João Pessoa, 25 de junho de 2018 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
De repente, Wanessa Camargo disse não. Há pouco mais de seis meses, a goiana de 35 anos rompeu antigos contratos com empresários musicais, superou uma fase que classifica como “fundinho do poço” e assumiu, sozinha, as principais escolhas da carreira. Uma reviravolta. O retorno ao universo pop sob a nova configuração deu o que falar: no fim de abril, após dois anos afastada dos holofotes, a artista golpeou a web com o controverso clipe de “Mulher gato”, composição com versos como “Me pega na marra, me amarra, me faz miar / Não dá pra aguentar, pronta pra dar” e “Miau, miau, miau / Leitinho quente quer tomar”. A ideia era mesmo chocar.
— Quero mostrar que estou de volta. Voltei, e venho agora com mais liberdade para falar sobre o que quiser — diz ela, que posou para este ensaio de moda inspirado na heroína felina.
A ousadia em entoar frases de forte teor sexual — acompanhadas de coreografias igualmente sensuais — gerou espanto na família. Zilu Camargo, a mãe da cantora, foi a que mais estranhou. “Você fez todo um rebuliço para lançar isso!?”, perguntou para a filha à época do lançamento do vídeo. O pai, Zezé Di Camargo, elogiou: “Você é arrojada e não se prende a rótulos”, escreveu em mensagem para ela. Hoje, até os filhos de Wanessa (José, de 6 anos, e João, de 3) aprovaram o trabalho que dá o pontapé para uma (nova) reformulação artística — até o fim do ano, uma série de singles ocupará as plataformas digitais (o próximo será lançado no dia 12 de agosto).
— Para os meus filhos, a parte mais chocante da letra é quando falo que quero dar um beijo na boca. Não há nenhuma agressividade ali. Perto de outras músicas que tocam nas rádios, a minha é bem tranquila — defende ela.
Apesar da dependência declarada por Coca-Cola, Wanessa é uma mulher serena, de sorriso fácil. Ao cumprimentar alguém, prefere abraços a beijos. Em casa, conta com a ajuda de uma babá para cuidar da prole, mas é a própria quem leva os pequenos para as aulas de natação e para a escola, na maioria das vezes. Volta e meia, interrompe uma reunião com executivos para apaziguar uma briga entre a dupla. Rígida, proíbe para ambos o consumo de refrigerante.
— Não é porque cresci comendo besteira que eles vão ser iguais — justifica.
A vida em família é a prioridade. Recentemente, ela também desfez a parceria profissional com o marido, o produtor Marcus Buaiz. Desde então, o casamento de 11 anos ganhou impulso.
— Entre altos e baixos, nesse momento, nossa relação está bem boa. Por ele, a gente faria outro filho ontem (risos). Eu é que estou segurando. Agora, preciso fazer minha história acontecer.
A reaparição gradual nos palcos marca um reenlace com o passado. Do mesmo jeito despretensioso com que lidava com os microfones aos 17 anos, quando explodiu com hits como “O amor não deixa” e “Apaixonada por você”, Wanessa jura que ressurge mais leve, sem preocupações com números e cifras.
— A pressão de ser o primeiro lugar mata a gente, sabe? Uma hora, subo. Na outra, desço. Daqui a pouco, estou no quadragésimo, centésimo lugar. De repente, nem estou na lista. E tudo bem! É assim. Depois volto para ali. Ou não — filosofa com segurança, relembrando a depressão decorrente das cobranças da indústria: — Já virei um poço de ansiedade, fiquei deprimida, não dormia direito, chorava com tudo… Passei por todos esses momentos, mas não quero me vitimizar e ficar estacionada. Hoje, meu foco não está mais em ser a número um. Tive que me desapegar disso tudo.
A guinada para a música sertaneja, realizada há dois anos, foi o momento de maior crise pessoal. Hoje, ela percebe que se deixou levar. Não faria igual:
— Para se ter liberdade criativa, é preciso abrir mão do dinheiro. Às vezes, falamos de mercado e nos esquecemos da própria arte. Agora, estou em paz, sem me apoiar em mais em ninguém. Se quiser cantar “Miau miau” ou “Atirei o pau no gato”, eu canto. Sim.
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