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‪tipo de amnésia

Mulher acorda pensando que é ’17 anos mais jovem’

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publicado em 14/04/2015 ás 16h37

Em um belo dia, há sete anos, a britânica Naomi Jacobs, de 32 anos, acordou acreditando que tinha apenas 15. Na época, os médicos concluíram que ela estava sofrendo de um tipo muito raro de amnésia causada por estresse, a amnésia global transitória.

Essa amnésia foi provocada pelo “fechamento” de uma parte do cérebro da britânica, fazendo com que ela perdesse, temporariamente, os últimos 17 anos de sua vida. Ela, que acabou se recuperando com o passar do tempo, escreveu um livro sobre a experiência, Forgotten Girl (Mulher esquecida, em tradução livre). Em entrevista à BBC, ela contou como foi sua reação ao acordar com a memória de quando tinha 15 anos – e tendo de lidar com a “nova” realidade de mãe solteira vivendo no “futuro”.

“Inicialmente, não reconheci o cômodo, o quarto onde eu tinha acordado, a cama onde eu tinha acordado. Saltei da cama em choque”, conta Naomi sobre o primeiro dia de sua amnésia.

Naomi lembra que sua voz também soava diferente, não soava como a voz de uma adolescente.

“Esta foi a primeira coisa [que notei]. Primeiramente soava estranho, pois eu falava alto e minha voz estava mais grave e rouca. Pensei que ainda estava sonhando quando vi meu rosto no espelho do banheiro.”

E este foi apenas o começo da manhã na qual ela acordou pensando que tinha 15 anos de idade.

“Minha última memória foi de pegar no sono no meu beliche, que dividia com minha irmã, pensando nas provas de GCSE [primeira avaliação importante realizada no ensino secundário britânico]”, afirmou.

‘Mamãe’

Mas os sustos continuariam. Um dos maiores foi quando um menino pequeno correu na direção de Naomi, dizendo: “Mamãe, mamãe”.

“Fiquei totalmente chocada. [Senti] Tudo: de medo a alegria, ver esta criança que eu não lembrava ter dado à luz e saber que, sem dúvida, ele era meu filho, pois se parecia muito comigo, até o terror de ter responsabilidade por esta criança pequena.”

“Nas primeiras 24 horas eu estava completamente em choque, convencida de que eu iria dormir naquela noite e acordar de volta em 1992, o que estava acontecendo, para mim, não era real.”

Outro problema para Naomi era a tecnologia do século 21. Ela não se lembrava de smartphones, por exemplo.

“A última vez em que vi um telefone celular, era do tamanho de um tijolo, aquela coisa grande e cinza com a antena preta. Então: telefones celulares, televisões digitais pareciam saídas de um desenho animado, meus olhos estavam acostumados com as [TVs] analógicas. Análise de códigos [de mercadorias], câmeras de segurança… Tudo era tão alienígena para mim!”

Parte da memória de Naomi dos últimos 17 anos tinha desaparecido. Mas outra parte ainda funcionava. Por exemplo: ela conseguia dirigir e ainda se lembrava de senhas de banco recentes.

“Foi muito bizarro ‘ter 15 anos’ e realmente saber como dirigir. Fiquei com muito medo, não queria estar atrás do volante.”

“Eu lembrava números de telefone. Também havia um número, quatro dígitos, em minha mente, que eram os números [da senha] do meu cartão de débito. Coisas que eram repetidas, memória automática, eu ainda mantinha estas memórias.”

No entanto, Naomi perdeu a memória de “tudo o que tinha a ver com eventos da minha vida, tudo o que tinha alguma conexão emocional, como o nascimento do meu filho, mortes, casamentos…”.

Em 2008, na época do episódio da amnésia, a britânica estava estudando psicologia. Mas sua perda foi tão profunda, que ela precisou da ajuda da irmã e da melhor amiga para lidar com o celular e seu e-mails.

Nova perspectiva

Os médicos afirmaram que, na maioria dos casos de amnésia parecidos com os de Naomi, o paciente recupera as memórias poucas horas depois. Mas a britânica precisou de meses para se recuperar.

Neste intervalo, os médicos recomendaram que ela não forçasse sua memória ou mesmo lesse jornais, para evitar situações de estresse.

“Nos primeiros meses eu tentava desesperadamente entender minha vida. Durante a noite que ficava acordada e chorava, desejando estar de volta à escola, aos tempos em que minhas únicas preocupações eram os meninos de que eu gostava ou ser flagrada bebendo no parque”, disse.

Com a ajuda da família, Naomi começou a se recuperar lentamente. Aos poucos, ela voltou a sair de casa. Familiares e amigos lhe explicaram o que aconteceu no mundo, como os ataques de 11 de setembro de 2001 ou as mudanças políticas e sociais no Reino Unido.

“Facebook, Google e YouTube soavam como se fossem totalmente inventados, e a primeira vez que vi meu filho, Leo, jogando com o XBox e interagindo com a TV, fiquei tão chocada que até cuspi meu chá.”

Naomi mantinha diários e, lendo estas páginas ela começou a reconstruir a própria personalidade, o relacionamento com o filho e até a questionar algumas de suas decisões.

“Com o passar do tempo, flashes de memória voltaram – apenas por alguns segundos, mas estavam lá. As memórias mais recentes voltaram primeiro, então vieram as mais velhas, até minha memória completa voltar.”

Apesar de todos os sustos e o choque de não reconhecer nem o próprio filho, a britânica reconhece que teve uma chance incrível de ver o mundo através dos olhos de uma adolescente.

“Viver tudo de novo através dos meus olhos de 15 anos me deu uma nova perspectiva e me permitiu fazer mudanças, melhorar minha qualidade de vida, para ter certeza de que isso não vai acontecer de novo.”

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