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Zé Vitor lança 4° álbum ‘Imago Mundi’ e dispara nas plataformas

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publicado em 12/04/2025 ás 12h00
atualizado em 12/04/2025 ás 15h00
Foto: Eduardo da Matta

Kubitschek Pinheiro

Fotos – Eduardo da Matta

Com 26 anos,  ZéVitor tem música na veiasaca de literatura, teatro e outras artes presentes em sua vida toda. Filho caçula do ator e cantador Jackson Antunes, aos 2 anos se agarrou a arte do pai nas turnês, o que ajudou a construir sua identidade musical, integrando influências e estilos de diferentes gerações. 

O artista acaba de lançar ´Imago Mundi produzido por Aureo Gandurum som na caixa inteira deixa a aldeia e explode no universo. São raízes e travessias, pontes em colaborações com a artista galega Antía Muíño, o pai Jackson Antunes, a cantora Dora Sanches e a dupla César Menotti e Fabiano, e claro, o resgate de aboios de Téo Azevedo. Bom demais.

´Imago Mundi´, é o quarto álbum e três EPs e vários singles, um deles com mais de 5 milhões de streams, ZéVitor  – não é uma nova fase de ZéVitoré ele chamando a nova barca ´expedição a si mesm é o artista avançando chegando noutros rios. nas O disco está nas plataformas digitais com distribuição da Believe Brasil .
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Deixe-me Ir“, single que abriu alas para o álbum com um belo videoclipe, evoca um conflito armado e cita Oppenheimer, refletindo sobre o custo das ações humanas e a ilusão da fé usada para justificar a destruição.

Estão aí vozes da nova música, novo canto da cantora Dora Sanches e da dupla César Menotti e Fabiano, o arranjo amplifica a emoção, transformando “Até Me Perder” em uma estrada poética de que ao segue em frente.

Simplesmente”, é uma canção desse novo ciclo – (não custa lembrar de outra com esse nome Simplesmente do compositor brasileiro Paulinho Nogueira falecido na década de 1960)

 ZéVitor mexe com as metáforas. “Lira” explora a melancoliaperdida, da falta de direção e da desilusão diante da vida e do amor. A citação do texto de Fred Sommer, com brilhante interpretação do ator Jackson Antunes, amplifica a profundidade das emoções e enfatiza a sensação de carregar bagagens de sonhos vazios e memórias que já não fazem sentido.
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Belos os aboios de Téo Azevedo, que estampe a sonoridade da canção, a complexidade emocional continua em “πNeo”, que reflete a luta por liberdade e pertencimento em um mundo caótico

O MaisPB conversou com o artista e traz muito mais que o disco, traz a opinião de  ZéVitor, sua performance e humanidade.

MaisPB – Que disco lindo “Imago Mundi”, cheio de recados – vamos começar por aqui ?


ZéVitor –  Eu fico muito feliz que tenha achado isso, os recados são um bom começo… aliás, começo é uma boa palavra para tentar definir o que é Imago Mundi… É um primeiro passo mais consciente para a tentativa de enveredar pelas sonoridades de um Brasil que existe dentro de mim e consequentemente dentro de todas as pessoas que se juntaram nessa expedição em busca de uma espécie de tesouro musical… que é atingir níveis mais profundos da expressão, e aí os recados que você cita se fazem presentes nesse prazer que é ter uma língua tão rica e com tantas possibilidades para expressar esse tanto a se dizer…  

MaisPB  – Essa viola  nordestina é apaixonante e está bem presente nesse disco, né?

ZéVitor –   Armorial e apaixonante! Eu cresci ouvindo Nonatos pelas estradas, o trinado da viola nordestina sempre soou mágico onde quer que estivesse… nas cantorias de Bule Bule, nos desafios de Valdir Teles… nos repentes de Pinto do Monteiro… e agora falando do disco, acho que um dos pontos especiais deste trabalho é o encontro do meu grande amigo e produtor de Imago Mundi, Aureo Gandur com a viola nordestina… os caminhos que achamos juntos e que foram traduzidos por sua sensibilidade na expressão desse instrumento me parecem carregados de algo especial, principalmente ao apresentar a viola fora do termo regional legado a toda a parte da cultura que se afasta da praia e dos centros.

Foto: Eduardo da Matta


MaisPB – “Deixe-me ir” é uma canção linda, é tudo que a gente quer, né – deixar-se ir por aí – e tem uma voz falando em inglês – conta sobre essa ideia, de quem é a voz?

ZéVitor –    Deixe-me ir é uma canção sobre preocupações eminentes, desde que foi escrita pelo menos uma guerra já dura mais de dois anos, uma outra reacendeu de maneira mais violenta e o nosso país, por mais festivo que seja, também não consegue esconder suas próprias guerras… Deixe-me Ir é um protesto, um alerta de insegurança e falta de liberdade… A voz de quem você fala é de Robert Oppenheimer, conhecido como o pai da bomba atômica… na ocasião ele professa que na hora das explosões algumas pessoas riram, outras choraram e a maioria ficou em silêncio… e que ele lembrou de uma passagem do Bhagavad-Gita em que Vishnu dizia “Agora eu me tornei a morte, a destruidora de mundos”… acho que isso já nos dá possibilidades de mergulho nos significados.

