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MaisPB entrevista

‘Meu Caso de Amor com o Brasil’ e ‘Brasil Africano’ são lançados pela Pallas Editora

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publicado em 22/03/2025 ás 12h00
atualizado em 22/03/2025 ás 14h52

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Dois livros estão sendo lançados no Brasil – “Meu Caso de Amor com o Brasi”, do italiano Bruno Barba e “Brasil Africano: orixás, sacerdotes, seguidores”, do escritor, sociólogo e professor Reginaldo Prandi. As obras celebram os 50 anos da Pallas Editora. Os livros já foram lançados em São Paulo e Rio de Janeiro na Livraria da Travessa e no Rio na Folha Seca, na Rua do Olvidor.

São obras da maior importância – “Meu caso de amor com o Brasil” – segundo o autor, trata da sua experiência e amorosidade com nosso país. Tem de tudo: “o entusiasmo do primeiro contato com pessoas, a literatura de Jorge Amado, a baianização do Brasil, a beleza e o sorriso do Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo, o frio e o concreto de São Paulo, a memória da ditadura, a fome de democracia”, enumera o autor. A obra foi lançada originalmente na Itália, em 2023.

“Brasil Africano: orixás, sacerdotes, seguidores”, do escritor, sociólogo e professor paulistano Reginaldo Prandi, é uma reunião de artigos publicados, capítulos de coletâneas e trechos de livros publicados pelo autor que montam um panorama das mudanças sociais e religiosas ao longo de 50 anos a partir de pesquisa centrada no candomblé, mas também na umbanda e demais manifestações religiosas de origem africana e indígena. É sobre o Brasil africano, que tem história, sabedoria e resistência na luta contra o preconceito e a intolerância religiosa.

Reginaldo Prandi é professor Emérito da Universidade de São Paulo, graduado em ciências sociais pela Fundação Santo André (1970), obteve o título de especialista em demografia pela USP (1971) e, na área de sociologia, os de mestre (1974), doutor (1977), livre-docente (1989) e professor titular (1993). Entre outros prêmios, recebeu em 2001 o Prêmio Érico Vannucci Mendes, outorgado pelo CNPq, SBPC e Ministério da Cultura por seu trabalho de preservação da memória cultural brasileira; em 2017, o Prêmio Cátedra 10 Unesco-PUC-Rio. Foi indicado quatro vezes ao prêmio Jabuti. Em 2018 recebeu o título de professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Bruno Barba – antropólogo italiano, é autor de diversos livros, entre os quais 14 são sobre o Brasil. Este livro, que é fruto de suas viagens e convivência em nossas terras ao longo de 3 décadas, é o primeiro publicado no Brasil.

Trata-se de uma crônica jornalística que expõe um olhar crítico e apaixonado, a partir de seu mergulho na simbologia do candomblé, no sincretismo religioso, na miscigenação cultural, na visão do futebol democrático, nas questões históricas, políticas e sociais brasileiras.

O MaisPB conversou com os autores e traz mais novidades das obras.

MaisPB – Como nasceu esse livro com o título bem amoroso, “Meu caso de amor pelo Brasil”?

Bruno Barba – O título original, “Brasile e nuvole”, faz referência a uma famosa canção italiana (“Messico e nuvole”), que não tem sentido em português. Então a Cristina Warth, editora da Pallas, fez a proposta de chamar o livro de “Meu caso de amor com o Brasil” e o nome foi aceito por todos envolvidos na edição.

MaisPB – Essa é sua primeira publicação no Brasil? Como você se aproximou da Pallas Editora?

Bruno Barba – A primeira, sim. Traduzi a “Mitologia dos Orixás”, de Reginaldo Prandi, para o italiano. Sou leitor dos livros da Pallas e foi o Reginaldo quem nos apresentou.

MaisPB – O que você chama de “a baianização do Brasil” seria a mistura de todas culturas, os baianos, os cariocas, os pernambucanos?

