João Pessoa, 22 de abril de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
“Olha o Leite”, gritava aquela voz diária do lado de fora do mundo tocando uma sineta, daquelas que ficam penduradas no pescoço dos bois e vacas, enquanto aguardava na frente da casa que alguém saísse com a vasilha para comprar,
O leiteiro trazia o leite em cima de uma carroça de burros, dois ou três vasilhames, enormes de alumínio e perguntava quantos litros freguês? Daí então com a panela surrada de alumínio com cabo de madeira, abria o vasilhame e derramava aquela delicia na vasilha.
Essas lembranças de ontem, de sempre, do tempo que não volta mais é uma simplicidade associada a uma falta do que foi.
Tudo hoje em dia faz mal. A nossa cozinheira levava o leite para ferver, pois minha mãe dizia que “leite só fervido” e o cheiro que ele exalava pela casa de manhã cedo. Tudo do leite é bom, a coalhada que se fazia o queijo manteiga, que se comprava na venda do mercado, a manteiga do sertão, aquela de garrafa, que maravilha.
O leite não é mais leite, o queijo coalho e o queijo de manteiga deixaram de ter aquele sabor peculiar do nosso sertão, com pãozinho assado cujo aroma não sai da minha memória. Hoje, não existe mais e não consigo imaginar o porquê escrevendo e desabafo, a me lembrar de um queijinho industrializado que vendia nos supermercados que possuía um paladar todo especial, sendo que hoje não existe mais.
O que aconteceu? Mudaram as vacas? Já sei, perderam a receita, pois provavelmente ela era mais complicada e hoje em dia com automação não conseguem mais chegar ao mesmo padrão de sabor de antigamente. É triste, pois muitas vezes sabores e odores nos remetem a tempos idos, tempos felizes e tem dom de momentaneamente nos levar ao passado.
O meu leiteiro está vivo em mim. Sigo meus dias sempre me lembrando daquele sabores da infância, que tanto nos davam prazer.
O meu leiteiro nunca morreu, como o leiteiro do poema de Carlos Drummond de Andrade, que morre no final.
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 22/04/2025