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Condenação de serial killer de gays põe polícia e apps em xeque

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publicado em 26/11/2016 ás 11h29
atualizado em 26/11/2016 ás 11h30

O inglês Stephen Port, de 41 anos, foi condenado à prisão perpétua pela morte de quatro jovens homossexuais que conheceu em aplicativos e sites de relacionamento.

A condenação do serial killer coloca em xeque a atuação da polícia londrina, que teria ignorado as pistas do criminoso, e levanta dúvidas sobre a segurança destes aplicativos.

Os primeiros crimes vieram à tona no fim do verão de 2014, quando uma mulher que passeava com seu cachorro encontrou, num intervalo de três semanas, dois corpos no cemitério de uma igreja em Barking, no leste de Londres.

Ambas as vítimas, Gabriel Kovari e Daniel Whitworth, tinham cerca de 20 anos, eram gays e morreram por overdose de drogas. Nenhum dos dois morava na vizinhança, e seus corpos foram encontrados na mesma posição.

Na ocasião, a polícia não suspeitou, no entanto, que as duas mortes estivessem relacionadas.

Uma suposta carta de suicídio encontrada ao lado do corpo de Whitworth parecia explicar o que tinha acontecido.

Kovari teria morrido após usar drogas durante o sexo, dizia o texto, e Whitworth, sentindo-se culpado, teria ingerido os entorpecentes para acabar com sua vida, sugeria a carta.

Mas um ano depois, em setembro de 2015, mais um corpo foi encontrado, desta vez do outro lado do muro do cemitério. Novamente, um jovem homossexual, Jack Taylor, também vítima de overdose.

Mas como poderia ser mera coincidência o fato de três rapazes terem sido encontrados mortos a poucos metros um do outro num período de um ano, em condições semelhantes?

A chave para desvendar os crimes estava, no entanto, na morte de Anthony Walgate, que teria sido a primeira vítima do serial killer, em junho de 2014. Seu corpo foi achado a alguns metros da igreja, do lado de fora do apartamento de Stephen Port.

A polícia descobriu que Walgate havia sido contratado como garoto de programa por Port. Após dar diferentes versões para o caso, ele afirmou que o jovem teria morrido após ingerir as drogas que ele próprio teria levado para o apartamento.

Port chegou a ser condenado a oito meses de prisão sob a acusação de tentar obstruir as investigações, e foi solto em junho de 2015, após cumprir dois meses de reclusão, meses antes da morte de Jack Taylor.

A família da Taylor, inconformada com a tese de suicídio levantada pela polícia, começou a conduzir uma investigação própria.

As imagens das câmeras de seguranças – em que a vítima aparecia caminhando, horas antes de morrer, ao lado de um homem -, foram divulgadas. E Port foi então reconhecido por um dos oficiais.

Em 15 de outubro de 2015, ele foi preso acusado de ter assassinado os quatro rapazes. E a cobertura de sua prisão na imprensa levou outros oito homens a contar que tinham sido drogados e abusados sexualmente por Port após conhecê-lo em sites de relacionamento.

Um inquérito apura agora se houve falha nas investigações. Dezessete oficiais estão sob o escrutínio de uma comissão independente que apura denúncias contra policiais. Acredita-se que Port poderia ter sido detido antes.

“As evidências que ouvimos durante o julgamento de Stephen Port mostram que, potencialmente, muitas oportunidades foram perdidas”, diz o comandante Stuart Cundy, da divisão de crimes e homicídios.

Donna Taylor, irmã da última vítima, concorda:

“É terrível, porque se eles tivessem feito o que deveriam e olhassem para os fatos de outra forma, Jack ainda estaria aqui e talvez até mesmo alguns dos outros rapazes.”

O Conselho Nacional de Chefes de Polícia afirma, por sua vez, que os sites e aplicativos de namoro “deveriam assumir mais responsabilidade” no que se refere à proteção e segurança de seus usuários.

E sugere que poderiam exibir mensagens de alerta como “conheça a pessoa, não o perfil” quando os usuários se cadastram, lembrando assim que há muitas contas falsas.

No Reino Unido, o número de pessoas que relatam terem sido estupradas no primeiro encontro por alguém que conheceram online aumentou seis vezes entre 2009 e 2014, chegando a 184 casos por ano, de acordo com a Agência Nacional de Crimes.

E, nos primeiros seis meses de 2016, a Polícia Metropolitana afirma ter recebido 187 denúncias de crimes ligados ao Tinder, app de paquera destinado às pessoas das mais diferentes orientações sexuais, e ao Grindr, um dos mais populares entre o público gay.

Procurado, o Tinder disse que leva a segurança de seus usuários “muito a sério”. Já o Grindr não respondeu.

Confira algumas dicas que podem aumentar a segurança dos usuários de aplicativos e sites de encontros:

– Marcar o encontro em um lugar público que você conheça – e ter um local próximo para ir, se algo der errado.

– Avisar um membro da família ou amigo de confiança para onde você está indo e com quem você vai encontrar.

– Se você se sentir inseguro durante o encontro, vá até o bar, por exemplo, e peça ajuda.

– Não baixe a guarda após o primeiro encontro – continue dizendo a amigos e familiares onde você está indo.

– Considere combinar com um amigo um encontro duplo no mesmo lugar.

– Tenha uma desculpa em mente para o caso de algo ir mal no encontro – como um jantar com a família depois.

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