Bruno Barba – Não exatamente. Significa a valorização da perspectiva baiana proposta por Jorge Amado, os pais e as mães de santo, as novelas, os filmes com Sonia Braga, a música de Caetano Veloso e Gilberto Gil.

MaisPB – Podemos falar também da beleza e dessa alegria do Rio de Janeiro, a cidade mais bonita da América do Sul, da canção de Caetano Veloso?

Bruno Barba – Rio encanta, conquista, inquieta. É linda, musical, atrativa e perigosa. Erótica, afro, quase como Bahia na sua alegria e violência. É uma cidade vibrante, sempre muito viva. Associo Caetano ao Rio (o menino do Rio), mas também a Bahia, onde nasceu e, claro, a Sampa que virou inspiração para ele.

MaisPB – E Sampa? Fale de seu amor por São Paulo…

Bruno Barba – Sampa é poesia concreta, deselegância, chuva, chuva e ainda chuva. Um rito de iniciação para Caetano e também para mim. No começo, foi tudo difícil: o trânsito, o clima, os contrastes, os sem teto, a Avenida Paulista. Depois comecei a amá-la. Lembro bem do momento: Foi justamente quando escutei, pela primeira vez, “Sampa”, do Caetano.

MaisPB – O seu livro também traz a memória da ditadura que vivemos no Brasil. Já assistiu “Ainda estou aqui”, do Walter Salles? O que achou?

Bruno Barba, Li o livro, vi o filme (sozinho, como fazia na juventude, para não ter distração). Sabia toda a história, conheço a época, mas ao ver o filme chorei e chorei (estou envelhecendo?). Indiquei o filme para todos os meus amigos. Nem todos foram ao cinema, mas os que foram, adoraram e me agradeceram pela sugestão. A Fernanda Torres está monumental nesse filme, mas a participação da Fernanda Montenegro é surpreendente.

Entrevista com Reginaldo Prandi

MaisPB – Fala um pouco sobre a compilação de textos do livro “Brasil Africano: orixás, sacerdotes, seguidores”?

Reginaldo Prandi – Os textos foram compilados por João Luiz Carneiro, procurando cobrir 50 anos do meu trabalho com as religiões dos orixás, especialmente candomblé e umbanda.

MaisPB – São 408 páginas – um catatau com 16 capítulos que traz as religiões afro-brasileiras, deuses, os rituais e muito mais. Ou seja, o livro é focado no Brasil? De algum período específico?

Reginaldo Prandi – O livro, como diz o título, é focado no Brasil, cobrindo diferentes regiões e cidades. Também diferentes temas.

MaisPB – Nós vivemos uma eterna confusão, com bandos que detonam o candomblé, isso está bem presente na intolerância religiosa, não é?

Reginaldo Prandi – Pura intolerância, consequência de um preconceito mais profundo, o preconceito racial, o racismo, que estruturalmente atinge também outras instituições com presença negra, como o futebol, nas relações de trabalho, nas oportunidades de educação, enfim, a lista é infindável.

MaisPB – Você convidou o escritor italiano Bruno Barba para lançar o livro “Meu caso de amor pelo Brasil”. Vocês são amigos? Qual é a importância da obra dele para os leitores brasileiros?

Reginaldo Prandi – Bruno é um parceiro de longa data, desde 1900. Ele foi meu tradutor de “Mitologia dos Orixás” para a edição italiana e, juntos, desenvolvemos vários projetos e publicações. Ele é o maior divulgador do Brasil na Itália. “Meu caso de amor com o Brasil” é o seu primeiro livro publicado por aqui.

MaisPB – O senhor tem uma vida dedicada a pesquisas e manuscritos – e tem livros até para o público infantil. Faria tudo de novo? Mas se pudesse escolher uma nova profissão, qual seria?

Reginaldo Prandi – Gosto do que faço. Se tivesse que, lá no começo, escolher outra ocupação, ficaria entre jogador de futebol e ator de teatro, embora eu não tenha qualidades para nenhuma coisa nem outra.

MaisPB