João Pessoa, 25 de janeiro de 2016 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
As boas notas na escola, os muitos livros que devorou durante a adolescência e a convicção de que gostaria de cursar Direito após assistir como ouvinte a uma aula de Direito Penal não deixavam dúvidas de que Lucas Weberling seria aprovado no vestibular enquanto terminava o Ensino Médio.
Outra certeza do capixaba de 18 anos é quem será seu colega inseparável na sala da Faculdade Doctum, na Serra: seu pai, Luis Felipe Soares, que foi aprovado em outra instituição e pediu transferência para a classe do primogênito.
Aos 12 anos, Lucas teve o diagnóstico tardio de Síndrome de Asperger, uma forma mais branda de autismo. “Desde novo ele sempre foi muito inteligente, mas muito sozinho. Não sabia se socializar, se defender. Aos 8 anos foi diagnosticado com TDAH (Déficit de Atenção com Hiperatividade), mesmo não sendo hiperativo nem desatento, ao contrário, prestava atenção em tudo”, conta Viviane Weberling, mãe de Lucas.
Na escola ele era sempre incentivado pelos professores que o consideravam muito inteligente até o diagnóstico ser apresentado. Então a cena mudou e Lucas passou a ser aluno de inclusão. A partir daí o incentivo partiu de dentro de casa. Como ele não gostava muito de brincar, uma das suas atividades preferidas era ler e foi nisso que os pais investiram.
“Passei a incentivá-lo em casa dando livros de presente e sempre o deixando muito à vontade para fazer o que interessasse. A única coisa que nunca permiti foram os momentos de ele ficar sozinho, que é típico da doença. Sempre fizemos tudo em família, desde comer até assistir desenho na televisão”, diz Viviane. “Além disso, sempre conversei muito com ele sobre o autismo, sobre como a sociedade é preconceituosa e que muitas pessoas não iriam aceitá-lo. E que ele precisava se aceitar antes de tudo”, completa.
Com esse apoio, Lucas continuou tirando boas notas na escola, tornou-se autoconfiante e passou no vestibular fazendo a mesma prova e tendo o mesmo tratamento dos demais concorrentes. Viviane, que é advogada, acredita que ele escolheu o curso de Direito porque a via estudando e se interessou. Inclusive frequentou como ouvinte as aulas na faculdade em que ela estudava, e a primeira que assistiu foi a de Direito Penal.
“Normalmente ele ficava bem concentrado e no final da aula dava parabéns para o professor. Se perguntássemos alguma coisa da aula para Lucas, ele respondia tudo com detalhes”, lembra Luciana Lemos, colega de sala de Viviane.
Pai e colega
A aprovação do filho na faculdade resgatou a vontade de Luis Felipe voltar a estudar e de quebra ele ajudará o garoto a superar alguns obstáculos.
“Ficamos com medo porque o curso é à noite e para algumas coisas ele não tem muita maturidade para fazer sozinho, como pegar ônibus. Foi aí que tivemos a ideia dele estudar com o Lucas. O Luis foi aprovado em outra faculdade e pediu transferência, agora eles estão matriculados na mesma sala”, diz Viviane.
A dupla terá de se dedicar bastante aos estudos porque Lucas já traçou uma nova meta: quer tornar-se juiz.
Ig
TURISMO - 19/12/2024