João Pessoa, 18 de abril de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
No romance “O primo Basílio”, Eça de Queiroz narra o triângulo amoroso entre Jorge, Luísa e Basílio, onde a empregada Juliana, uma chantagista compulsiva – e todos os chantagistas são perversos – apavora a vida da jovem Luísa, ameaçando-a delatá-la ao marido Jorge.
Todos conhecem o caráter dos chantagistas: se a vítima ceder uma vez, nem adianta pensar que a chantagem irá acabar. É da natureza dela se estender no tempo, consumir a vítima, sufocá-la, domá-la porque, ainda que atendida em seus propósitos, sempre renovará seus intuitos criminosos.
O mesmo ocorre com a concessão de certas anistias. Anistia, quase sempre, é incentivo ao retorno do crime perdoado. Corre no sangue desse tipo de gente o germe dos atos delituosos. Que o digam os golpes de Estado, ou as tentativas deles, engendrados pelos militares na América Latina.
No Brasil, por exemplo, a falta de punição aos torturadores da época do regime militar, deu nisso. O oito de janeiro, ainda que muito mal engendrado – e nem poderia ser diferente, dada a essência bronca do mentor – foi apenas saudades da ditadura, a busca pela boquinha do poder.
Não se é contra as anistias. Umas são legítimas, aceitáveis, posto serem justas. A concedida à brava gente brasileira que lutou em defesa do estado democrático de direito contra a ditadura implantada em 1964, é desse último tipo.
No entanto, essa anistia que a extrema direita busca para os criminosos do dia 8 de janeiro tem a mesma herança genética das chantagens: oportunista, inescrupulosa, despudorada, absolutamente inoportuna. Dir-se-ia que é simples continuidade da tentativa do golpe de Estado, agora engendrada pelo braço institucionalizado de um Partido Político que tem uma propensão quase atávica em acomodar parlamentares de aclamado mal caráter.
Então, é hora da democracia brasileira se proteger desses criminosos. Mantê-los na cadeia, sim. Se forem anistiados, na primeira das eleições que perderem, voltarão mais fortes. Se da última vez vilipendiaram os prédios dos três Poderes da República, em nova oportunidade, colocam um ditador sanguinário no Poder. Vade retro.
@professorchicoleite
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