MaisPB  Lindo clipe, parece um curta, muito bom – fala aí…

ZéVitor  – Tive a felicidade de poder trabalhar com uma dupla de diretores (Marcus R.F & Cony) muito talentosos! Conheci-os através de um artista muito especial chamado Caio, que junto aos diretores ajudou na edificação dessas ideias para esse clipe que, como você disse, é metido a curta… a belíssima fotografia de Eduardo da Matta nas glebas de Guapimirim me revela nessa paisagem bucólica com gosto de distopia… existem desconfortos que seguem, mesmos erros que são cometidos, a tentativa de fuga para dentro do baú e também para fora dele… o resultado me deixa muito feliz pois em questão de imagem e narrativa, não usar certos artifícios e atingir um lugar profundo por meio de simplicidade e sensibilidade, para mim parece uma experiência de sucesso… pois então estendo o convite para conhecerem o clipe de deixe-me ir <3

MaisPB – “Simplesmente”, a terceira faixa é de uma leveza – essa é pra tocar no rádio, né?

ZéVitor – Eu acredito muito no potencial que essa música tem, ela apresenta uma conversa de violões muito bonita somada à viola nordestina, um refrão que tem uma melodia medieval em contraponto a um samba triste com zabumba, uma letra que contempla algumas inevitabilidades da vida… também tem lindas linhas de cello gravadas pelo Puppi… elementos espaciais como chuva, floresta, mar… que participam da criação dessa atmosfera lúdica que a música causa…

MaisPB  – Essa canção “Lira” me lembra uma coisa de Mário de Andrade, ele fala de um homem lá longe, já está dormindo depois de um dia de trabalho, um brasileiro igual a ele. Fale um pouco sobre ela e a declamação…

ZéVitor –  Lira diz sobre a vida de um homem, que perde tudo e só lhe resta a lira, a inspiração… sua cruz é sua arte e suas escolhas estão sempre em equívoco, é uma canção sobre a perda de si mesmo, a tentativa de significado em quem sempre anda no limite de uma penumbra… são os acúmulos de tristezas e o endurecimento da vida… Quando me deparei com esse texto de Fred Sommer, tive que perguntar se poderia incluí-lo nessa música tendo o prazer da interpretação de meu pai… que acha uma belíssima interpretação incômoda para dizer tais palavras…

MaisPB – A faixa PiNeo tem um movimento de anunciação, parece uma guerra, e fala da seca, do furacão, que letra, hein? E tem essa coisa de “você que não quer ir não me impeça de chegar”… Isso lembra a canção “Deixe me ir”, estou certo?

ZéVitor  Está certo! Acho que πNeo e Deixe-me Ir dividem uma mesma coisa, um espírito de arauto… essa anunciação que fala, a coisa profética… ao passo que Deixe-me Ir fala de um movimento compartilhado entre todos e uma guerra externa… πNeo é um tanto mais íntima letrísticamente, πNeo é uma luta contra as coisas que de maneira pessoal me desagradam nesse mundo, a sub-valorização da cultura, a superficialidade do nosso tempo, a nossa falta de memória e atitude, a normalização da agiotagem dos bancos “o normal tomará nossa paz e se pagará pra existir”… a sede de poesia, de água… a fome de comida e de paz… Aqui assumo o papel de furacão contra aquilo que protesto e confesso meu sonho bucólico de fuga da metrópole…

MaisPB  – A faixa “Tempo” é para a gente entender que o tempo não espera por ninguém?

ZéVitor – A questão temporal permeia as músicas do disco, a passagem dele, a dor que as coisas inevitáveis causam… aqui uma parte disso pode ser exposta num tema todo dedicado a ele, o tempo… sua inevitabilidade, seu peso, sua prisão… a paciência para lidar com sua passagem, com a rapidez e a demora, com as perdas que ele traz… com o quão essa lei é muito maior que nós nesse mundo material.

MaisPB  – Já esteve cantando em João Pessoa?

ZéVitor –  Ainda não tive o prazer de cantar as músicas novas em João Pessoa mas tenho muita vontade de retornar… pelas primeiras vezes que cantei estive na cidade em companhia de minha mãe fazendo a abertura da peça “Sebastiana e Severina”, que sempre foi uma grandiosidade aos olhos de criança… a cidade que fica no ponto mais oriental do Brasil tem toda a minha vontade de retornar sempre e sempre…

MaisPB – E o clipe de “Santo Dia”, conta sobre ele…

ZéVitor  – O clipe de Santo Dia foi feito praticamente com a mesma equipe de Deixe-me Ir, é um prazer elaborar parcerias longas e duradouras… Santo Dia é uma música que sempre acreditei muito, acho que a estética que a música ganhou com os caminhos de produção que foram escolhidos encontram uma modernidade e um novo rumo para apresentar a felicidade e o sarro que a composição contém… o clipe segue a letra, nos apresenta o homem moderno e sua constante falta de tempo, o homem maquinado da empresa que há muito se converteu só em engrenagem dos interesses dos outros… exausto segue sem viver a própria vida… No clipe tenho a companhia do talentosíssimo ator Antonio Miano, que fez a direção de movimento desse nosso espelho e foi um belíssimo parceiro para contarmos mais história.

Veja o clipe da música ‘Deixe me Ir’

MaisPB