unesco, colocando João Pessoa como “Cidade Brasileira do Artesanato”. O reconhecimento de João Pessoa a coloca na rota turística brasileira por sua arte popular. “Esse reconhecimento teve grande contribuição e influência, devido ao projeto sereias da Penha; onde mulheres artesãs realizam o trabalho manual, dialogando com o design, moda, economia criativa, destacando a arte com escamas de peixe em fios de cobre. ”
Depois de estudar e investigar sobre a minha cidade eu mesma a redescobri porque a vida cotidiana vai passando e as ocupações tomam de conta com o impulsionar dos relacionamentos e afazeres e que não paramos para apreciá-la. Os turistas têm razão: João Pessoa é um paraíso aqui na terra. Temo que o desenvolvimento e o progresso possam torná-la diferente. Daí as autoridades públicas fiquem atentas para alcançar o desenvolvimento sustentável e conseguir que permaneça prazerosa e o remanso de todos aqueles que a habitam e a procuram e querem, aqui, ser felizes…
Profª. Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP
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PARA MULHERES VÍTIMAS - 21/03/2025