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Graduada em direito e pós graduada em direito criminal e família, membro da academia de letras e artes de Goiás, tenho uma paixão pela escrita Acredito no poder das palavras para transformar realidades e conectar pessoas

A transcendência da vida

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publicado em 01/04/2025 ás 07h00
atualizado em 31/03/2025 ás 22h12

Lembro-me nitidamente da sensação de ter a vida inteira pela frente, como se cada dia fosse mais um, um dia branco, pronta para ser preenchido, sonhar e conquistar.  Quando ingressei na faculdade de Enfermagem, sentia que o mundo estava ao meu alcance. No início, havia uma crença quase ingênua de que eu poderia me tornar a próxima Florence Nightingale, salvando vidas e transformando realidades. Já fiz muito  e creio, continuo a fazer de outra forma, essa arte.

O tempo avançou. A realidade se impõe. Conflitos surgem e a gente dribla – filhos e netos nascem na arte mais bela do gêneto humano e as desilusões descem ladeiras, só fica o que possivel questionar e avançar. Estou pronta. O que antes era um mar de possibilidades agora se transforma no amadurecimento. A vida, implacável, nos coloca no nosso devido lugar, o lugar de sempre, cidadã do mundo. Eu sou Antônia.

Recentemente, participei de uma aula experimental de teatro. Ao final, conversei com a professora que carregava consigo uma história impactante. Ela havia sido advogada, vivendo uma vida confortável e respeitada. Contudo, essa existência não a preenchia. O chamado para mudar veio de forma trágica: a perda de sua filha pequena.  Muito cruel. Com lágrimas nos olhos, ela compartilhou comigo, que só então percebeu a fragilidade da vida e a necessidade de viver  e viver mais, de maneira  pé mo chão.

Ela abandonou a carreira para seguir o que realmente fazia seu coração vibrar: o teatro. Incrivel, né? Tornou-se professora de mil histórias. Sem dinheiro, mas com uma alegria sem fim. Dinheiro não é tudo. A paz sim.

A primeira metade da vida é um tempo de expansão. Caminhamos por colinas, olhando para frente, sempre vislumbrando o céu, o sol e sem limites à nossa frente. Ao atingirmos o cume e a descoberta da descida, percebemos se evoluimos ou não e nada pode nos indicar fragilidades. Tem que  ser dura na queda, como está na canção de Chico Buarque: “O Sol ensolará a estrada dela, a Lua alumiará o mar, a vida é bela, O Sol, a estrada amarela, e as ondas, as ondas, as ondas, as ondas”

Na meia-idade, começamos a nos despedir de ter todo tempo do mundo. É chegada a hora da síntese e do recolhimento; é hora de reencontros e recomeços. A vida se transforma em um final de semana na praia: no sábado desfazemos as malas; no domingo já começamos a nos preparar para partir. E a segunda-feira continua sendo “dia de branco”

Essa é a realidade: não sabemos quando será o fim. Pode ser daqui há anos ou daqui há pouco, duas horas, não se sabe.

Quando ignoramos essa verdade e acreditamos que a morte está longe – como nossa cultura muitas vezes nos ensina—vivemos como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Mas não temos. A vida é frágil, fugaz e preciosa.

Ela era tão bonita!

Há exatamente quatro anos, no dia 30 de março, minha vida sofreu uma reviravolta. Minha amada irmã, com apenas 45 anos, sofreu um AVC e não resistiu. Ela era tão bonita. A dor da sua perda nos transformou e eu sinto sua falta todos os dias. Mas ela fez sua viagem. No entanto, ao mesmo tempo em que luto com essa saudade, lembro dela com carinho, amor, gratidão, afetos fraternais incomparáveis por todos os momentos juntas.

Já parou para pensar nisso? Ninguém sai vivo desse filme. Qual filme? A Vida é Bela, de Roberto Benigni.

O que nos separa do fim é apenas no começo um fator incerto. Se eliminarmos o tempo da equação, já estamos todos mortos.

Independente da sua idade ou onde você esteja –  você não tem todo o tempo do mundo.

Agora, você respira. Eu também. Está viva(o)!  Não é extraordinário? A vida é mais que bocejos, murmuros, festas e dores  – e você foi escolhido, viu?

Segundo Winnicott, pior do que morrer é não ter nascido—não só no sentido pulsar, mas no doloroso processo de amadurecimento, que nos permite abraçar nossa verdadeira missão.

Assim chegamos ao cerne da questão: não sabemos quanto tempo ainda temos pela frente. Cada respiração é um novo parágrafo dessa história. Eu disse parágrafo?

O único tempo que realmente possuímos é agora nesse instante e o próximo instante é desconhecido—o agora ou nunca, até que a luz finalmente se apague. Alexa, acenda a luz do quarto.

É isso, mais que isso, pare de desperdiçar seu tempo com conversas vazias ou relacionamentos tóxicos; busque aquilo que enche sua vida de significado e faz seu coração bater no ritmo transcedênte, nas plenárias e plenitudes.

o resto é o resto.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB