João Pessoa, 17 de fevereiro de 2015 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
É, no mínimo, curioso para quem assiste de camarote o show de contradições dos dois lados no prematuro, porém, inflamável e crescente debate do impeachment da presidente Dilma Roussef, no olho do furacão de um poço sem fim de denúncias, descobertas e escândalos da Petrobrás.
Interessante assistir o mesmo PT que lutou com unhas, dentes e barbas pela deposição do então presidente Fernando Collor, deflagrou a campanha “Fora FHC”, simplesmente ignorar as graves acusações que pesam sobre o governo e o alto escalão do PT resumir toda a discussão a “golpe”.
Em 1999, Luís Inácio Lula da Silva, a maior liderança petista, não tinha qualquer constrangimento em vaticinar: “Não é possível assistir calado ao governo Fernando Henrique destruir o país. Vivemos uma crise moral e ética sem precedentes. Por muito menos o Collor sofreu impeachment e Nixon renunciou”. O que será que o Lula daquele ontem diria do quadro de putrefação de hoje?
Do outro lado, Aécio Neves da atualidade é mais comedido e não enxerga elementos cabais para um processo de cassação do mandato da presidente. No final da década de 90, entretanto, reagia à pressão do PT sob a égide de não estar defendendo o presidente, “mas a democracia”, postura bem diferente de agora.
Para aquele Aécio governista, o “movimento [Fora FHC] se transformou na busca da quebra institucional”. Para o Aécio da oposição em 2015, o assunto “não está na pauta do nosso partido, mas não é crime falar no assunto”. O Lula contemporâneo acusa os adversários: “Na falta de votos buscam atalhos para o poder”.
Os contextos são semelhantes, os personagens são os mesmos, mas donos de posições antagonicamente diferentes quando o relógio do tempo marca passado e presente. Conclusão: os políticos são isso aí. Agem, pensam e lutam de acordo com as conveniências da hora. As que interessam aos seus projetos.
*Reprodução do Jornal Correio da Paraíba.
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OPINIÃO - 22/11/2024