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Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Poesia, puro princípio do prazer!

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publicado em 09/04/2025 ás 07h00
atualizado em 08/04/2025 ás 19h33

 

Poesia é quando a pedra é pluma, e a pluma é pêssego, e o pêssego é pássaro, ponte entre o ponteiro e o canto.

Poesia é quando estou sozinho e só me resta o candeeiro das palavras. Poesia é palavra.

Segundo um ilustre bardo inglês, é a melhor palavra no melhor lugar possível. Lugar em cuja clareira, aberta e arejada, imperceptíveis, podem co-habitar o absurdo e o milagre.

Poesia é milagre que acontece quando nada acontece, ou, dito de outra forma, o próprio milagre da linguagem enquanto acontecimento.

Poesia é também beleza, e, se beleza, não se furta à conexão dos quesitos essenciais à sua fatura insólita e surpreendente, isto é, a integridade, a proporção e a claridade, na lição do mestre e sábio São Tomás de Aquino.

Poesia é fenômeno anfíbio, ambivalente, inexplicável, pois cultiva, na mesma seara de espantos, o calor de uma alegria para sempre ou a secreta “dor das coisas que passaram”.

Digamos que a poesia é aquele barco bêbado, à deriva das ondas, sem porto seguro para ancorar.

Poesia é a nau dos insensatos, o êxtase e o naufrágio que nos retiram, em momento raro e louco, do oceano ordinário das vivências automáticas e nos põem no limite do imponderável.

Poesia é direito essencial do ser humano, com todos os seus derivados naturais, a exemplo do sol e da lua, da terra e do ar, do fogo e da água, e das tantas tonalidades que beiram a aurora e o crepúsculo.

Poesia é o facho de luz de uma estrela solitária, a simetria acesa do silêncio no descampado do deserto e os animais feridos pela dura passagem das horas.

A poesia é matéria ubíqua, contempla os ocasos rudes do campo, a solidão do boi no pasto e, ainda, o fervor das metrópoles desoladas e cada homem, simultaneamente, como um estrangeiro e um irmão.

Nada escapa a seu olhar agudo, à sua escuta mágica, a seu toque fértil, a seu gosto vário, a seu cheiro único.

Poesia, suprema respiração!

Diria o poeta:  salvação, maldição, bálsamo, voragem, vertigem, alquimia, contemplação, desespero, epifania, artefato sagrado…

Poesia, puro princípio do prazer!

Essa poesia que circula pelo sangue gorduroso da vida como um líquido oleoso que a alaga por todos os poros, é a experiência de todos nós, bichos tristes e mortais.

Poesia é um recado de Deus!

Pois bem, essa poesia, essa possibilidade de poesia, é patrimônio universal de cada criatura anônima e poucas vezes se cristaliza na esfera material do poema.

O poema pode não ser a poesia!

Mas, se ela, essa poesia, que se oferta, gratuita e generosa, não ocupar o reino feérico das palavras, nada será o poema, em sua forma bruta e vazia.

Portanto, permita-me, leitor, um pouquinho de poesia!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB