João Pessoa, 15 de abril de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Às vezes, me pego pensando se realmente estou fazendo a coisa certa. O modo como me desligo das pessoas pode parecer estranho, mas talvez seja uma habilidade que desenvolvi ao longo do tempo, um mecanismo de defesa que se tornou parte de mim. Não sei se é saudável, mas posso gostar de alguém para sempre, guardar suas risadas e histórias em algum canto do meu coração, sem que isso signifique que eu queira estar presente na vida dessa pessoa. É esse contraste que me deixa confusa: a capacidade de amar de longe, de deixar o afeto fluir como um rio em direção ao mar, sem olhar para trás.
Quando olho para as relações que construí — sejam amizades, laços familiares ou aquelas conexões passageiras — percebo que muitas delas se tornaram como folhas secas levadas pelo vento. Momentos intensos, trocas sinceras e promessas compartilhadas muitas vezes se transformam em ecos distantes. É como se eu criasse uma barreira invisível entre nós, um espaço onde você pode me amar e eu posso te amar, mas onde a proximidade física e emocional se torna um território proibido. Uma dança delicada entre presença e ausência.
É curioso pensar que esse desapego não é fruto da indiferença; ao contrário, brota de uma sensibilidade profunda. Amar alguém intensamente pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, existe a beleza de compartilhar momentos; por outro, há o medo do desgaste emocional e da vulnerabilidade exposta. Quando decido me afastar, sinto que estou preservando o que há de mais precioso em mim: o amor puro e imaculado que guardo para aqueles que já não estão mais ao meu redor.
As pessoas entram na minha vida como explosões de luz, trazendo cores vibrantes e alegrias inesperadas, mas quando chega o momento do adeus — planejado ou abrupto — eu me recolho em um casulo feito de silêncio. Nesse espaço seguro, onde a dor não alcança, sou capaz de sentir saudade como uma sombra suave. Posso lembrar do seu sorriso e das nossas conversas sem querer reviver os dias em que éramos próximos.
E assim sigo, com um coração cheio de lembranças e uma mente habitada por fantasmas do passado. Para muitos, essa forma de desapego pode parecer fria ou cruel. Mas para mim, é uma maneira de preservar o amor por aqueles que passaram pela minha vida. É como guardar uma fotografia antiga em uma caixa preciosa — uma recordação valiosa que não precisa ser exposta ao mundo para continuar existindo.
É isso, estou me desapegando sileciosamente.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
BOLETIM DA REDAÇÃO - 15/04/2025