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Enquanto todos olham para os colaboradores, os líderes seguem à deriva. Estão sobrecarregados, despreparados e, na maioria das vezes, em silêncio. É como se houvesse uma blindagem ao redor de quem ocupa posições de comando, como se a função de orientar, planejar e inspirar bastasse para torná-los invulneráveis. Mas a realidade é outra, e ela começa a cobrar um preço alto.
Em um momento em que as empresas se debruçam sobre programas de engajamento, benefícios e bem-estar para suas equipes, um ponto essencial da gestão tem sido deixado de lado: quem cuida de quem cuida? Líderes de equipes em todo o Brasil, especialmente em empresas de pequeno e médio porte, estão enfrentando desafios cada vez mais complexos sem o preparo adequado. São cobrados por resultados, pressionados a adotar novas tecnologias, exigidos como modelos de comportamento e, ao mesmo tempo, pouco ou nada acompanhados no desenvolvimento das suas próprias competências humanas.
Um estudo recente da Deloitte, feito com quase dez mil líderes e profissionais de recursos humanos no mundo todo, revela um dado alarmante: apenas sete por cento das empresas dizem estar avançando na reinvenção do papel da liderança. E se isso já assusta em nível global, o cenário fica ainda mais crítico quando olhamos para a realidade local. Na Paraíba, não são poucos os relatos de líderes promovidos por desempenho técnico, mas sem qualquer formação em gestão de pessoas, tentando “dar conta” no improviso.
Segundo o mesmo levantamento, dois terços dos gestores afirmam que os novos contratados chegam despreparados. Isso demanda mais orientação, mais paciência e mais tempo. Mas o tempo, que deveria ser dedicado a desenvolver pessoas, está sendo consumido por tarefas operacionais. Os gerentes gastam cerca de quarenta por cento do seu tempo resolvendo problemas do dia a dia e apenas treze por cento com ações de desenvolvimento humano. A matemática da liderança não fecha. E, pior ainda, quarenta por cento desses líderes relatam queda significativa na saúde mental após assumirem o cargo.
Na prática, a falta de apoio à liderança gera um ciclo vicioso. O líder despreparado não consegue formar bem sua equipe. A equipe se desmotiva, entrega menos, gera mais conflitos. O líder, mais sobrecarregado, se afasta ainda mais da sua função estratégica. E assim, a roda gira, até quebrar.
Em um estado como a Paraíba, que avança no empreendedorismo, mas ainda engatinha na consolidação de políticas de formação continuada nas empresas, esse problema pesa mais. Faltam programas estruturados de integração, capacitação e acompanhamento. A proposta de valor ao colaborador precisa ser revista, e isso inclui o líder. Não basta oferecer um bônus ou um plano de saúde. É preciso um pacto mais profundo, que envolva desenvolvimento real, espaço de escuta e suporte emocional.
A chegada da inteligência artificial ao RH também trouxe novos dilemas. Se por um lado promete eficiência e automação, por outro desafia os líderes a navegarem em ferramentas que nem sempre dominam. A insegurança diante da tecnologia, somada à pressão por metas, mina a autoconfiança e amplia o desgaste emocional.
Ainda segundo a Deloitte, as pessoas têm mais chance de permanecer em uma empresa quando percebem que sua trajetória profissional está alinhada com qualidade de vida e clareza sobre o futuro. O mesmo vale para quem lidera. Um líder confuso, exausto e mal orientado não consegue sustentar um time por muito tempo. E por aqui, talvez o gesto mais estratégico que uma empresa possa fazer seja olhar com mais atenção para quem segura as pontas no dia a dia.
Desenvolver lideranças não é um luxo. É sobrevivência. É investimento. É inteligência organizacional. E se queremos um mercado mais forte, justo e inovador na Paraíba, precisamos formar gestores com empatia, consciência e capacidade real de conduzir pessoas. Liderar é mais que um cargo. É uma construção que começa com apoio, passa por formação e exige, acima de tudo, humanidade.
Porque ninguém segura um time por muito tempo se estiver caindo por dentro.
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ORÇAMENTO DEMOCRÁTICO - 22/04/2025