João Pessoa, 14 de abril de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Areia, cidade serrana do Brejo paraibano, reencontra seu lugar no mapa da cafeicultura nordestina ao investir no café gourmet. No Dia Mundial do Café, 14 de abril, o município celebra os frutos do Conexão Nordeste – 1º Encontro de Cafeicultores de Areia-PB, realizado nos dias 9 e 10 de abril. O evento reuniu produtores, pesquisadores e entusiastas de diversas regiões do Brasil em uma programação técnica e sensorial.
A iniciativa da Atura, Associação de Turismo Rural e Cultural de Areia, com o Necaf/UFPB contou com o apoio da Embrapa e promoveu o intercâmbio entre núcleos produtores do Nordeste. Para Leonaldo Alves de Andrade , presidente da Atura, o encontro cumpriu seu papel ao unir produção e turismo.
“Evento concluído de forma magistral! Ao final, tivemos uma reunião envolvendo representantes da cafeicultura de vários estados do Nordeste – Paraíba, Pernambuco, Ceará e Bahia. Com a participação da Embrapa Alimentos e Territórios, vamos fortalecer a Conexão Nordeste, promover o intercâmbio e a troca de experiências entre os diversos núcleos produtores de café. Estamos muito satisfeitos com os resultados e entendemos que cumprimos nosso papel enquanto associação que deseja promover a cafeicultura como produção associada ao turismo.”
Durante o dia de campo que ocorreu dentro da programação do Conexão Nordeste, os participantes visitaram o campo varietal da Universidade Federal da Paraíba. Segundo o professor Guilherme Podestá, coordenador do Necaf, a experiência permitiu uma imersão prática no manejo do café.
“Fizemos a visitação ao campo varietal da Universidade, um experimento com 32 variedades e cerca de 2.500 plantas. Mostramos aos participantes o desenvolvimento dessas variedades, os tratos culturais que estamos aplicando, os desafios enfrentados, como o controle de pragas e doenças, manejo de irrigação, adubação e a importância de trabalhar com múltiplas variedades para identificar as mais adaptadas à região e recomendar aos produtores.”
Cafés da Paraíba já pontuam entre os melhores do Brasil
Um dos grandes destaques do encontro foi a qualidade sensorial dos cafés produzidos na região. Segundo especialistas, os grãos paraibanos já atingem notas entre 82 e 86 pontos na escala da SCAA (Specialty Coffee Association of America), o que os classifica como cafés especiais — o topo da escala que vai de extraforte até especial, passando por tradicional, superior e gourmet.
Entre os cafés avaliados, um lote fermentado recebeu 86 pontos, com notas sensoriais de geleia de morango, frutas vermelhas e mel. A produção local, até então focada no Coffea arabica (espécie mais apreciada no mundo), agora se expande para o Coffea canephora (robusta), com o início do plantio de clones da variedade robusta amazônica.
A Paraíba já conta com 53 materiais genéticos de arábica e está prestes a instalar um novo campo varietal com mais de 20 tipos de robusta e conilon, o que reforça o potencial da região em inovação e diversidade genética na produção.
Nordeste unido pela cafeicultura
Renata Silva, analista de Inovação da Embrapa Alimentos e Territórios, destacou a importância da articulação regional promovida pelo encontro.
“A criação da rede de Conexão Nordeste para a cafeicultura é algo inédito no Brasil. Cada estado promoveu as conexões necessárias para avançarmos, atendendo às suas especificidades e, ao mesmo tempo, criando uma rede forte para que, juntos, o Nordeste consiga um posicionamento de destaque na cafeicultura brasileira, com eficiência, qualidade e sustentabilidade.”
Futuro promissor
Entre os encaminhamentos do evento, estão o fortalecimento das parcerias técnicas e comerciais, ações de capacitação e a exigência por cafés de excelência já para o próximo Festival Gastronômico, em outubro. Areia prepara o solo — literalmente — para se firmar como capital do café gourmet no Brejo paraibano e referência nacional em qualidade e inovação na cafeicultura.
O impacto do ressurgimento do café no município
Leda Maria, dona da Pousada Aconchegart, no centro de Areia, iniciou sua jornada no cultivo de café há cerca de sete, quando recebeu seis mudas de um amigo professor mineiro que conheceu seu sítio. As plantas resistiram e floresceram, despertando pouco interesse na época. Em março de 2023, com o apoio da UFPB e da ATURA, ela retomou o cultivo adquirindo 500 mudas e decidiu plantá-las no mesmo local onde os primeiros pés haviam sido plantados. Coincidentemente, os antigos cafeeiros começaram a frutificar e renderam quase quatro quilos, o que empolgou a família — filhos, genros e os caseiros — que participaram de todo o processo artesanal, desde a colheita até a torra no fogareiro.
Assim nasceu o Café da Lêda, lançado junto com o segundo livro da autora, Momentos Meus – um cafezinho entre versos e prosas, e apresentado com uma degustação que consagrou o nome do produto. Em abril de 2024, Leda plantou mais 500 mudas e, em fevereiro de 2025, outras 500, totalizando 1.500 mudas — sendo mil adquiridas com a UFPB e 500 produzidas no próprio sítio. O café, beneficiado no NECAF da UFPB, já chegou ao mercado e tem gerado expectativa para a primeira grande safra, prevista para junho/julho deste ano. No fim de 2024, a colheita inicial rendeu 32 quilos, todos comercializados com sucesso. Leda se orgulha do seu sítio de 35 hectares, onde cultiva com paixão e se prepara, com fé e entusiasmo, para receber visitantes e expandir seu sonho.
A empresária Maisa Melo resgatou uma tradição centenária ao investir no cultivo de café em sua propriedade, inspirada pela história do avô, Luis Ignacio de Melo, que entre 1915 e 1920 plantou café e, com os recursos da safra, construiu a Casa Grande da fazenda. Movida pelo orgulho das raízes familiares e pelo potencial da cultura cafeeira, ela decidiu dar continuidade a esse legado com um olhar voltado para o futuro.
Maisa agora une agricultura e turismo ao propor uma vivência única no seu cafezal no Engenho Várzea do Coaty: um turismo de experiência em que os visitantes podem participar de todo o processo — da colheita ao preparo. No período de safra, quem for ao local vai poder colher os grãos, acompanhar a torra, moer o café e, por fim, saborear a bebida feita com o fruto do próprio esforço, criando uma conexão sensorial e afetiva com a história da terra e de sua gente.
Maria Júlia Baracho também é empresária e diretoea executiva do Engenho Triunfo de Areia, cultiva na área do engenho dela dois mil pés de café. A colheita deve acontecer entre abril e maio. “A ideia é fazer do retorno do café para nosso solo uma maneira de criar a construção de mais renda para nosso município, com foco no turismo de experiência com visitantes provando do nosso café em nossos cafezais”, potencializou Maria Júlia.
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 15/04/2025