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Jornalista desde 2007 pela UFPB. Filho de Marizópolis, Sertão da Paraíba. Colunista, apresentador de rádio e TV. Contato com a Coluna: [email protected]

A crise e o resgate do São João

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publicado em 04/04/2015 ás 08h13
atualizado em 04/04/2015 ás 08h14

Já que o contexto de crise econômica tem servido pra tudo, de argumento para congelar salários dos servidores públicos, de desculpa para cortar espaços de apadrinhados na gestão e de álibi para represar a convocação de concursados, bem que os gestores paraibanos poderiam acrescentar mais um item na lista.

E esse, convenhamos, seria para uma nobre e boa causa. O preâmbulo é para encorajar prefeitos de nosso Estado a aproveitar os tempos de vacas magras e reformular a grade da programação de suas festas de São João, totalmente desvirtuadas da essência com a inserção de atrações descomprometidas com a cultura nordestina.

Falo, sem arrodeio, de duplas sertanejas donas de bastante sucesso e fama, principalmente no eixo do centro oeste e sudeste do Brasil. Apesar de nada ter haver com a festa junina, esses sertanejos comumente são contratados a peso de ouro para animar a festa com repertórios completamente alheios ao tema.

Sem contar as estouradas bandas ditas de forró de plástico. Nada contra e todo o respeito a quem gosta, mas não há como não perceber o quanto destoam da tradição da festa. Das letras pobres, chulas e até desrespeitosas à pobreza mesmo enquanto arte e missão de difundir e preservar nossas melhores tradições.

Claro que esse segmento atende e diverte grandes e crescentes platéias e, por isso mesmo, não dependem das agendas dos eventos públicos para garantirem altos rendimentos aos seus empresários e manutenção das suas caras estruturas, inclusive, de pagamento de jabá às emissoras de rádio para fabricação imposta de sucesso.

Assim, organizadores dessa festa estão com a faca e o queijo na mão. Na opção pelos grupos e atrações com real contribuição e envolvimento com a magia do São João, resgatam o brilho de uma festa de inspiração rural, familiar e poética. Com outra vantagem: economizariam milhões do erário.

Nem um… – Outra constatação: pela sua característica rústica, do cheiro da roça e tradição secular, nem o verdadeiro São João precisa no palco dessas famosas bandas de “forró”…

…Nem outro – …E nem essas empresas que dão suporte a essas atrações precisam das festas públicas para sobreviver. Elas já se pagam, e bem, pelos eventos privados, e não são poucos.

Símbolos da resistência – Na Paraíba, são poucas cidades que ainda resistem na manutenção da tradição do São João. Afora Campina Grande, que faz, disparado, o maior evento do Brasil, João Pessoa, Patos, Santa Luzia, Bananeiras, Solânea, Belém e Sousa, pra ficar nas mais conhecidas, continuam mantendo esforços para garantir a perpetuação da festa.

Força… – Gerido nessa edição por Temístocles Cabral, o Maior São João do Mundo deve se reinventar: a ordem é economizar, mas sem deixar o evento perder força e tamanho.

…Tarefa – Há tempos, o São João de Campina Grande enfrenta dificuldades. Apesar de símbolo cultural e de proporcionar considerável arrecadação, a festa tem suas limitações.

De longe – O evento não se paga. Desde a gestão de Veneziano Vital, os organizadores se viram na prospecção de recursos privados, mas eles nunca chegam na proporção pretendida.

Resultado – Frequentemente, para preservar o volume do evento, em contraposição ao rival de Caruaru (PE). Gasta-se muito mais do que se arrecada. As contas não fecham.

Déficit – Por isso, virou praxe concluir a quitação das atrações de um ano quase às portas do fechamento das contratações do subseqüente. Uma bola de neve sem fim.

Vassoura nova – No primeiro ano de gestão, o prefeito Luciano Cartaxo (PT) arregaçou as mangas e proporcionou um evento marcante no Ponto de Cem Réis. Surpreendeu a todos.

Empecilhos – Ano passado, Cartaxo pisou um pouco o pé no freio devido o confronto com o MP. Relocado para a praia e no meio de uma polêmica, a festa perdeu um pouco o brilho.

Vacas magras – Agora em 2015, a programação deve ser ainda mais comedida. Desafiado como gestor pelas restrições financeiras e orçamentárias, Luciano deve limitar a programação.

Exemplo – Voltando ao tema inicial da Coluna. Bananeiras, no Brejo, prova, heróica e criativamente, ser possível fazer uma festa bonita, rica culturalmente, e barata.

Caso à parte – O prefeito Ademir Morais vive um dilema. Luta para manter viva a história do São João de Santa Luzia, um dos mais antigos e tradicionais, diante de recursos muito escassos.

PINGO QUENTE – “A gente não quer ser só convidado pra festa, não”. Do ex-presidente Lula (PT), em recado à Dilma, durante reunião privada com sindicalistas queixosos de falta de diálogo com a presidente.

*Reprodução do Jornal Correio da Paraíba.

 

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