João Pessoa, 07 de maio de 2016 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Com uma bolsa de praia a tiracolo, onde guardava um biquíni para dar um mergulho no mar após a entrevista, Zezé Polessa chega animada ao encontro com a repórter de QUEM, em uma livraria no Rio. Logo pede uma xícara de chá de capim-cidreira. A atriz vive Ascensão em Liberdade, Liberdade, nova novela das 11, da TV Globo. Na história, ela é uma curandeira solitária, com fama de ser “bruxa”, que utiliza seus conhecimentos com plantas para, entre outras coisas, fazer abortos nas meninas de Vila Rica. O assunto, para Zezé, não é tabu. Ela defende a descriminalização do aborto.
Enquanto bebe seu chá, a atriz assume que já interrompeu uma gravidez, quando ainda era estudante de medicina. Na época, ela contraiu rubéola. “A estatística era bem alta para cegueira… Procurei (a direção) do hospital, falei o que estava acontecendo. Eu quis fazer um aborto”, revela ela, hoje mãe de João, 34, de seu relacionamento com o ator Daniel Dantas, 61. A seguir, Zezé fala que a sociedade ainda é preconceituosa quando uma mulher namora um homem mais jovem e que não se importa em fazer uma personagem como Ascensão, desprovida de vaidades. “A gente não é modelo!”
QUEM: Esta personagem é muito diferente das que você vinha fazendo, não?
ZEZÉ POLESSA: Sim! A Ascensão vai falar de um assunto que está superatual em 2016, que é o aborto. E olha que a novela começa em 1792 (a trama atualmente se passa no ano de 1808). Ela é conhecedora de plantas e usa isso para fazer abortos nas meninas que não podem deixar de ser donzelas, para arrumar casamento.
Você é a favor do aborto?
ZP: Sou a favor da vida, dos casais terem seus filhos. Mas acho também que não pode ser um crime. Sou a favor da descriminalização e do apoio do Estado, principalmente em casos em que são mais do que recomendados, como agora com essa epidemia de zika. Sobre as coisas do corpo cada pessoa é que deveria decidir o que fazer.
Você já fez aborto?
ZP: Ah… (longo silêncio) Está bom, vamos falar sobre isso. No sexto ano de medicina, tive contato em um hospital com dois pacientes com rubéola, casos graves, e acabei pegando a doença. Só que estava grávida, no primeiro mês ainda, e nem sabia. Na época, a estatística era bem alta para cegueira e não quis (ter o bebê). Procurei o hospital, falei o que estava acontecendo, que contraí a doença trabalhando. Eu quis fazer um aborto. Aí começou um processo, até que uma hora um médico me disse: ‘”Olha, melhor resolver isso, porque está demorando tanto que você pode se prejudicar”. E fiz. É essa a situação agora das grávidas que contraem zika. Elas precisavam ter apoio médico! Foi uma decisão difícil, mas foi uma decisão. É um direito! Ali era direito meu e dever do Estado e da própria universidade. Como cidadãos, estamos vivendo ainda um momento com pouca assistência do Estado, tanto na saúde quanto na educação.
Você se formou em medicina pela UFRJ, mas não chegou a exercer a profissão. Por quê?
ZP: Primeiro porque eu tinha problemas com sangue, desmaiava vendo cirurgias (risos)! Na pediatria, chorava junto com as crianças. A verdade é que fui fazer medicina porque tinha um tio que era médico. Anos depois, descobri que era apaixonada por ele – que era gordo, careca e engraçado. Antes da medicina, porém, queria ser professora. Fui normalista, me formei para ser professora primária no Instituto de Educação da Tijuca, no Rio. Mas eu gostava de estudar, gostava de filosofia, história, não dava só para ficar no curso de normalista. E já fazia teatro desde a escola. No último ano de medicina, tranquei a faculdade porque já não queria largar o meu grupo teatral. Mas acabei sendo convencida pelo meu pai a me formar, ele dizia que era importante eu ter formação universitária.
G1
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