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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

Os riscos do uso de tadalafila no pré-treino dos praticantes de academias

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publicado em 25/03/2025 ás 07h00
atualizado em 24/03/2025 ás 19h20

            Informações recebidas de amigos, leitores e também de educadores físicos, dando conta de um novo modismo, qual seja, o uso indiscriminado do medicamento “tadalafila” por alguns alunos de academias.

Segundo os relatos, os usuários ingerem tal substância, geralmente no pré-treino, acreditando que esta lhes proporcionará melhor performance.

Mesmo não sendo eu a pessoa mais indicada para falar de tal assunto, haja vista que este é um tema relacionado à área médica e farmacológica, resolvi pesquisar um pouco e colocar a discussão em pauta.

Nas minhas pesquisas pude constatar que o aumento no consumo do citado medicamento no Brasil é fato, e tem chamado a atenção dos especialistas. Segundo levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, as vendas da tadalafila quase triplicaram no país entre os anos de 2020 e 2024.

Originalmente esta substância é indicada para o tratamento da disfunção erétil e, segundo a indústria farmacêutica, no ano de 2024 foi o terceiro mais vendido no Brasil, com cerca de 31,4 milhões de caixas, ficando atrás apenas da “Losartana” e “Metformina”. Isto é uma prova inconteste, que o uso indevido, tem crescido em escala geométrica.

Dentre as pessoas que fazem uso indevido do medicamento, estão alguns frequentadores de academias. Dados da revista JRG de Estudos Acadêmicos revelam que 51% dos usuários com menos de 30 anos, homens e mulheres, consomem o medicamento com o objetivo de melhorar o desempenho na academia.

Nos últimos anos tem acontecido uma grande divulgação e, consequentemente, popularização da tadalafila na mídia em geral e redes sociais. Alguns especialistas ouvidos pela BBC News Brasil não sabem de onde surgiu essa ideia, mas o fato é que a divulgação está em algumas músicas de sucesso, memes, piadas etc. E tudo isto certamente ajudou a catapultar tal consumo.

O Dr. Luiz Otávio Torres – presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, afirmou que: “A teoria por trás desse uso da tadalafila no pré-treino envolve um relaxamento do endotélio, a camada que reveste a parede interna das artérias. E, segundo essa linha de raciocínio, isso permitiria a chegada de mais sangue aos músculos — o que supostamente levaria ao crescimento deles”. Mas, não há nenhuma comprovação científica para essas alegações, conclui o Dr. Torres.

Na bula, há apenas três condições para a prescrição médica desse remédio: a primeira e mais óbvia delas é a impotência sexual, por alguma disfunção orgânica; a segunda indicação da tadalafila envolve um quadro chamado hiperplasia prostática benigna marcada por um inchaço da próstata, que estrangula a uretra e dificulta a passagem da urina. Neste caso, o remédio é prescrito porque traz algum alívio na saída da urina; já o terceiro uso dessa medicação envolve pacientes com hipertensão pulmonar — o aumento da pressão arterial no principal órgão do sistema respiratório.     Os estudiosos dessa área são unânimes em afirmar que a tadalafila é uma medicação segura, desde que usada da forma correta. Contudo, esta é contraindicada principalmente, para aquelas pessoas que tomam remédios que contêm nitratos, pois a ação conjunta dessas duas moléculas pode baixar muito a pressão arterial. Entre os fármacos que trazem nitratos na composição, os mais comuns são: o propatilnitrato, a isossorbida, a nitroglicerina e o dinitrato de isossorbida.

Ainda em relação a algumas possíveis reações adversas relacionadas ao consumo desta substância os fabricantes informam na bula três grupos, a saber: as comuns, as incomuns e as muito raras. Entre as comuns estão: dor nas costas, dor de cabeça, indigestão, vermelhidão no rosto, dor muscular, dor nas extremidades, refluxo gastroesofágico e nariz obstruído. No tocante às reações incomuns, que podem acontecer entre 0,1 e 1% dos usuários, os laboratórios citam a dispneia (falta de ar); e, em relação aos eventos muito raros, que acontecem com menos de 0,01% dos consumidores a lista é maior e relaciona reações como: erupções cutâneas, coceira, inchaço no rosto, pressão baixa, visão borrada, priapismo (ereção dolorosa que dura mais de quatro horas) e até eventos cardiovasculares graves (como infarto e AVC).

Além das possíveis consequências pelo uso indevido da tadalafila, devo lembrar que é comum outro efeito colateral que considero grave, e que pode acontecer diante do uso indiscriminado deste medicamento para fins sexuais: a dependência emocional ou psicológica, ou seja, o indivíduo passa a acreditar que só conseguirá a ereção se consumir a referida substância.

Portanto, se você não está doente, não precisa de remédio. Se adoecer procure o profissional competente, só este saberá o que você precisa e como  ajudar.

Pratique atividades físicas e viva a vida sem drogas!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB