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Paraibano da Capital. Tocador de violão e saxofone, tenta dominar o contrabaixo e mantém, por pura teimosia, longa convivência com a percussão, pandeiro, zabumba e triângulo. Escritor, jornalista e magistrado da área criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba.

O Cavaco Chinês e o Rolete de Cana

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publicado em 23/03/2025 ás 19h39

Comer o que se vende nas ruas é delicioso. Pelo menos, foi, aqui na nossa Capital das Acácias. Havia muita coisa gostosa sendo oferecida por vendedores ambulantes, nas ruas da cidade. Além das comidas, propriamente ditas, havia também os pregões e até toque de instrumentos, que caracterizavam cada iguaria. A experiência era completa, visual, auditiva, olfativa e, obviamente, agradável ao paladar.

O Cavaco Chinês é um ótimo exemplo . Transportado em grandes cilindros de metal levados  a tiracolo pelo vendedor, deixava suas mãos livres para tocar um triângulo, geralmente feito de ferro de construção, de ótima sonoridade. De longe dava para ouvir o som do triângulo, bem ritmado. Já se sabia que era o vendedor que vinha se aproximando. Para os que não tiveram o privilégio de conhecer, o Cavaco Chinês é uma espécie de biscoito, bem fininho, enrolado ,  formando tubinhos pouco maiores que um palmo.

O apito com som agudo e em escala, ascendente e descendente , anunciava o Cuscuz Bondade. Cuscuz quentinho, pequeno, alguns diziam que tinha o formato de um seio, com mamilo e tudo, ensopado no leite de coco adocicado. Em regra, o vendedor passava perto do final da tarde. Algumas pessoas compravam como lanche, outras, já para enriquecer a janta. Eram vendidos num tabuleiro retangular , tipo estojo , levado na cabeça pelo vendedor, que ainda transportava um suporte de armar , pendurado no ombro. Mesmo com essa parafernália, o vendedor ainda conseguia soprar o tal apito, melodiosamente.

Para quem gostava de frutas, a oferta era abundante: laranjas doces, tangerinas, pitombas em cacho . Falar nas pitombas, é falar no famoso pregão, gritado pelo vendedor: “Chora menino, pra tua mãe comprar pitomba” . O Rolete de Cana (que não é fruta), era apresentado em forma de buquê de noiva. Quando a cana estava docinha, um sonho. Amendoim (que também não é fruta) , torrado e cozinhado. Na época junina, o cheiro do milho assando na brasa perfumava as avenidas.

Os sorvetes constituíam capítulo especial. Muitos, variados, sortidos, inesquecíveis. Nada dessa uniformização que se vê atualmente, onde tanto faz tomar um sorvete aqui , em São Paulo ou no Sul. O gosto é  o  mesmo, insípido e artificial.

A oferta era grande, mas, dois me deixaram memória afetiva. O primeiro foi o sorvete de Zé da Paz .  Empreendedor individual, tinha um único carrinho, que saia empurrando pelas ruas. O próprio Zé da Paz fabricava em casa o sorvete que  vendia. Além dos tradicionais sabores de chocolate e baunilha, o forte  eram os sorvetes de frutas locais. Inenarráveis.

A Sorveteria Tropical era um empreendimento bem maior, com sede própria na av. Alberto de Brito, Centro. Como produzia em escala industrial, conseguia oferecer uma variedade maior de sabores. Mantinha vários carrinhos vendendo pelas ruas. Até hoje, passado mais de meio século, ainda sinto falta.

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