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VIOLÊNCIA NO RIO

‘Volta, meu filho’,se desespera mãe de menino morto por bala perdida no RJ

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publicado em 29/03/2016 ás 11h51

O corpo do menino Ryan Gabriel, de 4 anos, será enterrado na tarde desta terça-feira (29), no Cemitério de Irajá. Ryan foi baleado no domingo (27) em Madureira, Subúrbio do Rio, enquanto brincava na porta da casa dos avós, quando acontecia um tiroteio entre criminosos dos morros da Serrinha e do Cajueiro. A mãe de Ryan, Tayane Pereira da Silva, 20 anos, chegou ao cemitério por volta das 9h40, e estava inconsolável: “Volta, meu filho, ai meu coração, ninguém vai te substituir”, chorava a jovem, que perdeu seu único filho.

Em sua página no facebook, Tayane recebeu consolo de amigos e desabafou sobre a violência na região do Cajueiro e da Serrinha: “Deus ira conforta seu coraçao, sei esta sendo dificil mas voce e forte”, conforta uma amiga. “Pra e eles muito simples o tiro que matou meu filho veio da serrinha e o cajueiro que fica ocupado eles tinha q fica na serrinha”, critica Taiane em outra mensagem.

Nesta segunda-feira (28), a família da criança só conseguiu a liberação do corpo após cinco horas de espera no Instituto Médico Legal (IML). Segundo o laudo da necrópsia, a causa da morte de Ryan foi hemorragia interna, causada por perfuração da artéria subclava direita, provocada por objeto perfuro-cortante. “Achei que fosse mais rápido. A gente sofre para tudo”, explicou um parente de Ryan, que preferiu não se identificar. No IML alguns funcionarios fazem greve.

O avô, Milton do Amparo, também disse estar muito chocado com a situação.  “Muito chocado. Não só a família, como toda a comunidade. Uma tragédia que a gente nunca esperava. A gente vê na televisão e pensa que nunca vai acontecer com a gente”, disse Milton.

Segundo o avô de Ryan, o pai do menino está preso há algum tempo e, ao saber da notícia, foi parar na enfermaria do presídio. “O pai dele está preso já faz tempo. Ele [o pai do menino] ficou muito abalado, foi parar na enfermaria, é pai, né. Ele está lá, mas é ser humano igual a gente. Todo mundo tem sentimento, ainda mais quando é filho”, disse o avô do menino.

Tayane permaneceu todo o tempo de espera pela liberação do corpo do filho sentada em uma mureta ao lado de um jardim, sendo amparada pela família e levantando poucas vezes. Sem condições de falar, a jovem só chorava e lamentava. “Eu perdi o meu filho. Eu não acredito que perdi meu filho”, repetia a mãe.

Em protesto pela morte, a Avenida Edgar Romero, em Madureira, foi fechada na tarde desta segunda-feira. Pelo menos dois ônibus foram queimados no local e, segundo a Polícia Militar, seis suspeitos foram detidos.

Imagens do circuito interno de câmeras do Consórcio BRT registraram o momento em que um grupo invadiu e depredou a Estação Otaviano, no Corredor Transcarioca. Ainda na manhã desta terça, a Estação Otaviano e Vila Queiroz continuavam fechadas e sem previsões de reabertura.

A confusão e ações de vândalos que culminaram na depredação ocorreram por volta de 13h, quando manifestantes tomaram a Edgar Romero em protesto pela morte do menino Ryan Gabriel.

Corpo de menino é velado no Subúrbio do Rio nesta terça-feira (29) (Foto: Fernanda Rouvenat / G1)

Sonhava em ser militar
Milton do Amparo, de 48 anos, avô do menino, conta que tem sete netos, mas Ryan Gabriel era o mais agarrado com ele. O menino o estava visitando quando foi atingido pelo disparo.

“Ele adorava me visitar nos fins de semana, ele gostava de ficar com a gente”, contou o avô, emocionado.

Ryan sonhava em entrar para o Exército desde o último feriado de Sete de Setembro, quando os avós o levaram para ver a parada militar.

“Ele achava bonito marchar, sonhava em andar de moto e naqueles cavalos do Exército. Via os comboios com soldados na rua e falava: ‘Olha o marcha soldado, vovô’. E eu dizia que ele poderia ser um, se estudasse”, relembrou Milton do Amparo.

Tentando realizar o sonho do neto, ele comprou uma motoicleta elétrica no Natal. Por um erro, o brinquedo foi entregue no local errado e a família entrou na Justiça para buscar uma indenização.

“Mesmo atrasado, ia valer a pena receber a moto se ele estivesse aqui. Mas e agora, sem o Ryan? O que vamos fazer?”, perguntou o avô. MIlton contou que Ryan estava ao lado dele quando foi baleado.

Menino Ryan tinha 4 anos e foi baleado na porta da casa da avó, em Madureira (Foto: Reprodução / Globo)

“Quando deu o tiro, eu puxei ele, ele caiu no chão. Quando levantei ele, já tava alvejado com a bala. O médico disse que a bala entrou nas costas e saiu no peito. Num domingo de Páscoa, ninguém acredita que vá acontecer uma coisa dessa. O único ovo que ele comeu foi um coelhinho que eu dei para ele”, acrescentou.

G1